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A Mulher de Branco em Lauro de Freitas




Lenda da Mulher de branco






Nos anos de 1970, Lauro de Freitas, ainda suspirava os últimos ares de Santo Amaro de Ipitanga, vivendo um ritmo sereno de uma vila recém emancipada. Era um tempo em que os rios, veias pulsantes da cidade, corriam reluzentes e abraçados por uma natureza exuberante. O progresso ainda era uma promessa distante no horizonte, e as estórias que brotavam nesse cenário eram tão ricas quanto a terra sob os pés de seus poucos habitantes.  

 

Mas, como em todas as histórias de transformação, a passagem do tempo trouxe consigo o avanço implacável da modernidade. O progresso, com seu ímpeto e promessas, abriu caminhos através da cidade, trazendo o boom imobiliário que, embora sinalizasse crescimento, também desencadeou consequências indesejadas.

 

Os rios, outrora abundantes em vida, começaram a sofrer sob o peso da poluição, e a natureza, que antes generosamente compartilhava suas dádivas, viu-se encurralada entre o concreto e o asfalto. A antiga Santo Amaro de Ipitanga foi se apagando... 


No entanto, apesar dessas mudanças irreversíveis, as estórias e lendas, sementes dos tempos simples, continuam a germinar nos nossos corações. Uma dessas lendas nutrida pela memória, ainda resiste ao desgaste do tempo e à erosão da modernidade.

 



Lenda da Mulher de Branco




A Mulher de Branco... 

 

Naquele tempo, início da década de 70 já tínhamos luz elétrica e água encanada vagarosamente. Lauro de Freitas, embora emancipada, ainda sussurrava ao som de Santo Amaro de Ipitanga. Lamentavelmente as aparições místicas que rondavam a vida dos moradores foram diminuindo misteriosamente. 


Os mais antigos diziam, que as tais personalidades que faziam parte do cotidiano foram sumindo, aborrecidas com o nome dado ao território em 1962, que passou a se chamar Lauro de Freitas, um importante político que faleceu num terrível acidente aéreo, mas que nada tinha haver com Ipitanga. A mudança foi vista pelos pacatos filhos da terra como uma ingrata supressa, uma flexada nos seus corações. Todos preferiam continuar com o nome raiz, Santo Amaro de Ipitanga. Mas a força política baseada no coronelismo falou mais forte.      

 


Conto da Mulher de Branco



Essa estória que iremos contar aconteceu com um jovem  universitário, que na ocasião tinha 22 anos, após uma noite agitada ao lado dos amigos em um pequeno boteco, onde a principal diversão era jogar conversa fora e partidas de dominó, se deu todo o enredo. 


Por volta da meia noite, o estudante decidiu ir para casa sob o manto estrelado e a luz do luar. Ele caminhava pelas ruas adormecidas lembrando da alegria e da camaradagem com os amigos, carregando consigo o calor da companhia e os ecos de uma noite divertida.



Conto da Mulher de Branco


Seus passos, embalados por um espírito leve e despreocupado, guiaram-no pelas charmosas ruas de paralelepípedos que, como veias de pedras, conectavam os corações dos que ali residiam. A Rua Romualdo de Brito, que antes se chamava Rua da Lama, era um caminho familiar e acolhedor. Estendia-se diante dele como um convite a mergulhar ainda mais profundamente na noite que, embora avançada, parecia abraçá-lo com uma brisa suave e um silêncio contemplativo.


À medida que avançava, cada passo parecia contar os paralelepípedos, tecendo uma melodia suave que se misturava aos sussurros da noite. As sombras dançavam delicadamente ao redor, criando formas efêmeras que apenas a imaginação poderia definir. E assim, envolto nesse cenário, o jovem encontrou-se na Praça da Matriz, um lugar onde o tempo parecia repousar, observando a vida desdobrar-se com uma paciência eterna.




Lenda da Mulher de Branco


A praça, convidava ao um rápido repouso. Foi ali, sob o olhar benevolente das árvores e estrelas, que o jovem, rendido ao cansaço e à serenidade do lugar, permitiu-se descansar sob um pé de jamelão, entregando-se aos braços de um sono leve e reparador. 


