FOTOJORNALISMO: "foi um alvoroço o advento do mundo digital”
Jornal Expressão faz parte da história da imprensa de Lauro de Freitas
Comecei a fotografar no saudoso Jornal Expressão, um periódico local aqui da minha terra natal, Lauro de Freitas, Bahia, no final da década de 1990. Foi uma oportunidade que agarrei com unhas e dentes. O meu primeiro contato foi dando apoio a equipe de jornalismo, sugerindo pautas, auxiliando na distribuição dos exemplares pelo município e como motorista de uma charmosa Kombi Baú 1984, conduzindo os jornalistas para as entrevistas. Passei 10 anos bebendo da fonte e aprendendo na prática o universo de uma redação alternativa, compreendendo um pouco de tudo: distribuição, departamento comercial, diagramação, criação de pautas, layout de anúncios, fotografia, fotolito, jornalismo comunitário e gestão. Na área comercial fui recordista de vendas, fotógrafo e repórter no segmento cultural. Procurei unir a prática com o conhecimento estudando jornalismo.
O caminho para entrar no jornalismo foi a fotografia e quando surgiu a oportunidade abracei espontaneamente e comecei a auxiliar os jornalistas tirando fotos de eventos e dos entrevistados durante as entrevistas. Quando a coisa começou ficar mais incisiva, passei a ser o “fotógrafo” da redação com uma Kodak doméstica, isso mesmo, não tínhamos uma câmera profissional e eu não sabia operar uma na ocasião.
Então resolvi fazer um curso rápido de fotografia com o professor Marcelo Reis que me passou alguns bons macetes: abertura de diafragma, velocidade do obturador, exposição, profundidade de campo, distância focal, ISO, etc. Depois fui praticando no dia-a-dia. Errando, acertando e sem medo de ser feliz. Lembro que ficava envergonhado no curso, pois, todos tinham máquinas analógicas de ponta e eu com uma antiguíssima. Enfim, era o que eu tinha e deu tudo certo, risos...
Tirei esta foto com a Olympus Trip na famosa Praia de Itapuã
Uma câmera profissional analógica exigi conhecimento, coisa que eu não tinha, ficava impressionado com a possibilidade de trocar as lentes e regular o foco rapidamente. Juntei uma grana e comprei uma Olympus Trip 35, usada. Era uma câmera popular no mundo inteiro, produzida entre 1967 e 1984, chamávamos de semiprofissional. Tirei boas fotos com ela, mas necessitava de algo um pouco mais avançado e voltado para a minha rotina, não precisava de uma super máquina com diversas lentes, a verdade é que eu não tinha grana para isto. Então, adquiri uma Canon analógica usada (não recordo a referência) com uma lente 28-90 mm, perfeita para o meu trabalho.
E-book disponível na plataforma digital Amazon
O começo dos anos 2000 foi um alvoroço com advento do “mundo digital” e da internet, presságio do fim da era analógica e dos filmes (rolos). Neste período as digitais tinham resolução muito baixa, mas eram uma mão na roda, livrávamos do processo de revelação e da dúvida de como a foto ficou, sempre ficava uma “pulga atrás da minha orelha”, antes da revelação.
Com a foto digital não necessitávamos esperar tanto tempo no processo de revelação, era descarregar no computador e pronto, além de sabermos na hora (no visor da câmera) se a foto ficou boa e com a certeza de que o entrevistado estava com os olhos abertos após o click. Acreditem, isso era o máximo, poder ver a fotografia instantaneamente.
A Mavica gravava as imagens em disquete
Uma das primeiras máquinas digitais a chegar em Lauro de Freitas foi comprada nos Estados Unidos, pelo dono Jornal Expressão, nosso amigo Pepe, no ano 2000, uma Sony Mavica. Uma novidade na época, lembro de ficar impressionado com a praticidade e a possibilidade de gravar as imagens em disquetes que podiam ser abertos em qualquer programa de processamento de imagem no formato JPEG, além disso, ela vinha com foco automático e manual, zoom óptico 10x, mas pecava na qualidade das imagens de alta resolução, por este motivo passei a usar duas máquinas a Canon e a Mavica.
Até hoje guardo estes equipamentos que utilizava na época da transição do analógico ao digital. Gravador, fitas, disquetes, máquina fotográficas de filme, rolos e a Mavica de disquete
O mundo digital foi ampliando e as câmeras analógicas sendo aposentadas nas redações. Hoje em dia, além das digitais, os celulares são ferramentas imprescindíveis no jornalismo, verdadeiros “computadores de bolso” com recursos importantes: máquina fotográfica, filmadora, gravador de áudio e editor de textos que suprem muitas demandas do jornalismo. Em 1999 nunca imaginaríamos o celular e as suas possibilidades nos dias atuais. Uma vídeo chamada era um lance que só víamos em filmes futuristas com carros voadores. Estamos em 2021, não temos automóveis voadores, mas os elétricos são realidade.
A internet e os smartphones mudaram a dinâmica do jornalismo, podemos enviar e receber informações em tempo real: textos, fotos e vídeos. O celular é uma ferramenta indispensável na comunicação nos dias atuais. E durante a pandemia ampliou as possibilidades. Novos tempos! Apesar de toda tecnologia a fotografia se adequa a contemporaneidade. No meu caso fotografo primeiro com o olhar, fixo a imagem e já sei mais ou menos o que eu quero. Utilizo as máquinas ou celulares para registrar o que eu já fotografei na mente. Portanto, mesmo com o avanço tecnológico os fotógrafos e os fotojornalistas estarão firmes e fortes na batalha da comunicação e da arte da fotografia.
Foi com essa Kodak doméstica que comecei
Segue uma exposição virtual
Selecionei algumas fotografias da época do filme (digitalizadas), disquete com a Sony Mavica, digitais de câmeras diversas e celulares. Algumas foram publicadas em jornais, revistas, blogs, portais e redes sociais. Vale salientar que nós fotojornalistas tiramos muitas fotos e quase sempre poucas são escolhidas para compor as matérias. Portanto, muitas pérolas que fizeram parte de pautas e que não foram selecionadas para ilustrarem as reportagens, podem ser verdadeiras surpresas. O olhar de um fotógrafo viaja para além das pautas.
Autorretrato com Canon | filme, eu tinha cabelos, risos...
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística
Fotopoesia!
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