Flora Lee, uma guerreira do palco e da cultura comunitária
Flora Lee é artista plástica, pedagoga, atriz, mãe e avó |
Flora Lee é uma artista de alma contagiante e coração comunitário, alguém que ao longo dos anos soube se transformar e inspirar todos em sua volta. Com uma trajetória marcada pelo amor à arte, ela é hoje uma referência de força, sensibilidade e compromisso com a cultura local. Conhecida por sua presença emblemática e seu talento, Flora é uma figura de destaque em Lauro de Freitas, onde atua há mais de duas décadas.
A conheci em um contexto maravilhoso. Meu saudoso irmão, Duzinho Nery,
um talentoso teatrólogo teve a felicidade de escrever e dirigir o espetáculo “Tropicus”,
inspirado no movimento da tropicália, que na década de 60 levantou o Brasil com experiências
criativas, mostrando a realidade cultural do país com a finalidade de subverter
o modernismo europeu.
Este espetáculo dirigido por Duzinho, no início dos anos 2000, reuniu uma trupe de jovens atores da cidade, que contava com Flora em um dos
papéis centrais. Vi naquela mulher alta, centrada, com seus cabelos loiros
longos e presença imponente, algo que enriquecia a atuação: ela me parecia uma
"guerreira nórdica" no meio da trupe, onde todos estavam
iniciando com vigor, buscando seus espaços e descobrindo o
teatro como linguagem. “Tropicus” foi visceral, para mim um dos maiores
laboratórios de teatro nas terras de Ipitanga.
Com o passar do tempo, Flora se tornou uma amiga querida, alguém cuja trajetória acompanhamos. Hoje, temos o privilégio de conhecer mais sobre sua história, suas raízes e sua caminhada. Caros leitores, recebam com carinho e admiração essa artista que é nossa! Respeitável público, com vocês, Flora Lee.
![]() |
Flora ao lado dos saudosos Edson Oliva e Duzinho Nery |
Sua chegada em Lauro de Freitas...
Vim morar em Lauro em 2000, depois de uma separação. Mas, eu nasci e me criei em Salvador, porém, escolhi essa cidade porque meus pais e irmãos já viviam aqui, e eu também já tinha feito alguns amigos em minha primeira oficina de teatro.
No início, usava o nome de Flora dos Anjos, por conta do sobrenome
do meu ex-marido. Mas, ao decidir recomeçar, senti que precisava de um nome que
refletisse minha própria identidade. Foi assim que escolhi Lee, uma homenagem à
minha adolescência e às figuras que admiro, como Rita Lee e Bruce Lee. Hoje,
gosto de brincar e dizer que Flora Lee está lá, está aqui, está em todo lugar!
Quando cheguei em Lauro, a cultura e o esporte estavam a todo vapor. Existiam projetos por toda parte: artes plásticas, teatro, circo, música, dança moderna, balé, capoeira, vôlei, basquete, futebol, natação. Era uma cidade dos sonhos, com atividades e projetos para todas as idades, da criança ao idoso. E tínhamos um secretário que se dedicava ao social. Para mim, Tabajara foi o melhor secretário de cultura que essa cidade já teve.
Depois dele, cada um pior
que o outro, todos focados só na política. Tenho esperança de que a nova gestão
tenha um olhar especial para a cultura, educação e saúde, com secretários que
realmente conheçam e entendam as necessidades da população. É preciso escolhas
sensíveis e comprometidas com as verdadeiras demandas da comunidade.
No Tupã teatro...
A possibilidade de fazer arte foi algo transformador. No teatro,
encontrei uma nova família, e logo passei a integrar o Grupo Tupã, onde aprendi
a andar nas pernas de pau. Era fascinante, e me fez lembrar daquela admiração
de infância por palhaços e o circo. A cada ensaio, eu me via mais conectada à
arte e à minha essência.
Hoje, com 62 anos...
A arte continua sendo minha vida. Sou mãe de um casal de filhos e avó de três
netos. Tenho formação em Artes Plásticas e Pedagogia, e cada aspecto da minha
trajetória pessoal e familiar contribuiu para a construção da artista que sou
hoje.
Arte na infância...
Desde criança, meu pai fazia campeonatos de desenho para entreter a família. Nos reuníamos em volta de uma mesa de fórmica e desenhávamos com grafite personagens de gibi, competindo para ver quem desenhava com mais semelhança.
Esses momentos eram mágicos e me ensinaram a valorizar o processo
de criação. E o teatro sempre me acompanhou, pois adorava imitar personagens
dos programas de humor. A perna de pau era outra paixão: quando o circo montava
a lona perto de casa, eu ficava deslumbrada com os palhaços nas alturas.
Vontade de aprender sempre...
Sim, sempre quis absorver tudo que achava bonito e interessante. Desde criança, me via como uma esponja que precisava captar o que a vida oferecia. Isso me ajudou a desenvolver várias habilidades, desde confeitar bolos até decorar festas, pintar paredes e fazer esculturas de balões. Quando me separei, aos 38 anos, trouxe comigo meus dois filhos, minha arte e uma vontade enorme de vencer. E a arte foi o caminho que encontrei para sustentar e alegrar minha família.
