Itinga mais de 500 anos de ancestralidade
De um sonho...
Sonhei que estava sendo conduzido por uma família indígena, seus passos calmos entre as folhas secas me guiavam numa densa floresta, como convidado ou viajante de um outro tempo. Fiquei admirado com as belezas naturais daquele lugar. O guerreiro à frente, com uma lança em mãos, movia-se com quem conhecia cada segredo da mata. Numa fila, eu estava entre eles. Uma mulher carregava, em um cesto preso às costas, uma criança que repousava tranquilamente. Dois jovens nos seguiam, a juventude em seus olhos refletia vida e a continuidade de uma tradição.
Enquanto caminhávamos, os cantos dos pássaros preenchiam a atmosfera, como se toda natureza estivesse em harmonia, celebrando nossa passagem. O som de um rio correndo discretamente entre a vegetação chamou a minha atenção, logo em seguida, nos deparamos com uma visão que parecia sair de um conto antigo: um belo rio vivo e nele dezenas de crianças brincando, rindo, ao lado de anciões que, com sorriso sereno, observavam a cena com um misto de alegria e sabedoria.
O
lugar era mais do que uma floresta; era um verdadeiro santuário onde o tempo
parecia não existir. “Que lugar lindo”, pensei. E, como se meus pensamentos
fossem ouvidos, um homem, com um cocar e semblante carregado de sabedoria, aproximou-se.
Seus olhos, pareciam conter a memória daquele lugar, fixaram-se nos meus, e
com uma voz que parecia brotar da terra, disse apenas uma palavra:
"Itinga".
Acordei,
trazendo comigo a sensação de ter tocado, ainda que por um breve instante, a
essência de um tempo onde a natureza e o espírito humano viviam em perfeita consonância.
Segue a inspiração do sonho...
Em um tempo onde o progresso ainda não era uma realidade no território conhecido por Itinga, bairro de Lauro de Freitas, outrora Frequesia de Santo Amaro de Ipitanga, nada do que conhecemos desta atual comunidade existia. Os primeiros moradores foram os povos indígenas, filhos nativos que a batizaram a região de Itinga, que quer dizer "água branca" em sua língua ancestral, em reverência ao rio luminoso que atravessava seu coração, espelhando o brilho do sol e da lua em seu curso de origem.
A vida florescia em uma sinfonia de cores, sons e movimentos naturais, sob a guarda atenta dos povos originários, que caminhavam em harmonia pelas matas. Eles conheciam os segredos das plantas, os idiomas dos animais e as canções das águas. Guardiões da sabedoria que fluía tão livremente quanto o balanço das grandes árvores, vivendo a existência com respeito e equilíbrio.
Nesta
Mata Atlântica viviam pássaros de todas as cores e cantos celebrando cada
amanhecer. Eram garças, tiês, tucanos, araras, corujas e beija-flores, todos
convivendo com cumplicidade entre as serpentes nativas: jararacas, jiboias,
sucuris e as coloridas corais. Além do mico-leão-dourado, bicho-preguiça e as
jaguatiricas, felinos parecidos com onças. Todos juntos com os sapos-cururus,
rãs, jacarés e uma diversidade de peixes como dourado, pacu, traíras e
camarões. Itinga era uma terra de abundância, onde cada ser vivo, cada planta,
cada gota de água era um louvor à vida.
Mas
a chegada dos invasores no século XVI, mudou o curso da história.
Eles não compreendiam a linguagem do respeito e do equilíbrio, enxergavam
apenas riquezas naturais a serem exploradas. As florestas foram desbravadas, as
águas turvadas e o canto harmonioso da vida abafado pelo clamor da ganância. Os
primeiros povos, nossos sábios filhos desta terra, foram oprimidos, viram seu
mundo transformado e suas tradições desafiadas.
Ainda
assim, como a água que sempre encontra seu caminho, a essência de Itinga e de
seus originários uniu força com as tradições dos povos africanos, irmãos de
luta e resistência. Transformou-se, mas não se apagou! Nas expressões
artísticas de hoje, vemos a diversidade sendo representada (lutando e
resistindo ao tempo) nas vozes do passado ao lado do presente.
A
nossa Itinga é um mosaico vivo de memórias e sonhos, onde as raízes culturais encontram
as realidades de um bairro em transformação. Os desafios são muitos, mas a
força da história e a resiliência dos seus moradores mantêm viva a esperança de
um futuro onde a herança ancestral seja sempre respeitada e preservada.
Que
as novas gerações lembrem e honrem os primeiros povos, os verdadeiros guardiões
desta terra. Que Itinga continue a ser um santuário da cultura e força de um
povo, em cada história, em cada canto e em cada coração.
Viva Itinga!
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Márcio Wesley
Viva Itinga! Viva quem valoriza, e recompõe a história!!
ResponderExcluirViva...
ExcluirParabéns!!!!!!
ResponderExcluirObrigado
ExcluirFui professora há anos nesse Bairro de Lauro de Freitas e tive o maior orgulho em passar informações sobre a disciplina de História.Alunos cidadãos que até hoje, depois de aposentada, tenho eles como filhos de coração..
ResponderExcluirQue saudade daquele tempo!
Parabéns professora... Viva ao legado educacional e o reconhecimento...
ExcluirParabéns pelo belíssimo artigo👏🏻👏🏻👏🏻. São relatos como esse que deixam registrado na história, o que a experiência nos permitiu vivenciar✨
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