DONA BADINHA: TRADIÇÃO E RESGATE DA CULTURA POPULAR
Por Márcio
Wesley
Diz à lenda que a escrava
Catarina, grávida, desejou comer a língua do boi preferido da fazenda do rico senhor.
O marido Francisco, para atender ao desejo da mulher, matou o boi. A revolta foi geral e o senhor manda prender Francisco e buscar um pajé para ressuscitar o
bicho. O boi renasce e Francisco é perdoado, tudo acabou em festa.
Em
algumas cidades do nordeste a cultura do Terno de Reis é comemorada com o Bumba-meu-boi. A festa oficial acontece na maioria das cidades em Junho, logo depois
do São João, porém, como a cultura nordestina é atípica e pluralista, tudo é
possível. Muitas cidades comemoram a festa próximo ao nascimento de Cristo, em
dezembro. Mas o importante mesmo é comemorar, se divertir, reunir os amigos e a
comunidade numa linda manifestação cultural. No nosso município a manifestação
estava esquecida por quase uma década, mas graças à Comissão de Festejos da
cidade, a tradição voltou às ruas com força total. A festa é comanda por Dona
Badinha, moradora do centro de Lauro de Freitas, uma personagem folclórica do
município.
Ela
é a mestra de canto popular que ajuda a entoar e relembrar os versos alusivos
ao Terno. O cortejo visita as casas dos moradores mais antigos improvisando
cânticos em homenagem ao anfitrião. A cantoria é engrossada por pessoas que se
juntam ao Terno, casa por casa pelas ruas do Centro.
O grupo chega sempre tarde da noite. Para em frente à porta e inicia os
cânticos e as danças. Os visitantes são agraciados com ofertas de bebidas e
guloseimas. Os donos da casa tem que dançar com o boi, que acaba empolgando as
crianças.
Dona
Vivaldina Santos Conceição de 62 anos é filha da terra e conhecida na
comunidade como dona Badinha. Ela participa de movimentos culturais em Lauro de
Freitas desde pequena, e lembra que percorria as ruas do bairro e as casas de
taipa da antiga Santo Amaro de Ipitanga, para comemorar os festejos de Terno.
"A tradição desta festa começou há muitos anos atrás, minha mãe
participava desde jovem. Aprendi os cantos antigos e as danças com ela.
Antigamente o Terno de Reis era comemorado não só com o bumba meu boi, mas
também com a burrinha, depois a pescada, o papagaio e o corcunda, cada ano um
terno diferente", explica dona Badinha.
A volta da festa de Terno Reis e
do Bumba-meu-boi foi um projeto organizado pela comissão de festejos e resgate
de festas populares. "Estamos aqui para cuidar da
nossa cultura e das festas da nossa cidade. Já estamos montando um calendário
com todas as festividades do ano. Nossa
próxima empreitada é o carnaval e o São João, que há anos estão esquecidos".
Concluiu Sinaldo, membro da Comissão. O produtor cultural Artêmio da Luz, apoia
a iniciativa, "estou surpreso em ver o Bumba-meu-boi, Dona Badinha e a
comunidade participando desta festa que estava perdida”, comemorou o artista.
(Jornal Expressão, 2005)
Márcio Wesley | DRT/BA 5469

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