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Caipora nas dunas de Ipitanga



Caipora de Lauro de Freitas - Bahia



A Caipora é uma personagem do floclore brasileiro que habita os  ambientes da natureza com o objetivo de proteger o ecossistema 

 



Em tempos remotos, havia uma jovem professora que morava numa humilde fazenda nas cercanias da Praia de Ipitanga. A cada alvorecer de segunda-feira, era acompanhada pelo seu querido avô até o coração do Vilarejo de Santo Amaro de Ipitanga, para desempenhar sua nobre missão: alfabetizar crianças e jovens em uma escola improvisada, saciando a sede pelo poder do saber. A maioria dos alunos auxiliavam seus pais nas tarefas familiares,  apesar das árduas rotinas, todos se esforçavam para aprender a magia das letras. 

 

A vida na comunidade era com simplicidade, labor e felicidade. A esperança dos pais residia na educação dos filhos e a professora ciente disso, dedicava-se incansavelmente à sua causa, quase como um serviço voluntário.

 




Ao final de cada semana, o avô buscava a professora sempre às 16h30, de sexta-feira, para retornar ao lar. Porém, em um desses fins de semana, a jovem pedagoga, aproveitando um dia particularmente belo, decidiu regressar pela trilha que levava até Ipitanga, um caminho usualmente percorrido a pé, cavalo e por pequenas carroças. Um refúgio da natureza, repleto de cantos de pássaros, mangueiras, cajueiros e goiabeiras sob a proteção da exuberante mata atlântica. Mais próximo a praia, deslumbrantes dunas de areia alvas com suas subidas e descidas em contraste com o Rio Sapato, serpenteando as dunas com seus afluentes.   








 

Ao atravessar as dunas e cruzar um riacho cujas águas lhe chegavam à canela, um evento estranho ocorreu. A professora se viu passando reiteradas vezes pelo mesmo riacho, ouvindo risadas ocultas entre os arbustos e uma voz misteriosa que lhe indicava um caminho, fazendo-a retornar sempre ao mesmo ponto. Assustada e exausta, sentou-se e começou a rezar.

 

Em um momento de urgência, o avô, sabendo que a neta havia tomado o caminho das dunas a pé, montou rapidamente seu cavalo e partiu em seu encalço. Envolvido pela atmosfera mística das terras de Ipitanga, ele sentiu o pulsar de uma presença antiga e sábia. Quando um grito de socorro ecoou através das ondulações da areia, ele imediatamente reconheceu a voz da neta e pensou na Caipora, o ser lendário que permeava as histórias da região. 


Com a sabedoria dos anos e o conhecimento das tradições locais, ele ergueu a voz e ofereceu um tributo não convencional: bolachas de coco, fumo de corda, requeijão e doce de goiaba, era quase tudo que tinha na sacola de couro, acreditando serem estes presentes capazes de aquietar o espírito da Caipora. 








"Temos aqui o que desejas, ó Caipora! Rogo-te, deixa minha neta em paz," clamou ele, com sua voz ressoando no silêncio das dunas. Não demorou para que a neta, assustada reconhecesse de longe a figura segura do avô e como se um encanto fosse quebrado, a professora, ainda trêmula e confusa, avistou seu avô aproximando-se a cavalo. Correu ao seu encontro, soluçando de alívio e contou-lhe sobre as misteriosas ocorrências nas dunas. O avô, com um olhar sábio e conhecedor dos mistérios da terra, explicou que a Caipora, uma figura travessa e protetora da natureza, estava apenas fazendo suas travessuras.

 


Então, num sussurro quase imperceptível, veio a resposta da Caipora: "Posso falar convosco? Não temam, não pretendo causar mal algum. Há apenas uma mensagem que devo transmitir." Com um aceno de consentimento do avô, a Caipora se materializou diante deles, uma aparição quase etérea, agradecendo pelas oferendas e pedindo desculpas pelo susto causado. 







Com um tom solene, a Caipora revelou uma profecia preocupante: "Escutem com atenção, pois as dunas, os rios, as matas e o mar que abençoam esta comunidade de Santo Amaro de Ipitanga estão destinados à ruína, as pessoas desta nobre terra devem fazer algo para mudar o triste destino. Estas paisagens que agora contemplam desaparecerão, consumidas pela ganância humana. A natureza, tão viva e presente, tornar-se-á mera sombra de lembranças. A mãe natureza já lamenta antecipadamente a poluição das nascentes, rios, desmatamentos, extinção da fauna terrestre, pássaros e peixes. Um destino sombrio aguarda, a menos que algo seja feito." Com essas palavras, a Caipora desvaneceu como fumaça ao vento, deixando para trás um legado de advertência e esperança.

  




Desde aquele dia, a professora nunca mais teve medo da Caipora e sempre que passava pelo caminho das dunas pedia licença e com respeito deixava guloseimas para a nobre protetora do meio ambiente, honrando a presença e a força desse ser folclórico, guardiã das veredas e dos mistérios da natureza.  

 

Assim, a professora e a Caipora coexistiram, uma tecendo o saber entre os jovens de Santo Amaro de Ipitanga, e a outra velando pelos caminhos secretos da terra, num equilíbrio recheado de enigmas, entrelaçado com a sabedoria das antigas tradições e lendas do vilarejo.






Autor:


"Lenda da Caipora nas dunas de Ipitanga"


 Márcio Wesley 

Jornalista | MBA em Comunicação e Semiótica | Licenciatura em Artes Visuais.  

Caipora nas dunas de Ipitanga Reviewed by Márcio Wesley on dezembro 24, 2023 Rating: 5

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