Quilombolas: "reconheçam nossos direitos"
Márcio Wesley
Seus ancestrais fundaram a comunidade e seus herdeiros defendem com bravura seu território e tradições, mas a luta é árdua. Vencer o poder econômico e o incansável avanço imobiliário que há décadas degrada a natureza e tenta empurrar para fora os guerreiros quilombolas, não é fácil. “Os nossos ancestrais chegaram aqui 1569”, conta com orgulho a líder comunitária e educadora quilombola, Rejane Pereira Rodrigues, 35 anos, nascida de parto normal em casa, através da parteira do Quilombo Quingoma, aqui em Lauro de Freitas, onde mora até hoje. Em 2015 tive a grata experiência de almoçar por lá, o prato foi uma maravilhosa galinha de quintal com direito a molho lambão. Até hoje fico com água na boca. Cheguei a participar de um ensaio e até toquei percussão com os músicos do grupo de Samba de Roda, tirei algumas fotos inéditas, que irei postar nesta entrevista.
Quilombo Quingoma...
Temos cerca de 600 famílias e três mil pessoas morando aqui, fomos certificado em 2013, pela Fundação Cultural Palmares. Temos o grupo de Samba de Roda Renascer, como ferramenta cultural de grande importância para nossa formação e preservação de nossas tradições. A nossa cultura é bem diversificada temos maculelê, capoeira, além de artesãos, poetas e músicos.
No passado éramos livres e sem preocupações, vivíamos da pesca, caça e da agricultura. Éramos felizes e não sabíamos! Éramos só nós e sem as investidas dos grileiros e a especulação imobiliária. Minha infância foi maravilhosa, dormíamos com tranquilidade e sem a sensação de a qualquer momento ser executada.
Desde os 12 anos sentir a necessidade de alguns encaminhamentos da comunidade e de lá para cá, respiro a minha comunidade, defendo nossa ancestralidade, tradições e interesses em comum.
Desejamos a titulação do território e a implementação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável de nossa comunidade.
Durante a pandemia...
Estamos realizando campanhas de arrecadação de alimentos e de materiais de higiene, limpeza e orientando as famílias na prevenção contra a Covid-19. E agora, felizes com a campanha de imunização do meu povo quilombola, um direito adquirido.
Sonho...
Pelo direito e acesso à terra, educação, saúde, programas de desenvolvimento, incentivos para nossa comunidade e a criação do Fundo Quilombola.
Considerações finais...
Que a nossa comunidade possa escolher suas próprias prioridades em todo âmbito. E que nos respeitem enquanto quilombolas que somos e que reconheçam todos nossos direitos garantidos pela Constituição. Quero ressaltar que permaneceremos na luta em prol de uma vida digna para o nosso povo. Agradecer a você Márcio (jornalista) por nos dar a oportunidade de falarmos de nossas riquezas mais valiosas que é o nosso território, que não tem preço! Reverenciar a todos os meus ancestrais que permaneceram na batalha por isso, e que irei fazer jus ao meu legado. A nossa luta continua!
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
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