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Bankoma: cultura bantu com influência do samba-reggae


Por Márcio Wesley 


Jander Neves, Bloco Afro Bankoma
    Bankoma 21 anos e 72 músicas autorais 



O nosso papo é com o cantor, compositor e músico Jander Neves, 38 anos, dois filhos e vocalista do nosso Bankoma de Lauro de Freitas. Foi através dos ritmos e toques do candomblé que o menino se encantou com a arte e a religião. Quando garoto gostava de ficar observando os experientes Ogãs e com eles aprendeu a tocar e a respeitar os instrumentos. “Eu aprendi a dar importância a todos os instrumentos usados nos rituais. A percussão é uma coisa sagrada. E foi com a percussão que tracei o meu destino e conseguir conquistar coisas importantes na minha vida”, explica com orgulho o músico.   

 

A arte... 


Se não fosse a arte eu não teria aprendido olhar a vida de um modo diferente, a arte me completa como ser humano. É uma alegria indescritível ser um agente cultural, músico e defensor de um legado tão importante.



Cantor e musico Jander Neves
     "Temos dois álbuns e um projeto de gravarmos um show em audiovisual futuramente"



Estética afro... 


Todos os projetos que o Bakoma realiza são importantes, mas para mim o divisor de água é o ‘Bagerê de Estética Afro’ implantado em uma época onde as pessoas tinham vergonha de assumirem sua identidade. As mulheres passavam alisantes nos cabelos e chapinhas para darem uma impressão de cabelos lisos e tentar atender uma situação estética. O Bagerê despertou a importância da beleza dos nossos cabelos, compartilhou com as meninas e mulheres da nossa comunidade a valorização da nossa estética com peteados, tranças e maquiagens realçando ainda mais a beleza natural. Muitas meninas que passaram pelo projeto deram um passo adiante e transformaram os aprendizados em uma oportunidade de trabalho e renda.




Bloco Afro Bankoma
       "A riqueza musical percussiva e harmônica fazem parte da nossa ancestralidade"

 


A música...


O meu trabalho é voltado para a questão percussiva e ancestral. O bloco Afro Bankoma é excepcionalmente percussivo, influenciado pela cultura rítmica bantu com a inspiração de ritmos e gêneros musicais africanos como yoruba e o jêje. Mas o nosso forte é transpor os toques bantus para as células rítmicas percussivas do samba-reggae. Há um tempo atrás, logo quando o Bankoma começou, éramos só percussivos, mas decidimos colocar alguns instrumentos harmônicos e de sopro para poder dar uma incrementada e enriquecer o trabalho. Mas por conta disso, recebemos elogios e críticas do tipo: “não é legal colocar instrumentos de harmonia em bandas percussivas”. Ora, as pessoas precisam entender que a riqueza musical percussiva e harmônica fazem parte da nossa ancestralidade, os instrumentos africanos foram os primórdios dos instrumentos que conhecemos hoje em dia como os idiofones, membranofones, aerofones e cordofones. É notória a influência da África na cultura musical e algumas pessoas ainda criticam bandas de percussão que colocam instrumentos harmônicos. Ao contrário do que muitos pensam, a harmonia incrementa e nos auxilia na transmissão das músicas ao lado da percussão.



Bloco Afro Bankoma...  


O Bankoma tem 21 anos de resistência e todo ano trabalhamos com um tema novo e uma composição que tenha haver com o tema proposto. A música é o carro chefe para criação das coreografias e dos figurinos do bloco. O nosso repertório autoral é bem extenso, com 72 músicas registradas, relacionadas aos temas de carnaval e ao nosso cotidiano. A gente fala dos Mkisse Gongobira, Bamburucema e Angorô. Levantamos a bandeira do povo de santo e sustentamos a preservação das nossas raízes e tradições. Temos dois álbuns lançados e um projeto para gravamos um show ao vivo em audiovisual. Estamos pedindo a Deus que a pandemia passe logo para começarmos os trabalhos de produção deste novo projeto.


 

Raimundo do Bankoma e Jander Neves
      "Meu pai é a minha inspiração na religião e na cultura"



Raimundo do Bankoma...


Meu pai era tudo para mim, meu espelho e meu herói. Todos os dias agradeço a Deus por ter nascido nesta família, com pessoas maravilhosas, dedicadas em manter e preservar a religião e as nossas raízes. Meu pai é a minha inspiração, tanto na religião, como na cultura. Foi um líder nato, tranquilo, democrático e sábio. Ele tinha conhecimento do que fazia e falava. Para todos do terreiro, dos anciões aos mais jovens, viam nele um guia. Minha tristeza é ter perdido meu pai muito cedo, faleceu com 49 anos, jovem e num momento especial da sua vida. Ele  estava em plena ascensão, produzindo bastante e empenhado nos projetos do terreiro, do bloco e das questões sociais e culturais do município. Como você bem sabe, ele fez parte da equipe que organizou e fundou o Conselho municipal de cultura, instituiu o Calendário cultural do município e ajudou na criação do Fundo municipal de Cultura. Quem conheceu Raimundo do Bankoma, sabe do legado que ele deixou para o nosso município.   

    



Jander Neves
     O terreiro vai fazer 74 anos de existência 
                  

 

 

Terreiro São Jorge
 

Tem uma grande importância por conta dos trabalhos desenvolvidos por Mãe Mirinha, uma mulher extraordinária. Ela ajudou muita gente e utilizava do seu conhecimento para fazer o bem e tentar resolver inúmeras situações de cunho social. Um dos mais importantes pleitos foi a vinda do Hospital Menandro de Farias para o nosso munícipio. Ela pediu diretamente ao governador da época um posto de saúde em Portão, pois a comunidade era carente neste sentido e o governador construiu um hospital. Voinha fazia partos na comunidade e cuidava de pessoas com dificuldade que chegavam no terreiro. Quando era problema espiritual ela cuidava e quando era relacionado a saúde ela encaminhava para os postos de Salvador. A extensão do terreiro era enorme e com muitos filhos de santo humildes. E para ajudá-los, ela começou a doar pedaços de terra para que pudessem construir suas moradias. Voinha ajudou muita gente, ela tinha um coração imenso! O terreiro vai fazer 74 anos de existência e foi um dos pioneiros em questões sociais e culturais em Lauro de Freitas. Acompanhamos todas as gestões e estamos aqui mesmo antes da emancipação.     



Bloco Afro Bankoma no carnaval de Salvador  





      
                               

 Considerações finais


Quero agradecer a você Márcio pelo carinho, respeito e a consideração com o terreiro, projeto Bankoma e a imagem do meu pai. Fico grato de fazer parte das suas entrevistas. Estou acompanhando a banda Bago de Jazz, adoro o som de vocês. Mesmo distante, temos que fortalecer uns aos outros. As portas do terreiro estão abertas e vamos marcar para fazermos futuramente algum projeto juntos.              

             

 

 

  Márcio Wesley | DRT/BA 5469

 Jornalista | MBA em Comunicação 
 e Semiótica na linguagem artística 
 Licenciando em História  
www.blogdomarciowesley.com.br

Bankoma: cultura bantu com influência do samba-reggae Reviewed by Márcio Wesley on abril 22, 2021 Rating: 5

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