TRISTE NOTÍCIA: MORREU O RIO IPITANGA!
Márcio Wesley
A entrevista foi realizada em 2006, na época já existia uma preocupação enorme da comunidade e de grupos ambientais em preservar e revitalizar o rio Ipitanga. Estamos em 2021, quinze anos depois, o que mudou neste cenário? Nada! O rio segue poluído, fedido e morto.
Rio Ipitanga que no Tupi quer dizer água vermelha, foi fonte de renda e de alimentação para muitas famílias. O meu pai Nivaldo Santos Nery, 61 anos (na época), descreveu como era o Ipitanga, "nasci aqui em Lauro de Freitas, na antiga Santo Amaro de Ipitanga. Na minha infância era comum vermos lavadeiras na beira do rio e pessoas da comunidade pescando. É verdade! Antigamente esse rio dava muitos camarões e peixes. Muitas famílias foram sustentadas aqui no Ipitanga. Hoje, fico triste em ver o nosso rio desse jeito, um esgoto a céu aberto". Fala com tristeza meu velho pai que mora na mesma casa onde nasceu no centro de Lauro.
Atualmente, os principais degradadores do Ipitanga
são as construções irregulares, desmatamentos, esgotos domésticos e resíduos
industriais. O Ipitanga é o principal afluente do Rio Joanes: sua extensão
linear é de 30 km, nascendo no Sul de Simões Filho, na fazenda Santa Terezinha
e seguindo pelo Norte de Salvador até o Joanes, a Oeste de Lauro de
Freitas.
O nosso rio abrange áreas dos municípios de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas. Seus principais afluentes são: Cabuçu, Cururipe, Poti, Goró, Itinga e Caji. As águas desta bacia são utilizadas no abastecimento doméstico de Salvador e do Centro Industrial de Aratu - CIA. O Ipitanga possuí três barragens: o Ipitanga l, II e III que ajudam no abastecimento público e industrial. A barragem Ipitanga l, foi o primeiro represamento da bacia do Joanes, construída em 1936, com a função de abastecer Salvador e Lauro de Freitas. O Ipitanga II, construída em 1971, destina-se basicamente a fornecer água bruta para algumas indústrias do CIA e sistemas públicos de água dos municípios de Salvador e Simões Filho. O Ipitanga III, no CIA (Barro Duro), supre a Cepel (Simões Filho).
No seu percurso o Ipitanga passa por grandes
indústrias poluidoras, como as pedreiras (o pó das pedras degrada ainda mais o
rio). Em Lauro de Freitas, antes de se encontrar com o Joanes, o Ipitanga
recebe esgoto de diversos bairros, principalmente de Itinga. Em Salvador, os
principais poluidores são os bairros de Cajazeiras, Castelo Branco, Mata
Escura, Fazenda Grande e São Cristóvão.
A ambientalista Maryluce Melo, uma das
coordenadoras do IMBA, (Instituto de Ação Ambiental da Bahia), entidade ambiental
que tem assento no Conselho Gestor da APA Joanes e Ipitanga, explica que o rio
Ipitanga vem enfrentando vários problemas decorrentes dos desmatamentos,
esgotos e construções desordenadas. "O IMBA é uma entidade séria,
trabalhamos junto com as comunidades desenvolvendo ações educativas e sociais,
pesquisas e denúncias. Tudo com o intuito de proteger e conservar os rios
Joanes e Ipitanga". Relata a ambientalista.
Sr. Jorge Góes, pescador há mais de 30 anos, estava em sua jangada tentando pescar próximo à barragem Ipitanga I. E mostrou sua pele escamada, causada pelo pó das pedras. "Raramente encontro peixes, antes a gente pescava de tudo, hoje o pó da pedra mata os peixes e ainda faz coçar nossa pele”, diz o pescador.
Diante da grande degradação da bacia hidrográfica
do Joanes/Ipitanga, a SEMARH (Secretaria de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos), através do programa "Água é Vida", prevê a aplicação de
200 milhões com recursos do BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento para a
recuperação e preservação dos mananciais que abastecem a Região Metropolitana
de Salvador.
"Até agora só foram iniciadas com muita
precariedade as pesquisas em campo. Os órgãos competentes precisam ser mais
transparentes com a aplicação dos recursos nos rios. É preciso lutar contra
essa danosa investida do ser humano na destruição da natureza. Os investimentos
para recuperação dos rios Ipitanga e Joanes precisam ser aplicados com
urgência". Desabafa Maryluce.
(Villas Magazine, edição 84, 2006)
Márcio Wesley | DRT/BA 5469

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