Reserva Thá-fene: precisamos preservar a cultura indígena
No começo dos anos 2000 fui bater um papo com alguns índios, eles estavam iniciando um projeto inovador aqui no município. A professora e artista plástica Débora Fontes foi quem me avisou sobre a novidade, eu ainda morava com meus pais no centro de Lauro e de vez em quando Débora passava por lá para conversar com a minha mãe. Numa dessas visitas ele me disse: "Marcinho teremos uma reserva indígena aqui em Lauro de Freitas" e me contou que estava sendo construída na comunidade do Quingoma. Óbvio que fiquei doido para conhecer de perto o projeto. Na ocasião eu era responsável pela coluna cultural do saudoso Jornal Expressão. Respondi que queria fazer uma entrevista sobre o assunto e na mesma hora ela me levou até eles. Os índios estavam morando provisoriamente em uma casa no bairro de Itinga, aguardando a conclusão da reserva. Seu Brandino, dono da fábrica de Brinquedos Rosita, estava ajudando com a iniciativa.
Na época da entrevista o nome da Reserva seria Memboré, mas acabou mudando para Reserva Thá-Fene. O projeto deu certo e a reserva atualmente é uma referência na preservação da cultura e identidade indígena aqui em nossa cidade e na Região Metropolitana. Quero aproveitar o ensejo para mandar um salve especial para todos os índios da reserva em nome do Lymbo e Wakay que estão na linha de frente. Estendendo minhas saudações para toda comunidade indígena que mantém acessa as suas tradições e compartilham suas vivências conosco. Precisamos preservar a memória dos nossos ancestrais, integrando as tribos e protegendo suas culturas, saberes, terras e vidas.
Entrevista publicada no Jornal Expressão em 2006
Poucas tribos ainda preservam as tradições intactas. O contato com o homem "civilizado" destruiu muitos costumes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Aqui em Lauro a Reserva Memboré tenta revitalizar os costumes indígenas na nossa região e poucos moradores sabem que aqui na nossa cidade, os índios estão lutando pela preservação da cultura. A reserva está localizada no bairro do Quingoma, em meio do que ainda resta de Mata Atlântica, um lugar lindo. Essa semente plantada pelos índios tenta quebrar as barreiras, criando uma nova concepção de revitalização ambiental e um espaço cultural.
A reserva possui 28 mil metros quadrados e foi construída pelos próprios índios com apoio da comunidade, empresários e entidades não governamentais. O objetivo do projeto é preservar e difundir as tradições dos povos indígenas, sem distinção de tribos. A reserva conta com uma sede, uma fábrica de artigos indígenas, pomar, horta para plantio de ervas e uma trilha ecológica. Pretende-se ministrar aulas de Tupi Guarani, além de atendimentos naturais com terapias alternativas utilizando as ervas indígenas e a comercialização de artesanatos produzidos pelos índios.
Para Lymbo, guerreiro da tribo Kariri Xocó e coordenador da reserva, o sonho de poucos vem se tornando realidade. Ele conta que é difícil ser índio e que já sofreu preconceito e discriminação. Mas conseguiu vencer grandes batalhas. Lymbo é professor com nível superior, "já sofremos bastante por não adotarmos os mesmos costumes sociais", mas isso vem mudando através de projetos e com a ajuda de pessoas especiais como "Seu" Brandino, dono da fábrica de brinquedos Rosita. "Ele nos conheceu numa exposição de artes no aeroporto e ficou apaixonado pelo nosso trabalho e vem nos ajudou bastante, inclusive, na construção da reserva”, conta Lymbo.
Para o índio Thiaraju, técnico agrícola, ser índio é uma luta constante. "Os desafios estão sendo vencidos dia-a-dia. Estamos aqui ajudando no projeto da reserva. Construindo juntos, literalmente, para que possamos preservar a nossa cultura e mostrar a nossa realidade. Estamos aqui em Lauro de Freitas fortalecendo nossas origens, profissionalizando nossos irmãos e mostrando nossos costumes". Concluiu o índio.
Um índio
"Um índio descerá de uma estrela
colorida brilhante
de uma estrela que virá numa velocidade
estonteante e pousará no coração do
hemisfério sul na América
num claro instante depois de
exterminada a última nação indígena
e o espírito dos pássaros das fontes de água
límpida mais avançado que a mais avançada
das mais avançadas das tecnologias"...
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
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