Nesse limiar entre a vigília e o sonho, onde o  real e o fantástico se entrelaçam, o jovem cedeu ao chamado do repouso, entregando-se ao abraço do sono. Mas o véu da noite ainda tricotava surpresas; ao despertar, encontrou ao seu lado uma figura celestial, uma jovem de beleza deslumbrante, cuja presença parecia desafiar a lógica da realidade. 



lenda da mulher de branco


"Estou sonhando, ou a luz da lua trouxe você até mim?" indagou, tomado pela mistura de admiração e incredulidade. Ela, com uma voz que parecia uma brisa, assegurou sua presença real, dizendo ter sido movida pela preocupação ao vê-lo entregue ao sono. O ar em volta da linda moça estava impregnado com um perfume de rosas, um aroma tão puro e envolvente que o rapaz sabia nunca ter sentido antes.


O jovem, sob o feitiço de seu encontro, não conteve o encanto, "sua beleza ofusca as estrelas desta noite". Palavras de um coração embalado pelo momento. 


Insistiu então, movido por um impulso cavalheiresco, em acompanhá-la até seu lar. Ela carinhosamente aceitou, e juntos, se abraçaram como namorados apaixonados em direção a igreja, sob a luz da lua.



conto da mulher de branco


Mas, observando de longe, um senhor testemunhava a cena com olhos marcados pela incredulidade. Via apenas um rapaz, em solitária conversa, braços entrelaçados com o vazio, caminhando rumo à silhueta imponente da Matriz. "Será que a noite o embriagou a ponto de encontrar companhia na solidão?" - Pensou, sem desvendar o mistério.


Ao se aproximarem do sombrio portão do cemitério, localizado no fundo da igreja, uma aura sobrenatural surgiu ao redor daquela figura de fascinante beleza, um vento soprou e começou a ondular o véu da realidade na penumbra que acalentava o limiar entre os vivos e os que já partiram. 


A jovem, que até então parecia um anjo terreno, revelou a verdade oculta sob sua aparência celestial. Com uma suavidade perturbadora, seu rosto, antes símbolo de pura beleza, se transformou num esqueleto, revelando que sua casa era entre as almas que repousavam além do portão do cemitério.


Conto da Mulher de Branco


O rapaz, cujo o coração batia ao ritmo da mais pura admiração e encanto, viu-se imerso em um redemoinho de terror e incredulidade. A linda dama, que com sua fragrância de rosas e palavras suaves havia tecido um breve sonho, transformou-se em um terrível pesadelo. Enquanto ela se afastava, desvanecendo-se na escuridão que abraçava os antigos túmulos, deixou para trás não apenas o sopro de sua existência, mas também, um véu de mistério que, desde então, envolveu a noite na Praça da Matriz. 


O rapaz, atordoado e com a alma tomada por um frio que nenhum vento noturno poderia causar, voltou para o seio da cidade. Suas pernas mal sustentavam o peso de sua confusão e medo. 


Essa lenda permaneceu nos sussurros, conversas e nos encontros noturnos, lembrando a todos sobre a importância de resguardar os mistérios que residem nos cantos esquecidos de nossa comunidade.


Lenda da mulher de branco


Em Lauro de Freitas, a história da Mulher de Branco serve como um lembrete de que, mesmo diante da fatalidade do progresso, as raízes de um povo e as histórias que definem sua identidade devem ser cuidadosamente guardadas e transmitidas de geração em geração, como um farol de memórias.




Autor:


"A Mulher de Branco"   


 Márcio Wesley 

Jornalista | MBA em Comunicação e Semiótica | Licenciatura em Artes Visuais. 

A Mulher de Branco em Lauro de Freitas Reviewed by Márcio Wesley on fevereiro 29, 2024 Rating: 5

3 comentários:

  1. Márcio, nosso mega ultra super artista, adoro teus contos. Parabéns, militante guardião da nossa cultura! E parabéns também para o ilustrador!

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  2. Muito lindo, Confrade! Escrita precida, estoria precisa e enlevante! Eu já leio, mesmo que você não saiba, os seus contos aqui publicados. São uma maravilha de deleite! Deus abençoe a sua arte!

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