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Procissão das Almas em Santo Amaro de Ipitanga

Procissão das almas



Nas entranhas da antiga Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga, onde as histórias ecoavam de boca em boca, mergulhadas entre os moradores mais antigos, há um relato que perdurou por gerações. Uma narrativa arrepiante, a peregrinação das almas que percorria as ruas próximas ao rio Ipitanga e à Igreja Matriz durante as madrugadas dos  Sábados de Aleluia.


Os habitantes, acostumados a esse desfile, testemunhavam vozes sussurrantes, passos invisíveis e o tilintar de chocalhos numa procissão intangível. 



Procissão das almas


Na escuridão das casas, iluminadas pelos candeeiros, poucos corajosos espiavam pelas frestas das janelas, enquanto outros permaneciam rezando sob os lençóis de suas camas. Era um fenômeno inexplicável, mas costumeiro naquelas noites sacrossantas.


A tradição nos conta que as almas que percorriam as ruas de Santo Amaro de Ipitanga durante a madrugada, eram dos índios tupinambás que outrora habitaram a região e foram brutalmente dizimados com a chegada dos portugueses no século XVI.


Índio acorrentado no Brasil


Os trabalhos forçados, torturas e doenças devoraram a população indígena, que deram nome a nossa região de "Ipitanga", em tupi, ecoava com alegria as águas vermelhas do rio que cortava o nosso território, o sagrado Rio Ipitanga.



Índios em Santo Amaro de Ipitanga


Contrariados pelo domínio português, que impôs suas regras sem respeitar a cultura nativa, crenças e modos de vida milenar, os tupinambás, em sua peregrinação espiritual, buscavam abençoar a comunidade, oferecendo previsões, paz e bênçãos. 


Uma senhora que era descendente de índios, assimilava a cultura dos povos originários, ouviu os murmúrios numa dessas procissões em uma língua que não era o português, mas o Tupi. Entendendo parte das palavras, ela percebeu que as almas clamavam aos moradores para protegerem o Rio Ipitanga. 



A preservação e restauração dos rios no Brasil são cruciais, considerando que cerca de 80% da água consumida no país provém destes ecossistemas 



Rio Ipitanga século XVI


Essas águas do Ipitanga já foram a fonte vital de alimentação do nosso povo, estará prestes a morrer. Viverá  agonizando, será transformado em um córrego sem vida. Cuidem para que isso não aconteça, salvem o rio, salvem o Ipitanga... 



As almas profetizavam um futuro onde essas águas se tornariam cemitérios de peixes, proibidas para banhos e pesca. A natureza seria devastada, os animais perderiam seus lares, e o caos se aproximava. 

A procissão não era apenas um cortejo místico, era um alerta dos índios que um dia habitaram as terras do Ipitanga, clamando por atenção e ação.


No contexto específico de Lauro de Freitas, os rios Ipitanga e Joanes enfrentam desafios significativos de contaminação. Estatísticas indicam altos índices de poluição, demandando a implementação urgente de programas de descontaminação e revitalização



Procissão das almas em Santo Amaro de Ipitanga


Infelizmente, muitos não entenderam suas palavras e o desfecho dessa história ancestral continua a se desenrolar diante de nossos olhos. É urgente agirmos para preservar não apenas a memória espiritual, mas a vida que um dia pulsou nesse rio, antes que se torne testemunho silencioso de uma negligência imperdoável.


A senhora que decifrou o enigma da procissão das almas, assim como muitos moradores, sonham ver este rio vivo outra vez. Até hoje escutamos os lamentos: 


Ah, minha querida terra, onde o Rio Ipitanga é mais do que água corrente. É a veia pulsante da nossa história, foi fonte de vida para os povos indígenas e dos antigos moradores da Vila de Santo Amaro de Ipitanga...

   

A tristeza nos corroí ao lado dos povos origirários que tentaram nos avisar e até hoje não demos ouvidos, seguimos poluindo e devastando. É preciso entender que o Ipitanga não é apenas um curso d'água, é um capítulo de nossa história. 


Como uma senhora que ouviu as preces durante a procissão das almas, implorando para que cuidássemos das águas vermelhas. Esse rio, que já foi fonte de vida, merece ser resgatado e protegido. É uma responsabilidade nossa, como guardiões desta terra, preservar o legado dessas águas. 


Assim como os antigos contos que atravessaram gerações, a preservação do Rio Ipitanga é uma narrativa que deve ser contada e recontada. Que nossos esforços garantam que esta história não termine com um triste capítulo, mas como um sinal de renovação, respeito à natureza e aos povos ancestrais desta terra.

    



Autor:


"Procissão das almas em Santo Amaro de Ipitanga" 


 Márcio Wesley 

Jornalista | MBA em Comunicação e Semiótica | Licenciatura em Artes Visuais.  

Procissão das Almas em Santo Amaro de Ipitanga Reviewed by Márcio Wesley on janeiro 18, 2024 Rating: 5

4 comentários:

  1. Curioso. Informativo. Emocionante. 💪🏾 Resistência. Vc é Top. Amei.

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  2. Muito bom, Márcio. Além do registro histórico, a conexão com os tempos atuais foi show de bola. Parabéns!

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