Paixão de Itinga - “A arte nos lembra que estamos vivos”
Por Márcio Wesley
Durante a Semana Santa a turma cultural de Itinga estaria a todo vapor em torno da produção da Paixão de Cristo, que movimentava a cena artística com primazia, talento, emoção e fé. Infelizmente a pandemia pausou o espetáculo que há 25 anos encanta a nossa gente, entretanto, a paixão está viva assim como o nosso bom Jesus. E para falar sobre este importante projeto convidei um amigo de longa data, o produtor e artista multicultural Tarcísio Andrade, 33 anos, nascido e criado em Itinga, filho de dona Terezinha, bacharel em Comunicação Social e licenciando em História.
Moro em Lauro desde sempre...
Nasci
no Hospital Menandro de Farias e fui criado na Itinga, vivi toda a minha
infância e adolescência nos arredores do Largo do Caranguejo, onde minha mãe
tem um comércio há 40 anos. Gosto da nossa cidade pela proximidade entre os
centros comerciais e de serviço e os ambientes de lazer, como as praias. Aqui
nós temos de tudo e mais um pouco. Além do mais, tenho ainda a possibilidade de
conviver com amigos e amigas, em especial, as pessoas mais velhas que fazem
parte da minha vida desde que eu me entendo por gente.
Paixão de Cristo...
Eu ainda
era uma criança e, encantado, decidi participar da Igreja e da Paixão, lembro
que eu tinha 13 anos. Esse espetáculo de fé surgiu inspirado na liturgia da Via
Crucis, ato realizado pela Paróquia Nossa Senhora Aparecida e Santa Catarina de
Sena aqui de Itinga, desde antes da sua fundação. Com o passar dos anos, os
membros de grupos de jovens começaram a incrementar as encenações itinerantes
que aconteciam, geralmente, no percurso entre o Parque Santa Rita e a Igreja
Matriz, próximo ao Largo do Caranguejo. Em 1997, a encenação foi organizada com
a participação de vários grupos e passou a ser realizada em um lugar fixo.
Um dos espetáculos mais antigos da cidade...
São
mais de 25 anos de encenação e, ao longo desse tempo, a montagem foi realizada
no Largo do Caranguejo, na quadra da Escola Municipal Eurides Santana (antigo
SESI) e também, na quadra da Associação São Norberto (ao lado da Igreja Matriz
de Itinga). A Paixão de Cristo de Itinga me conduziu ao teatro, me levando a
trabalhar com produção artística e cultural desde os meus 15 anos, até hoje
faço parte desta paixão. O espetáculo tem uma grande relevância na nossa
comunidade, fomentando e proporcionando o desenvolvimento de dezenas de
profissionais multiculturais da dança, teatro, circo e música.
Oficinas culturais...
Ao
longo do ano promovemos uma formação técnica em artes-humana-cidadã.
O que se concretiza como uma das mais importantes contrapartidas sociais desse
projeto que além de tudo é um ato de fé e carinho com a cidade e, em especial,
com o bairro de Itinga, como dizia o Padre Miguel, pároco responsável pela
estruturação da Paixão de Cristo, ao lado de Seu Francisco, que atuava como coordenador
paroquial. Atualmente realizamos as oficinas preparatórias durante os quatro
meses que antecedem as apresentações e a montagem do espetáculo na quadra da
Associação São Norberto, com a participação de mais 130 pessoas: entre elenco,
produção, cenografia e figurino. E com um público diário de 400 pessoas. Mas já
contamos com 500 pessoas somente na construção do espetáculo, na época do SESI e com público de mais duas mil pessoas por
apresentação, quando apresentávamos no Largo do Caranguejo com as arquibancadas
móveis.
Estamos sobrevivendo...
Ano
passado ainda cogitou-se apresentar a Paixão de Cristo, mas não foi possível.
Com o agravamento da crise sanitária, não realizaremos o projeto esse ano.
Estamos aguardando ansiosos pela vacinação em massa, para que possamos retomar
nossas atividades, inclusive, as oficinas e montagem da Paixão.
Tivemos
um projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc e, com esse recurso, estamos
organizando um documentário através do qual registraremos um pouco da nossa
história. Como o projeto prevê um conteúdo de apenas 30 minutos, estamos
planejando continuar a coleta de material e a ampliação desse produto
audiovisual após a execução dessa construção ligada à Aldir Blanc.
A arte é um instrumento de ressignificação...
Percebemos
isso claramente, quando, por exemplo, estamos diante de uma situação de vida
tão vulnerável e caótica, como tem sido esse tempo de pandemia. Os produtos
artísticos irrompem as barreiras impostas pelo distanciamento social e pela
depressiva forma de viver com medo de adoecer e morrer. O protagonismo está
sendo exercido, em especial, pelas construções do audiovisual que tem sua
audiência no ambiente digital. A arte que vive do presencial, como o teatro,
circo e parte do que é feito na música e na dança, tem se adaptado a essa nova
realidade. Estamos aprendendo como fazer arte e fomentar a cultura durante a
pandemia. Esse esforço dá significado a nós trabalhadoras e trabalhadores da
arte e da cultura, impactando positivamente na vida das pessoas que consomem o
fruto do nosso fazer artístico e conseguem, de alguma forma, equalizar suas
mentes e almas. A arte, de forma
profunda, nos lembra que estamos vivos, afasta o medo, nos faz pensar e planejar
dias melhores.
Considerações finais...
Agradeço à C.R.I.S.T.O – 'Comissão para a realização de intervenções sociais, teatro e oração' pela dedicação ao projeto Paixão de Cristo de Itinga. Ao longo dos anos foram e são muitas mãos e vozes: Padre Miguel, Seu Francisco, Gueu, Rita, Luzia, André, Débora Luisiana, Márcio, Cláudio, Fábio Barros, Tony Ferreira, Juciana, Falcão, Rubenval Menezes, Deninho e Cláudio Márcio Pessoa. Gostaria de agradecer ao amigo Márcio Wesley pela oportunidade de tratar dessa pauta tão importante. Espero que em 2022, possamos estar juntos e que tenhamos bons projetos como a Paixão de Cristo de Itinga, marco das artes cênicas e dentre outras atividades culturais sendo executados na nossa cidade. Contando sempre com a cobertura de toda a imprensa nessa parceria bacana entre as trabalhadoras e trabalhadores da arte e da cultura e os meios de comunicação social.
*Fotos do arquivo de Tarcísio Andrade e da Ascom/PMLF
Márcio Wesley | DRT/BA 5469

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