Extraterrestres no Aeroporto Dois de Julho

Na década de 1950, quando a tecnologia ainda engatinhava, sem celulares ou internet, o céu e as estrelas eram um convite aos mistérios. A Vila de Santo Amaro de Ipitanga vivia um epicentro de histórias fantásticas neste período.  

Numa certa madrugada chuvosa uma ocorrência extraordinária transcendeu o cotidiano da região, eternizando-se na memória de poucos, ou melhor, de uma única testemunha.  

 

Este episódio instigante aconteceu no Aeroporto Dois de Julho, herança da época em que Santo Amaro de Ipitanga pulsava sob a batuta de Salvador, que o inacreditável se desenrolou. Este lendário campo de pouso, marcado pela história desde 1925, moldado pelas mãos dos franceses, que deram início de uma era que uniu os continentes através da aviação.

 

No início dos anos de 1940 os franceses recuaram por conta da Segunda Guerra que pairava no mundo, diante disso, a administração do Aeroporto Santo Amaro de Ipitanga, passou para as mãos da Panair do Brasil, que rebatizou de Dois de Julho, em honra do povo baiano que lutou na consolidação da Independência do Brasil na Bahia.

 

Era uma vez... 

Numa madrugada fria de junho, o improvável aconteceu. A torre de controle, em alerta sob a cortina de chuva, captou um sinal desconhecido. Uma forma peculiar, iluminada por luzes alaranjadas, rasgando o céu e se aproximando da pista, desafiando a lógica. 

Era uma aeronave que não tinha asas e nem motores comumente conhecidos, mas de contornos futuristas e luzes pulsantes, sobrevoando a pista com destemida elegância. Ela simplesmente flutuava com um pequeno zumbido. A nave parecia ser movida por uma energia nunca vista antes. 

  

Ela foi descendo calmamente, reluzente onde normalmente ficavam os aviões aguardando o desembarque e embarque de passageiros. No momento não tinha nenhuma aeronave no aeroporto. A nave cujo o design desafiava a compreensão, pousou estendendo sua porta como uma ponte, conectando dois mundos. 

De seu interior, desceram cinco figuras humanas, quatro homens e uma mulher liderando, todos de estatura e porte majestosos. Eles tinham cerca de dois metros e meio de altura, fisicamente fortes e vestidos com trajes que mesclavam um futuro inimaginável. Seus passos firmes e curiosos, carregavam o peso de um universo especial. 

 

Os poucos trabalhadores presentes durante aquela madrugada estavam refugiados em seus postos, testemunhando atônitos a cena que se desdobrava. Um deles, correu e buscou abrigo e no anonimato, ocultou-se numa cabine telefônica, espiando através do vidro embaçado toda cena. 

Foi então que o inimaginável aconteceu: o tempo, como que obedecendo a um comando superior, simplesmente congelou. As gotas de chuva ficaram suspensas no ar, tudo pausou. E os trabalhadores que estavam na fria madrugada, agora eram estátuas vivas de uma exposição não anunciada.

 

Os visitantes, alheios à perplexidade que causavam, moviam-se entre os paralisados, manuseando uma engenhoca que mais parecia uma máquina de raio-X portátil. Com ela, capturavam imagens, coletando dados como uma pesquisa de campo que transcendia a compreensão humana.

 

O observador escondido e terrivelmente com medo, estava imune ao feitiço temporal e testemunhou cada detalhe, gravando na memória o que seus olhos viam, mas sua mente lutava para aceitar. 

Os visitantes ficaram cerca de 10 minutos, em seguida retornaram calmamente à sua nave, fechando a porta e decolando sem fazer alarde, cortando o céu com um rastro de luzes. 

Em seguida, o tempo retomou seu curso, a sua normalidade, as gotas de chuva completaram sua queda e a vida, desconhecedora de sua breve pausa, prosseguiu como se nada tivesse acontecido. Ninguém lembrava do ocorrido, apenas uma pessoa! 

Entretanto, o trabalhador que presenciou a visita desses viajantes do universo, manteve a sua experiência oculta, revelada para poucos. Nesta mesma madrugada perplexo com tudo, encontrou um bilhete deixado pelos visitantes com um alerta enigmático.

O bilhete 

"Enquanto observamos seu mundo, sentimos tanto admiração quanto preocupação. Seu planeta é um tesouro raro. Mas cada rio poluído, cada floresta desvastada e cada espécie extinta, revela a falta de compromisso com o futuro das próximas gerações.  

Encorajamos vocês a buscarem sistemas que promova a igualdade, onde a prosperidade de um, não vem às custas do sofrimento de outro.  Em nosso mundo, aprendemos que a verdadeira riqueza está no bem-estar coletivo e na felicidade compartilhada. A paz duradoura é alcançada não pela dominação, mas pelo diálogo, compreensão e respeito mútuo. E nunca esqueçam que futuro pacífico é um futuro onde as crianças possam crescer sem medo, sonhar livremente e alcançar seus objetivos plenamente. Estamos observando vocês, até breve".

Sem entender direto e ainda sob o efeito do cataclisma de sua vivência, o agente de serviços de cargas logo que terminou de ler, viu as letras da carta se apagando, uma a uma como um passe de mágica. Ainda assim, sem saber explicar, ele nunca esqueceu o teor da carta. Este segredo guardou a sete chaves, compartilhado entre poucos familiares e alguns amigos, tornando-se uma lenda sussurrada entre as rodas de conversas na Praça da Matriz. 

 

Os anos se passaram, mas a memória daquela noite permaneceu viva, uma chama que abrasa a possibilidade do retorno da nave e de seres de outros planetas. E assim, entre o medo e a fascinação, a antiga vila praticamente esqueceu deste episódio.

Mas continuamos olhando para o céu,  imaginando quando os misteriosos pesquisadores das estrelas decidirão revisitar este pequeno canto do universo.

 

 

Autor:

"Extraterrestres visitam o Aeroporto Dois de Julho"   

 Márcio Wesley 

Jornalista | MBA em Comunicação e Semiótica | Licenciatura em Artes Visuais.