A mulher que virava porca
Em um pequeno e mágico vilarejo chamado Santo Amaro de Ipitanga, uma
lenda antiga era contada de geração em geração. A história era sobre uma mulher
que vivia no centro da cidade, na rua da Valeta, próxima da Igreja da Matriz. Ela tinha um segredo muito especial.
Nas sextas-feiras da Quaresma, exatamente à meia-noite, acontecia algo incrível: ela se transformava em uma porca. Não era uma porca comum, mas uma criatura misteriosa, quase mágica, que andava pelas ruas silenciosas. Os moradores, conhecendo a lenda, se recolhiam cedo, mas sempre com um olhar curioso para saber quem era essa tal mulher que se transformava. Existiam suspeitas, mas nada que comprovasse a identidade dela.
Certa vez, um grupo de amigos trabalhou até tarde em uma casa de
farinha, próxima ao Rio Ipitanga, ensacando a famosa farinha da vila, para ser
comercializada no raiar do sol. Estavam tão entretidos que
esqueceram da hora. Quando terminaram, já era quase meia-noite.
Ignoraram a lenda e seguiram caminhando para suas suas casas, brincando sob a luz da lua, quando ouviram um ronco suave. Inicialmente, pensaram que era apenas um animal perdido, mas o ronco ficou mais forte.
De repente, uma grande porca apareceu no caminho deles! Os três amigos foram perseguidos pelo animal de dentes afiados. Correram desesperadamente e se jogaram em um córrego. A porca percebendo toda cena, começou a rir de um jeito muito humano, observando o ocorrido.
Os amigos ficaram ali, deitados na água gelada, com frio e pânico durante
a madrugada, seus gritos de socorro mantiveram os moradores ainda mais assustados,
ninguém tinha coragem de enfrentar a admirável porca. O dia já estava amanhecendo quando a porca correu
em direção da Igreja Matriz.
Ao voltarem para as suas casas, contaram o que tinha acontecido. Alguém observou que o riso da porca lembrava o de uma vizinha, que naquela manhã acordou tarde, falando que teve uma indigestão noturna.
A história da mulher-porca tornou-se ainda mais fascinante em Santo Amaro de Ipitanga, sobretudo nas sextas-feiras da Quaresma, onde as ruas durante as noites ficavam calmas e silenciosas. Crianças cresceram ouvindo essa história e os mais velhos juravam ouvir durante as noites um ronco distante e um riso inexplicável.
A mulher-porca, é um espelho das inúmeras narrativas que permeiam a cultura brasileira. Ela nos lembra de que, em cada canto do mundo, existem lendas e costumes que, apesar de diversos, compartilham uma essência comum: a necessidade de pertencimento com as nossas raízes.
Com este conto baseado no folclore popular local, não estamos apenas mantendo viva a memória ancestral, estamos cultivando um solo fértil para que as futuras gerações possam perpetuar o passado. A preservação cultural é um ato de resistência contra o esquecimento, uma afirmação de que, apesar das mudanças inevitáveis do progresso, há caminhos que nos ligam ao passado.
Autor:
"A Mulher-Porca de Santo Amaro de Ipitanga"
Márcio Wesley
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