LAURO DE FREITAS ESQUECIDA NO 2 DE JULHO
Oséas Santos: Encourados do Pedrão, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
O ápice desta guerra se deu em Pirajá, onde as tropas denominadas de brasileiras cercaram as forças portuguesas e a derrotaram entrando em Salvador a dois de Julho de 1823. O general Madeira de Melo, comandante das armas na Província da Bahia, foi derrotado e se retirou rumo a Portugal.
O povo e os soldados vitoriosos ocuparam as ruas de Salvador. Mas este é o final da história! O que queremos ressaltar e a participação de nossa cidade, à antiga Santo Amaro de Ipitanga, no contexto das estratégias de rendição dos portugueses. Portanto, se prepare que iremos fazer uma pequena viagem ao passado...
As Faces do 2 de Julho: breve viagem à história de Lauro de Freitas, outrora conhecido como Santo Amaro de Ipitanga. O município de Lauro de Freitas em 1911 era parte do território que hoje compreende a cidade de Salvador. Emancipado em 1962 e rebatizado de Lauro de Freitas, em homenagem ao Dr. Lauro Farani Pedreira de Freitas, então candidato a Governador do Estado da Bahia, falecido em um acidente em 11 de setembro de 1950, o município se vê entre uma série de facetas e estórias não mais contadas, perdendo aos poucos a memória de seu passado histórico como território rico em engenhos de açúcar, provedores da economia brasileira do século XIX.
A Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga, compunha um dos distritos mais importantes no cerne das Capitanias da Bahia. Sua relevância comercial para o país se mostrou como uma grande potência no que se refere aos engenhos de açúcar, na atuação de negros escravizados em seu cultivo e no processo tecnológico da produção de açúcar a partir da cana caiana. O centro do poder econômico brasileiro estava focado nos engenhos e na produção de fumo, ambos os setores, com maior desenvolvimento no Recôncavo da Bahia.
Este breve contexto histórico se faz necessário para revelar o quanto a cidade de Lauro de Freitas significou e contribuiu para a estruturação de uma sociedade pautada na luta pelos seus direitos, na história de um povo que se uniu, mesmo diante de todas as diferenças sociais existentes, para contribuir na luta pela independência do Brasil cujo maior marco baiano foi o dois de julho, hoje imortalizado nas figuras do caboclo e da cabocla, comemorado com desfiles cívicos, cortejos e procissões em diversas cidades da Bahia e Lauro de Freitas não se encontra neste contexto, por que?
Foi no nosso território por onde descansaram os soldados do batalhão de José Antônio da Silva Castro – o Periquitão,
no qual a heroína da independência Maria Quitéria se alistou e serviu.
De acordo com essa prerrogativa, atual cidade de Lauro de Freitas é citada em livros como “2 de Julho: independência da Bahia e do Brasil” (CARVALHO JÚNIOR; PORTO FILHO, 2016) como região “próxima a Salvador” ou ainda “nas terras de Pirajá” e “cercanias de Salvador”. A mesma descrição é utilizada para se referir ao território então pertencente à Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga, local de pouso a esquadra do General Labatut em 1822, território este que também foi palco da linha de cerco terrestre da tropa do Imperador dom Pedro I, que ia de Itapuã à Pirajá em 1823.
Infelizmente não temos hoje no município de Lauro
de Freitas, emancipado, dotado de autonomia política, econômica, jurídica e
cultural, nenhum evento que remonte a esta participação dos conterrâneos laurofreitenses
nas batalhas pela independência. Não se faz presente uma pesquisa histórica, iconográfica
e iconológica dos símbolos tidos como referência de memória e patrimônio na
cidade. Quanto a esse quesito, podemos citar exemplo e referência o registro da
Festa de Santo Amaro de Ipitanga, em 13 de março de 2018, sob o decreto de lei
municipal onde se reafirma a participação jesuíta na criação e desenvolvimento
da freguesia que posteriormente daria origem a Santo Amaro de Ipitanga.
Nossa inquietação reside no que cabe à não participação da cidade nos festejos do 2 de Julho, no silêncio existente nas estruturas políticas e sociais que possuem o poder de dinamizar a cultura, a história, a memória e por fim, a identidade local.
Ora, por patrimônio podemos ter apenas os
instrumentos materiais ou imateriais com os quais temos algum contato, artefatos
já comunicados e com ampla divulgação. Vemos a necessidade do conhecer para
preservar e assim fazer prosperar uma cidade com uma memória histórica rica de
representatividade e de relevância econômica para todo o país. A mesma terra por
onde cruzaram os heróis nacionais, tidos como responsáveis por livrar o Brasil
da tirania portuguesa no século XIX, a citar Maria Quitéria, primeira mulher a
ser condecorada como cavaleira, membro do batalhão comandado por Periquitão,
pai do poeta Castro Alves (1886), que escreveu sobre o dois de julho e a
batalha de Pirajá em seu poema Ode ao
Daus de Julho:
Era no Dous de julho. A pugna imensa travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
Neste lençol tão largo, tão extenso,
Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito: Qual dos gigantes morto rolará?
Assim, o dois de julho se apresenta como uma data louvável, apaixonante e de extrema relevância na formação de uma identidade nacional, no reforço do ideal brasileiro que dita “Ordem e Progresso”. Aproveitamos a oportunidade para repercutirmos “Patrimônio, Cultural e Memória" no município, sim!
O levante em prol do 2 de julho na antiga Santo Amaro de
Ipitanga, hoje Lauro de Freitas, cidade histórica do Brasil, palco do fomento
da economia nacional e da independência do Brasil.
Nossa inquietação reside na forte presença de Lauro de Freitas nas batalhas pela Independência da Bahia, no poder que 13 engenhos situados na região possuíam, a respeito do Engenho Caji, que serviu como pouso para as tropas do general Pedro Labatut.
Falamos em Preservação, identidade, memória e em patrimônio, porém, fomentar estes sentimentos partem inicialmente
da sensação de pertencimento. Afinal, Patrimônio para quem? Qual identidade se
vê representada em Lauro de Freitas? Portanto, a chave para solucionar estes entraves
históricos seria exatamente o fomento a pesquisa historiográficas com o suporte, formação de arquivos, exposições e inventário dos bens
culturais de caráter material e imaterial.
O conhecimento é a arma do povo. É preciso conhecer
para pertencer, para fazer parte e para proteger. Este é hoje nosso maior desafio:
socializar a memória histórica e seus respectivos símbolos culturais em Lauro de Freitas.
Salve Lauro de Freitas!
Salve o 2 de julho!
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística
Muito bom!!
ResponderExcluir