O que se espera da gestão cultural

Por Márcio Wesley

Ao longo de quase 30 anos de entrevistas com personalidades artísticas de Lauro de Freitas, um tema recorrente tem sido a importância de uma gestão cultural conectada à comunidade artística e comprometida com a inclusão social. 

No livro-reportagem que escrevi, "Teatro Comunitário - resistência iluminada", em 2022, os entrevistados destacaram como a gestão cultural pode transformar realidades, desde que conduzida com pertencimento e visão estratégica. 

Participei de diversas rodas de conversa, conferências, fóruns culturais e me aprofundei em leituras sobre o tema. Nessas experiências, ficou evidente que a demanda por uma gestão cultural verdadeiramente alinhada às raízes locais não é apenas necessária, mas urgente. 

Trata-se de uma abordagem que respeite e valorize as particularidades da comunidade, promovendo um sentido de pertencimento e fortalecendo a identidade cultural.

Este artigo apresenta um panorama do que a comunidade espera de uma gestão cultural, especialmente  no município de Lauro de Freitas.

Desafios...

Com pouco mais de 50 km², Lauro de Freitas se destaca como um caldeirão de expressões culturais, apesar de sua pequena extensão, a cidade carrega uma história de mais de quatro séculos e uma população diversa, com mais de 200 mil habitantes.

O samba de roda das Beijuzeiras de Areia Branca 
carrega a história da cultura popular de nossa cidade 

Esse contexto exige uma gestão cultural robusta, que reconheça a cultura como vetor de transformação comunitária, turismo, promoção da educação, geração de renda, preservação da memória e o fortalecimento da identidade local.

A trajetória da Secretaria de Cultura de Lauro de Freitas (SECULT) expõe desafios significativos. Quando submetida a interesses políticos, a secretaria tende a se distanciar de sua missão central de promover uma gestão cultural eficiente.

Cargos estratégicos, que deveriam ser ocupados por técnicos qualificados e experientes nas demandas culturais, acabam, muitas vezes, sendo entregues a servidores sem vínculo ou identidade com as artes, comprometendo a qualidade e a efetividade das políticas culturais.

Para reverter esse quadro, é essencial que a cultura seja tratada como uma área estratégica, alinhada diretamente aos interesses de quem produz arte.

É necessário fomentar projetos inovadores que dialoguem tanto com os movimentos das artes contemporâneas quanto com a preservação das manifestações culturais que compõem nossa história e identidade.

Perfil de gestão 

A escolha de gestores culturais no setor público deve priorizar não apenas a qualificação técnica, mas também o envolvimento com as lideranças culturais e o compromisso com políticas inclusivas.

Segundo Célio Turino, idealizador dos Pontos de Cultura no Brasil, “uma gestão cultural eficiente articula agentes culturais, promovendo redes colaborativas que fortalecem a identidade local e geram impacto econômico.”

Gestor cultural 

1. Qualificação técnica,  formação ou experiência comprovada na área cultural.

2. Diálogo com a comunidade, capacidade de ouvir e integrar demandas locais.

3. Visão estratégica, habilidade de conectar cultura com turismo, educação, formação de plateia, economia (renda e trabalho) e preservação.

4. Isenção política partidária, garantindo uma gestão independente de interesses eleitorais.

         

Conclusão

A gestão cultural em Lauro de Freitas deve ser um exemplo de como a cultura pode ser transformadora. Para isso, é essencial investir em pessoas qualificadas, conectadas com a realidade local e comprometidas com um futuro em que a cultura não seja apenas um adorno, mas um pilar fundamental do desenvolvimento humano. 

Afinal, como diria Darcy Ribeiro, “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.” Precisamos lutar pelas mudanças. Não dá para imaginar que só teremos "inimigos da cultura", algo precisa mudar.

A comunidade cultural deseja uma gestão que valorize a riqueza artística e histórica da cidade, que seja apta a construir um legado de pertencimento e capaz de transformar a cultura em uma jornada de boas políticas públicas.

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Márcio Wesley 

Jornalista | MBA em Comunicação | Licenciado em artes