PROJETO MACABÉA: a festa não acabou!
Alisson Lima lança álbum nas plataformas |
Os méritos deste novo trabalho não aposta em fórmulas de sucesso instantâneo. Afinal, como a arte não tem compromisso com nada ou ninguém, o artista não pode nem deve fazer concessões
Alisson Lima é um amigo, na verdade um irmão da
velha guarda, crescemos na mesma rua no centro de Lauro de Freitas, onde até
hoje, residem nossos pais. Somos da terra do Ipitanga e comungamos da arte
desde sempre. E quando recebi por ele via “Zap” um texto lindíssimo escrito por Marcelo
Frazão, fazendo uma alusão maravilhosa sobre o seu novo álbum solo, não perdi
tempo e com muito prazer estamos aqui publicando em nosso Blog Cultural.
Alisson foi um dos integrantes da nossa eterna banda Pastel de Miolos, com seu punk
baiano arrebatador.
A festa não acabou é um EP com três
faixas inéditas, recém-gravadas pelo nosso professor, compositor, cantor e
multi-instrumentista. O artista laurofreitense batizado no Rio
Ipitanga, dá continuidade ao seu trabalho mais pessoal, que hibernava desde
2016. Pensando bem, talvez hibernar não seja a palavra correta, projetos
necessitam de uma longa gestação para que amadureçam e venham ao mundo na hora
certa.
A porrada é maior quando percebemos a ironia de se estar só num tempo de redes sociais, seguidores, mensagens instantâneas e público sem calor à espera da próxima novidade, do próximo like
Este novo trampo não poderia ser
diferente, pois, quem conhece Alisson sabe que artisticamente ele é um cabra
autêntico e, andar, na contramão do que a grande mídia dita como sucesso sempre foi o seu norte, ainda bem, risos. Os atuais lançamentos
não traz participações especiais. Ele volta a ser o resultado da vontade de one man
band, como o próprio nome diz, uma só pessoa fazendo todo o som desde letras,
melodias e arranjos. Tudo assinado pelo nosso nobre professor rock and roll, que também gravou todos
os instrumentos e vocais.
É comum, ao escutarmos um novo disco,
procurarmos influências ou referências de bandas e artistas consagrados. Sim,
elas estão lá, ou aqui, misturadas. Sentimos algo de Pixies, Raul Seixas,
Pavement, Wander Wildner e até uma pitada de Júpiter Maçã, mas vale frisar que no Projeto Macabéa são experiências pessoais no
primeiro plano, imprimindo uma marca original em cada uma das três faixas do
álbum.
Cinzento...
A melancolia é um traço de nosso tempo a imprimir um estado de espírito cinza que percorre o álbum e pode não agradar aos ouvidos moucos. Sim, o cinza é a cor que nele predomina e, atenção, não se trata apenas de um tom de cinza. O Projeto Macabéa transforma em música e poesia uma palheta extensa, que vai do quase branco ao cinza chumbo metálico. Afinal, cores traduzem sentimentos melhor que palavras gastas ou expressões da moda. Fazer isso de forma monocromática é para poucos.
O mundo é real e sempre haverá vidas que virão depois das nossas vidas
Nome estranho é a faixa que abre o álbum e evoca o melhor Ramones, alertando o ouvinte para a tônica do conjunto: o estranhamento com a vida, com as coisas inexplicáveis e a busca por respostas que não existem, mas ressoam em todo ser. Ressoa “seca e doce, quando estamos a sós, apenas com nossa voz”, como a letra sugere e repete e repete para que seja compreendida.
A resposta está guardada dentro do corpo, com suas vontades latentes dissociadas das vontades impostas pelo mundo, e é apontada no verso que fecha, vivo e seco, como uma porrada: “Minha voz e eu estamos a sós”.
A porrada é maior quando percebemos a ironia de se estar só num tempo de redes sociais, seguidores, mensagens instantâneas, público sem calor à espera da próxima novidade, do próximo like, comentário, cancelamento. Tudo aparentemente tão real, mas totalmente descartável.
É preciso resistir...
Dia cinzento, a segunda faixa, como o título anuncia, é cinza, como a angústia das correntes dos dias. Como os dias sem sol. Como sentimentos que incineramos e, não à toa, se transformam em cinzas. A depressão é cinza e a voz é um acalanto com sugestivas metáforas, um antídoto, uma forma de lidar com essa angústia sem cores, sem rumo nem explicação.
Resistir é preciso. Resistir à dor é preciso. Resistir a todas as dores, as que nos chegam de fora e, principalmente, as que causamos a nós mesmos. É mais fácil deixar-se levar correnteza abaixo, mas esta não é a única opção, apenas a mais fácil. É preciso querer mais do que se tem se não quiser permanecer na dor.
É preciso não entregar os pontos. Procurar abrigo da chuva
nos dias cinzentos. A fuga não é a mensagem desta faixa. A luta consigo mesmo,
apesar de ser a mais difícil, é a única que expurga e transforma um dia
cinzento.
A música e a poesia provocam emoções que às vezes não gostamos de sentir
Festejar...
A festa acabou é uma balada melancólica que arremata o sentimento individual das faixas anteriores e deságua no coletivo. O que nos resta? A festa, para qual ninguém foi convidado, mas todos compareceram e terão que pagar o preço, acabou. Resta a ressaca, trabalho e dias desnecessários.
A festa acabou. O mundo é real e sempre haverá
vidas que virão depois das nossas vidas. E aqui, nesta faixa, o diálogo nada
explícito das duas vozes que se entrelaçam e se sobrepõem é o ponto mais alto
do disco. A letra é uma bela poesia que complementa e se funde com a melodia.
Último aviso...
Assim como este não é um disco para se ouvir apressadamente. É cinza e melancólico como sugere o título. A música e a poesia provocam emoções que às vezes não gostamos de sentir.
Sentimentos que
não levamos para uma festa, mas que estão sobre nós como nuvens prontas para
desaguar. Sentimentos que nos forçam a amadurecer ou a sucumbir. Contudo, estas
três músicas nos inspiram a seguir com cabeça erguida, mesmo que os dias
continuem cinzentos, muito cinzentos...
Ouça agora!
SPOTIFY: https://spoti.fi/3HCU49t
YOUTUBE: https://bit.ly/3sZuo2z
DEEZER: https://bit.ly/32U0Adc
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística
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