Projeto Onda do Saber ocupa espaços criativos em Lauro
A gente nasce com um talento. E esse talento precisa de oportunidade para florescer
Sebastião Salgado (1944-2025)
Em tempos em que a juventude enfrenta tantos muros invisíveis de oportunidades, reconhecimento e de futuro, um grupo de estudantes da Escola Municipal Bartolomeu de Gusmão decidiu construir pontes com celulares nas mãos, câmeras emprestadas e muita vontade de aprender. Eles receberam seus certificados de conclusão do Onda do Saber, um projeto que não entrega só técnica, mas também novas maneiras de olhar o mundo e a si mesmos.
Nascido em 2019, o Onda do Saber foi ganhando força entre as escolas públicas de Lauro de Freitas, cruzando os bairros, ocupando espaços e plantando nos jovens a certeza de que comunicação, arte e tecnologia podem ser ferramentas de transformação.
O projeto cresceu com o rosto, a linguagem e os sonhos da juventude local. Isabel Conceição, uma das educadoras que segura o leme dessa travessia, resume bem, "aqui, a gente não está só ensinando a segurar uma câmera ou fazer um vídeo. Estamos mostrando que eles têm voz, que têm história pra contar, e que isso pode abrir portas, dentro e fora da escola".
Durante semanas, os alunos participaram de oficinas práticas. Aprenderam a fazer entrevistas, produzir vídeos, editar fotos e até criar conteúdo para internet com um olhar mais consciente e criativo.
Bruno Santana, ex-aluno do Bartolomeu, foi um dos monitores que acompanharam os estudantes nessa caminhada, "na minha época, o projeto era bem menor, com menos recursos. Hoje ver essa molecada com equipamento na mão, aprendendo, se dedicando, dá um orgulho danado. A gente sabe o quanto isso pode fazer diferença na vida deles".
Nesta edição, o trabalho teve um cuidado especial em incluir jovens negras, quilombolas e meninas que nunca tinham participado de algo parecido. Tudo feito com o olhar voltado para a diversidade e a inclusão.
Para Isaías da Silva, que também faz parte da equipe de formação, a ideia é ir além das oficinas, "não dá pra falar de juventude hoje sem falar de internet, de vídeo, de produção de conteúdo. Mas a gente quer que eles saibam usar essas ferramentas com consciência, com criatividade e, quem sabe, até como uma forma de ganhar um dinheiro mais na frente".
O envolvimento da escola foi fundamental. Professores, coordenadores e até os funcionários de apoio participaram da construção desse processo. Miguel, outro educador que acompanhou de perto, destacou. "Ver a escola cheia de câmera, microfone, e edição de vídeo acontecendo, foi um clima diferente, leve e com os alunos mais interessados. A gente viu um brilho diferente no olhar deles".
Desde que começou, o Onda do Saber já envolveu mais de 200 jovens da cidade. Muitos deles moradores de bairros como Itinga, Areia Branca, Portão e outras comunidades que carregam em si histórias de luta e resistência.
Até o fim do ano, novas turmas devem iniciar as atividades e a equipe já trabalha na construção de um passo maior: a criação de um coletivo cultural permanente, que reúna os jovens formados para seguirem produzindo, aprendendo e ocupando os espaços da cidade com arte e conteúdo.
Isabel finaliza com um convite direto, "a porta tá aberta pra quem quiser somar. Cultura é isso: é troca, é construção, é dar vez e voz pra quem muitas vezes só era espectador. Agora, eles são os autores da própria história".
Daqui, do nosso Blog Cultural, segue minha homenagem a cada jovem, educador e apoiador que faz do Onda do Saber muito mais que um projeto, faz dele uma semente de transformação plantada em solo de resistência. Que venham novas turmas, novas câmeras, novas ideias e, principalmente, novas histórias para contar. Parabéns a todos os envolvidos e que essa onda nunca pare de crescer.
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Jornalista | MBA em Comunicação | Licenciado em Artes

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