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DUZINHO NERY PRESENTE...






Tenho um tempinho sem escrever e no meu caso preciso de tranquilidade para deixar fluir as inspirações. Escrever é algo artístico, embora eu não seja um exemplo de artista neste sentido, tenho muito que aprender, mas vivo insistindo. Quanto mais tempo nos dedicamos certamente evoluímos. A prática é um ponto crucial para que possamos ter tempo de errar bastante.

 

Alguns amigos e leitores que curtem as nossas postagens estão me indagando carinhosamente - “Nunca mais me enviou uma das suas entrevistas ou textos, estou com saudades”... Enfim, confesso que fiquei abalado com a partida de Duzinho. Acompanhamos tudo de perto (eu, familiares e amigos) segurando suas mãos durante seus dias de caminhada e de luta contra um linfoma não-Hodgkin super agressivo. 


Fizemos tudo que estava ao nosso alcance. Quero agradecer a todos os profissionais de saúde que não mediram esforços, as orações, pensamentos positivos e aos amigos que nos ajudaram grandemente em cada curva desta estrada. 


Difícil entendermos os mistérios da vida e a dor da despedida. Ainda estamos em luto e o tempo é o senhor do equilíbrio.   





No dia 29 de dezembro Duzinho nos deixou, foi um baque e ainda está sendo. Duza seguiu o destino que logo em breve todos nós seguiremos, essa é a única certeza de que temos. E por mais elevados que sejamos espiritualmente, ainda não estamos preparados o suficientemente para encarar a partida com naturalidade. Não sabemos onde, quando e de que forma será o nosso dia, mas o bilhete vai chegar. 


Por mais que tenhamos fé e acreditemos numa jornada pós-morte, ainda assim, não é fácil, o luto é diferente para cada um e precisamos respeitar isso. Dun deixou um legado grandioso, escreveu sua jornada como um dos maiores agentes culturais de nosso município.




 

Não é tão fácil voltar escrever, falar de arte sem lembrar dele, que era uma pessoa extremante inquieta culturalmente. Sua cabeça fervilhava, sonhava alto e colocava em prática escrevendo peças, projetos, poesias, espetáculos e dois livros: “Das Cinzas a uma Rosa” e “Diário de um Rei”. Encontramos  três projetos literários no arquivo do seu computador: um livro de poesias, conto e uma biografia sobre a Paixão de Cristo. 


Mesmo debilitado fez questão de fazer uma grande festa de lançamento da sua obra literária “Diário de um Rei” entre amigos e familiares no Cine Teatro de Lauro de Freitas, que logo em breve será denominado Cine Teatro Duzinho Nery, sua segunda casa, como ele gostava de mencionar, onde tudo começou através de uma oficina de teatro. O menino virou um homem com alma de menino, apaixonado pela cultura e por nossa terra natal.




 

Duzinho era inventivo, sangue quente, verdadeiro com seus posicionamentos e opiniões. Era casca dura, tivemos muitos embates neste sentido (risos). Eu admirava sua autenticidade! Mas ele também percebia quando estava exagerando e mudava de opinião. Afinal nada é estático, estamos em plena mudança neste processo evolutivo da vida.


Não podemos ficar amarrados em coisas que nos faz mal, numa atmosfera ruim e com a sensação de que estamos perdendo tempo. Não podemos manter o desconforto espiritual. Mudar é sempre necessário!

 

Ele sonhava com uma Lauro de Freitas referência em gestão cultural, conhecia as potencialidades de nossa gente criativa e desejava um olhar humanizado e capacitado no que se refere a gestão pública. Vivia chateado com a tal “politicagem” no segmento cultural. 


Desejava que as políticas públicas culturais fossem eficazes e geridas por pessoas que tivessem pertencimento com a pasta, cidade e artistas. Ele me contou que certa vez um político que apoiou disse-lhe que ele não poderia ser Secretário de Cultura (na ocasião) porque não tinha formação acadêmica na área. Isso motivou Duzinho a estudar e cursar Artes na UFBA, onde se formou. 


Na verdade ele sabia que foi um desculpa esfarrapada do “político” sem compreensão e falta de compromisso com as políticas públicas culturais de pertencimento, aliada a velha pressão de políticos e partidos. Mas isso serviu de catapulta para Duzinho se jogar de  cabeça na formação, unindo a sua vasta prática cultural com a teoria acadêmica. 

 


Márcio Wesley, Alan Nery e Duzinho Nery 


Marcinho nossa cidade é rica culturalmente temos teatro, dança, artes plásticas, literatura, poesia, música, arte circense, cultura popular, escultores, artesãos e muito mais. A cidade não conhece as nossas potencialidades culturais. É preciso potencializar. Cultura é coisa seria! 


Disse-me Duzinho numa dessas idas e vindas hospitalares.   

 


Com ele nasceram inúmeros projetos que deram vez e voz a nossa terra, como a Paixão de Cristo exibida há 21 anos na Praça da Matriz, reunindo um conjunto de artes e artistas na sua concepção. Muita gente passou pela Paixão de Cristo, uma grande fonte de inspiração e formação. 


Com a partida do nosso eterno diretor, quem assumiu organicamente a direção artística do espetáculo foi meu irmão caçula Alan Nery, que sempre estava colocado nos projetos que Duzinho produzia, além de atuar em todas as edições da Paixão. 


