O PÉ DE OITI FAZ PARTE DA NOSSA HISTÓRIA

 

 Márcio Wesley

 

O famoso pé de Oiti  

  Oitizeiro, ou oiti, é uma árvore procedente das restingas costeiras do Nordeste brasileiro, associada à Floresta Pluvial Atlântica. Para quem quiser arriscar chamá-lo pelo nome científico, o nome é "Licania Tomentosa Benth". O oiti é recomendado especialmente para arborização de áreas urbanas, por oferecer uma copa frondosa, uma sombra maravilhosa. Seu fruto tem uma casca amarela mesclada com verde quando está maduro, medindo cerca de seis a oito centímetros de comprimento. O tronco é de madeira dura e de longa durabilidade, utilizada no passado para fabricação de postes e construção de barcos. 

Em Lauro de Freitas, a história do Pé de Oiti, como é chamado carinhosamente pelos moradores mais antigos, começou em 1923, com seu Gonçalo, já falecido. Um comerciante da localidade, dono de um barzinho próximo, foi ele que plantou a famosa árvore. Com o passar dos anos e com o crescimento do oitizeiro, seu Gonçalo aproveitou a arrebatadora sombra para espalhar mesas e cadeiras, fazendo daquele um ponto de encontro da comunidade. Os mais antigos dizem que o barzinho era popular e que nos finais de semana sempre rolava uma festança ao som do samba-de-roda. 

Em diversas entrevistas que fiz com moradores antigos muitos relataram que o Pé de Oiti era um ponto cultural com encontros festivos com samba-de-roda. Na minha infância foi ali que eu presenciei pela primeira vez um trompetista. Ele estava de olhos fechados, numa viagem interna, um copo de cerveja ao lado para molhar a garganta, chapéu de palha e tocando clássicos do samba, como "jazzista" brasileiro, acompanhado por percussionistas, fiquei hipnotizado com aquilo. Na minha juventude costumava me reunir com os amigos durante a noite para jogar conversa fora, rir e apreciar o movimento. Os mais velhos todos os dias de tarde se encontravam para jogar partidas de dominó. Não podemos esquecer da tradicional "Lavagem do Pé Oiti", que acontece sempre no último sábado de dezembro, com cortejo cultural, baianas, participação popular e shows saudando a história do nosso marco cultural.               

No decorrer da história, várias foram as tentativas de derrubar a famosa árvore, mas ela resistiu e, com a força da população, não foi sacrificada em prol da modernidade. O oiti é o símbolo ecológico do município, e só por aí já se percebe a importância que a árvore tem para os moradores. Além de proporcionar toda a beleza natural na Praça Martiniano Maia, onde foi plantado, o oitizeiro é um dos pontos mais frequentados da cidade. Quem quiser saber as novidades mais quentes, os últimos 'fuxicos' sobre a vida alheia, além de dados políticos minuciosos, é só passar por lá.

No final da tarde, um badalado happy hour movimenta muita gente em tomo dele. Tudo é muito organizado, um verdadeiro 'point' com boa comida, bebida e bate-papo. Os tradicionais quiosques oferecem de tudo, mas o 'Churrasquinho de Fafau' agita as noitadas, atraindo pessoas de todas as classes sociais. O pequeno empresário diz que começou seu negócio em 2004 e que nem sonhava com o sucesso, pois não era sua pretensão. Mesmo assim, seu churrasquínho virou uma febre e um atrativo gastronómico. Funcionando de terça a domingo, a partir das 17h, com um cardápio diversificado e disputado entre os frequentadores. Para ele o Pé de Oiti é sua vida. "Nasci e fui criado nessa terra, sempre tive uma relação de carinho com essa árvore. Quando era criança brincava e fazia as lições da escola debaixo dele", lembra com saudade.  (*Fafau faleceu um ano após a entrevista).

                                                                                       

                                                                                           (Villas Magazine, edição115, 2008).

 Márcio Wesley | DRT/BA 5469

 Jornalista | MBA em Comunicação 

 e Semiótica na linguagem artística 

 Licenciatura em História (em curso)