Nivaldo Portela: “não tenho mais nada, nem pincéis, telas e tintas”...
Márcio Wesley
Portela foi quem inventou o 'Bumba Caranguejo' que era transportado no teto de um Fusca durante a ‘Lavagem do Caranguejo’ na década de 1980, em homenagem ao seu Caranguejo. Ele conta com orgulho que teve uma de suas telas publicada na capa do Jornal A Tarde, que na época era um lance extremamente importante e para artistas talentosos, como certamente ele é. Confessou que viver de arte era uma tarefa difícil e que há dez anos (na ocasião) estava sem pintar. "Quero voltar, mas não tenho mais nada. Nem pincéis, telas e tintas”, comentou com tristeza no olhar.
Ao ouvir o desabafo fiquei desolado, sentir uma dor na alma e a sensação de incapacidade. A falta de ações sensíveis em apoiar nossos mestres e seus conhecimentos é uma triste realidade que precisa mudar.
Segue nossa rápida prosa...
Na época em que encontrei com Nivaldo Portela Silva, ele tinha 61 anos e mais de 40 morando em Itinga. Me contou que sua vocação para pintura começou na escola e que desde criança as pessoas se impressionavam com seus desenhos. Em 1969 iniciou definitivamente sua carreira, participando de inúmeras exposições em galerias de Salvador. Autodidata e especialista em entalhes em madeira e pinturas a óleo sobre telas com figuras que lembram o folclore baiano. As suas obras ganharam o País. “Os paulistas bateram recorde de compras”, contou com orgulho. Portela deu um tempo da arte para seguir uma outra vocação herdada do pai, barbeiro. “Infelizmente viver de arte é uma tarefa difícil”, explica o artista que nasceu para arte.
Porque o senhor deixou de pintar?
Antes de viver de arte eu era cabelereiro e ajudava meu pai na barbearia dele. Quando ele faleceu resolvi tomar conta do negócio e voltei a trabalhar como barbeiro.
Você tem vontade de voltar a fazer arte?
Tenho sim, mas é muito difícil retornar do zero. Preciso recompor os materiais necessários para voltar a pintar. Como eu já falei, não tenho mais nada. Até a minha oficina (atelier) está em péssimas condições.
Você toparia compartilhar sua experiência com os mais jovens?
Isso seria um sonho! Fico imaginando poder passar para os mais novos o que aprendi durante a vida. Seria muito bom ter um espaço para que eu e outros artistas experientes pudessem compartilhar o dom que Deus nos deu. Isso seria um sonho. Infelizmente a cultura não é vista como ela merece e não temos a valorização que almejamos. Mas, não podemos deixar de sonhar, né verdade?
E assim foi a nossa breve conversa com Portela.
Fico imaginando o quanto estamos atrasados. O fato é que precisamos criar oportunidades para inserirmos os nossos mestres no contexto cultural e educacional. A integração nas diferentes faixas etárias é essencial, uma compreensão da necessidade de se manter viva as nossas raízes culturais. Quero aproveitar e agradecer ao mestre e amigo Artêmio da Luz pela foto de Portela.
Márcio Wesley | DRT/BA 5469

Um blog excelente assim as memórias de Lauro de Freitas serão imortais !!! Parabéns !
ResponderExcluirUm blog excelente assim as memórias de Lauro de Freitas serão imortais !!! Parabéns !
ResponderExcluirObrigado, viva a nossa gente!
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