A Paixão de Cristo 2022 está engatilhada e será apresentada nos dias 8, 9 e 10 de abril. O elenco já foi escolhido e os ensaios já começaram. Estamos correndo atrás do apoio necessário para realizarmos. 


As decepções era uma coisa que ele já estava acostumado, sua alma de artista fazia acreditar em todas as promessas. E a última foi com um empresário que ele apoiou. Duza largou tudo, remou contra maré da sua base e carregou a bandeira do político empreendedor. Acreditou no plano cultural (nas promessas de mudança caso fosse eleito) e se jogou sem olhar para o retrovisor. 






O empresário perdeu as eleições, mas tinha prometido apoiar a realização da Paixão de Cristo 2022. No mês passado através de uma ligação retirou friamente a possibilidade de apoiar o espetáculo. Para Duzinho e para todos nós, essa seria a melhor Paixão da história de Lauro de Freitas. Infelizmente o sabor do desencanto amargou as nossas bocas. Duza vestiu a camisa desse cidadão até seus últimos dias. 


A vida é assim, dura e cruel! Mas independente disso, pretendemos apresentar o espetáculo em homenagem a Jesus Cristo e a Duzinho Nery, ambos permanecem firmes e fortes em nossas vidas. 

 

O nosso escritor estava doce e amável nas suas últimas semanas e fez questão de acertar os ponteiros com muita gente. Reativando a conexão com pessoas que ele tinha tido algum arranhão, sobretudo no campo político. Sim, fez as pazes! Isso foi tão bom para ele e para quem estava ao seu entorno perceber a luz da conciliação. Os opositores tornaram-se amigos e ver isto acontecer de ambas as partes foi indescritível.  




      
 

O Festival Ipitanga de Teatro (FIT) colocou Lauro de Freitas no mapa teatral do Brasil. Centenas de espetáculos se apresentaram neste festival no Cine Teatro, palco principal desta pujante iniciativa. Ele sonhava grande e fazia acontecer! Pena que a cidade não aproveitou este projeto como deveria. 


A primeira grande reforma do Teatro (que é gerido pelo Governo do Estado) foi provocada pelo FIT. Este Teatro é um importante equipamento cultural formador de espetáculos, profissionais e plateia. Entretanto, precisa urgentemente de uma nova intervenção, reforma e adequações contemporânea para atender melhor os anseios do nosso município.

 




Esperamos que logo em breve o rebatismo seja logrado e o espaço proclamado de Cine Teatro Duzinho Nery, um pedido da comunidade que foi acolhido pelos agentes políticos do município e da Bahia. Aguardamos com alegria ver o nome de Duzinho neste equipamento que ele tanta amava e que é de grande importância para nossa gente. 


Dentro do campo teatral Duzinho levou o nome de sua terra natal para diversos estados brasileiros participando de inúmeros festivais de teatro e premiado em muitos deles. Marcou presença em outros municípios da Bahia apresentando a Paixão de Cristo e o Alto de Natal.  




Ele falava com vigor e brilhantismo, suas opiniões algumas vezes eram chocantes e impressionavam pelo calor com que eram defendidas. Tinha muita gente que não suportava ouvir algumas dessas verdades e aí começavam as controvérsias (risos). Duzinho era amado por ser verdadeiro e odiado por alguns por conta disso. Mas todos percebiam nele uma verdade, mesmo os que divergiam admiravam sua coragem. 


Com ele não existia essa coisa de ficar em cima do muro. Dava a sua opinião na lata doa a quem doer! Essa coisa de morno não fazia parte do seu repertório. Se jogava na política e apoiava quem “tivesse” em seu plano de governo ações culturais afirmativas e progressivas, mas se "retava" quando percebia que foi enganado e que as tais afirmações não saiam do papel e das promessas de quem prometia.     

  


         MANIFESTO ANTROPOFÁGICO - por Duzinho Nery


   
  

Duzinho deixou um grande legado para nossa cidade, tem uma frase que ele usou em uma manifestação - “Quem quer faz, não espera acontecer”. Na época o município era gerido pelo grupo do atual vice-governador João Leão, tempos depois tornaram-se grandes amigos. Duzinho estava chateado e deseja algum tipo mudança de concepção e conceito na gestão cultural. 


Reuniu os amigos e realizou um protesto na Praça da Matriz. Uma ação multicultural com apresentações de diversos artistas (eu me apresentei com uma banda de rock) e discursos afirmativos em prol da cultura. A turma da prefeitura apagou as luzes da praça, “foi um babado”, como ele gostava de dizer. Enfim, o nosso diretor teatral, escritor, produtor cultural e amante das terras de Ypitanga não comia reggae, risos...

 

 

E agora só nos resta continuarmos a jornada sonhando, realizando, auxiliando e acreditando em dias melhores. Batendo nas teclas e fazendo que ouvidos "surdos" ousam que cultura muda a realidade das pessoas, gera oportunidade, pacifica, alavanca o turismo, educa, edifica o nome de nossa cidade e nos enche de esperança. Me despeço com a letra de uma canção lindíssima de Gonzaguinha, “Nunca pare de sonhar”...


  

Ontem um menino que brincava me falou. Hoje é semente do amanhã. Para não ter medo que este tempo vai passar. Não se desespere e nem pare de sonhar. Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs. Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar. Fé na vida, fé no homem, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será...


 



Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística


DUZINHO NERY PRESENTE... Reviewed by Márcio Wesley on fevereiro 22, 2022 Rating: 5

5 comentários:

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