Padre João Abel: "só no século XVII que a construção da igreja foi finalizada"...
Por Márcio Wesley
A Paróquia de Santo Amaro de
Ipitanga comemorou 400 anos de fundação em janeiro 2006. Para a comunidade e
historiadores baianos, a data é importantíssima dentro do cenário cultural do
país. Os quatros centenários até hoje, são revelados pela sua imponência na majestosa
arquitetura da Igreja da Matriz. Um fato curioso é que antes de ser igreja ali
funcionou um posto avançado de infantaria.
Só no século XVII que a construção
da igreja foi finalizada. A igreja foi construída com óleo de baleia e sua
estrutura continua firme até hoje. Esse monumento secular vivenciou o
crescimento e diversas etapas da história da cidade. E quem conhece bastante
sobre este assunto é o padre João Abel, que passou mais de 30
anos como pároco de Santo Amaro de Ipitanga.
Padre João, 67 anos, nasceu e concluiu seus estudos na Bélgica, chegou a Salvador no começo dos anos 1970, trabalhou na comunidade de Nordeste de Amaralina e em seguida iniciou seus trabalhos em Lauro de Freitas. "Na ocasião, o papa estava pedindo para os bispos enviassem padres para ajudar na evangelização na América Latina, África e Ásia", recorda. O bispo de Salvador se comunicou com o bispo da Bélgica e solicitou a vinda de padres para a Bahia. "Cheguei aqui cheio de entusiasmo, e para minha sorte, encontrei algumas freiras que estavam trabalhando na cidade desde 1972, a exemplo de irmã Elizabethe. Recordo que a paróquia era grande, atendia todo o município e mais dois bairros de Salvador, São Cristóvão e Mussurunga. Com o passar dos anos, foi inevitável o desmembramento e em 1983 foi criada a paróquia de Mussurunga. Em 1989, a de São Cristóvão, a de Itinga em 1994 e no final de 2004, a de Vilas do Atlântico, onde estou atualmente", lembra o padre.
João Abel aproveita para falar
como era a cidade quando ele chegou em 1973. "Encontrei a paróquia
praticamente nas suas características antigas. A praça com a maioria das casas
ainda de taipa, nada de asfalto ou calçamento, era terra batida. De acordo com
o senso realizado em 1970, Lauro de Freitas tinha apenas 13 mil
habitantes", recorda.
O sacerdote diz que quando chegou
não havia nenhum balanço sobre a vida paroquial, "não achei documentos
relacionados à Matriz, tive que fazer um apanhado histórico através de livros e
depoimentos de moradores antigos, daí em diante, pude
conhecer melhor as origens".
Depois de anos de pesquisas, o
padre se deparou com documentos que comprovavam que os jesuítas foram os
primeiros padres a pisar na cidade. "Eles vinham a pé, de Salvador, e
cansados, paravam e rezavam. Esses locais de orações, como de costume, eram sempre
marcados com a construção de cruzeiros. "Acredito que o cruzeiro em frente
à Matriz foi um marco deixado pelos jesuítas. O local escolhido sempre era o
mais alto. O cruzeiro que existente no local permanece preservado até hoje,
apesar de diversas construções ao redor.
O padre conta que o local onde se encontra a Igreja da Matriz, existia antes uma espécie de forte militar. "Nas minhas leituras em livros históricos constatei que existia aqui um posto avançado de infantaria que cuidava da paz na região. Então, me pergunto se a origem dessa igreja não está neste posto avançado? Que com o passar dos anos foi se transformando numa capela. Inclusive, quando a gente vê fachada da igreja do lado da praça, notamos que a parede faz uma curva curiosa, que não é vista do outro lado, levando acreditar que ali existia realmente um posto avançado de infantaria antes de ser igreja.
Relatos históricos apontam que a igreja tomou suas características definitiva entre o final do século XVII e o começo do XVIII", explica Abel. Um desentendimento com o donatário Garcia D'ávila resultou na saída dos jesuítas da região. A causa da briga foram os maus-tratos de Garcia D'ávila com os índios tupinambás, que habitavam a região por volta do século XVI. "O português Garcia D'ávíla expulsou os nativos para ficar com as terras, usadas na época para criação de gado. Os índios foram escravizados, motivo que causou grandes protestos entre os jesuítas, e por isso, os religiosos que defendiam os índios foram afastados da região", salienta o padre. Evidências levam a crer que os padres beneditinos começaram a atuar logo depois da saída dos jesuítas, já que o padroeiro da cidade leva o nome de Santo Amaro, um santo beneditino. "Com toda certeza os beneditinos vieram trabalhar aqui, tanto que a paróquia leva o nome de Santo Amaro".
Padre João diz ainda, que a
oficialização da paróquia passou por um conselho real, em Portugal.
"Existia um conselho chamado Mesa da Consciência, que resolvia todos os
assuntos ligados à igreja em Portugal e suas colônias. E esse mesmo conselho
oficializou a criação da paróquia de Santo Amaro de Ipitanga, em 1608".
O ex-pároco de Santo Amaro de Ipitanga, finaliza desejando que o município avance em todos os aspectos, inclusive, no combate à desigualdade social. "Espero que as pessoas sejam ainda mais fraternas e sensíveis, procurando sempre ajudar-se mutuamente. No plano religioso, que a vida cristã seja sempre aprofundada, todos nós somos chamados a sermos missionários de Jesus, e que cada um coloque seus dons a serviço de Cristo e da comunidade", finaliza padre João Abel.
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Muito bom essas informações sobre Lauro de Freitas (antiga Santo Amaro de Ipitanga).Parabéns Márcio Wesley pela matéria!
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