O teatro...
O teatro tem um poder imenso. Ele une, transforma e faz as pessoas olharem para si mesmas e para o mundo com novos olhos. Em Lauro, o impacto é especialmente forte, pois trabalhamos muito com narrativas da nossa realidade, da nossa cultura local.
Ao ver essas histórias nos palcos, as pessoas se
reconhecem e também começam a refletir sobre o que pode ser melhorado. A arte
abre portas para o diálogo, e acho que isso tem feito a diferença.
![]() |
Ensaio do espetáculo "Tropicus" |
Tropicus e Duzinho Nery...
Foi uma vivência inesquecível! Eu era uma novata e, ao mesmo tempo, me
senti desafiada e acolhida. Duzinho era um diretor que sabia tirar o melhor de
cada um de nós. Ele nos fazia entender que o teatro era mais do que uma
atuação; era uma forma de dar voz à nossa cultura, de falar sobre as dores e
alegrias da nossa comunidade. Tropicus foi minha porta de entrada para um mundo
onde pude me expressar e me transformar.
As influências...
Foram entrando naturalmente. No teatro, a imitação e o humor me ajudaram a explorar diferentes facetas dos personagens. A perna de pau, por outro lado, era um desejo de infância que virou realidade com o Grupo Tupã.
Eu me dediquei
muito, pois queria que as pernas de pau fossem uma extensão de mim, que me
dessem liberdade para criar e expressar algo novo. Incorporar esses elementos é
uma forma de manter viva a magia que sentir desde criança.
Novas habilidades...
A busca por aprimoramento é o que me mantém motivada e conectada com a arte. Sempre achei que aprender era uma forma de me fortalecer e enfrentar a vida com mais recursos. Para mim, um artista nunca deve parar de aprender, pois cada nova técnica é uma ferramenta para se expressar de maneira mais rica.
E
isso vale para tudo, desde fazer uma escultura de balões até andar nas pernas
de pau com uma leveza que encante.
A família e as escolhas artísticas...
Minha família é a minha base. Cresci em um ambiente onde todos
contribuíam para a criação e o desenvolvimento uns dos outros, mesmo sem muitos
recursos. Esse apoio me ensinou a valorizar as pequenas coisas e a ver beleza
onde outros talvez não vejam. Esse olhar sensível é algo que carrego até hoje e
aplico em cada trabalho artístico que faço.
Quando pensa em seu legado...
Meu maior desejo é que as próximas gerações de artistas sejam perseverantes, valorizem suas raízes e vejam na arte uma forma de fortalecer nossa comunidade. Gostaria de deixar uma mensagem de que vale a pena investir na cultura, mesmo em meio a dificuldades. A arte pode ser um caminho para a liberdade, para a expressão e para a criação de um mundo mais bonito e mais justo.
Márcio Wesley
Amo 💓💓 Flora lee é um exemplo de vida. ❤️❤️❤️💙💓♥️🙏🏻💕💕
ResponderExcluirObrigado pelo carinho
ExcluirFlora Lee é uma artista de primeira grandeza. Sou fã do excelente trabalho que ela realiza. Sempre com dedicação, estudo e entrega total aos seus personagens. Uma grande atriz.
ExcluirQue Matéria maravilhosa, tive o prazer de trabalhar com essa artista magnífica, Flora Lee, no espetáculo Trópicus do nosso eterno Diretor Duzinho Nery (in memory) e também no Tupã Teatro, ela se joga de corpo, alma e coração em tudo que faz.
ResponderExcluirObrigado Zezum pelo seu carinho, foi um Honra trabalha com vc , não só em Tropicus , más não Paixão de Cristo TMB um grande bj meu amigo querido.
ExcluirFantástica está matéria ,rever os saudosos Edson oliva e duzinho juntos com flora....muito bom...tempos ricos
ResponderExcluirEssa reportagem me trouxe um misto de sentimentos, um enorme orgulho dessa mulher linda e guerreira que sempre fez o possível e impossível para o melhor da nossa família, parabéns você merece toda essa homenagem.
ResponderExcluirTe amo Flora Lee (mãe).
Obrigado minha Filha, Deus te Abençoe, te Amo TMB. 😍🥰😍💋
ExcluirMarcou a minha infância com a participação da peça teatral Paixão de Cristo, com o icônico personagem do demônio que induzia Judas a forca, era sempre um acontecimento quando ela aparecia com seu figurino em cima da perna de pau. Parabéns Flora
ResponderExcluirAdorei conhecer a tua história, Flora Lee. Excelente matéria, Márcio. Estás te tornando um Guardião da Memória de Lauro de Freitas. Um verdadeiro discípulo do Professor Gildásio. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado querida Deus te Abençoe.
Excluir