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Katia Franco Hofacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...



Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Cultura para mim fala de identidade, do modo de vida das pessoas, seus valores e hábitos"


 

O teatro em Lauro não tem fronteiras e a grande verdade é que não temos ideia de seus “atores” e produções que fervilham pelo mundo a fora. Meu papo é com uma amiga “raiz”, como diz seu irmão Chico Franco, “Marcinho somos minhocas”, ou seja, filhos da terra de Santo Amaro de Ipitanga. Uma nomenclatura considerável e de pertencimento com o território em que nascemos.   


Katia Franco é mais uma que foi arrebatada pelo teatro, na verdade ela sempre teve um pezinho na cultura, mas foi fora do Brasil que a coisa desabrochou, dando frutos importantes na atividade artística. Ela foi fertilizada nas terras de Ipitanga, onde a arte é plural. "Lauro de Freitas é o metro quadrado mais cultural da Bahia", uma harmoniosa reflexão do diretor teatral Tobé Velloso.    


Foi numa Sessão Comemorativa na Câmara de Vereadores que presenciei o seu tino cultural, quando declamou com primazia uma poesia em homenagem ao seu pai, seu Franquinho. Naquele dia notei uma desenvoltura natural para o teatro. Tempos depois soube que tinha ido para Europa fazer um intercâmbio e raramente nos víamos. Durante a pandemia comecei a escrever artigos e entrevistas com pessoas ligadas ao universo cultural e ela passou a interagir com as publicações disponibilizadas no meu blog e redes sociais.


A partir daí estreitamos laços com conceitos ligados as artes e preservação da nossa identidade. Katia esteve aqui em Lauro para visitar a família e aproveitamos para tomar um cafezinho e falarmos sobre cultura. Confesso que fiquei contente com suas produções na área teatral. Muito interessante termos uma filha de Santo Amaro de Ipitanga (nome antigo de Lauro de Freitas) voando longe e com a alma conectada com as nossas origens...



Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Teatro é uma arte completa, porque une várias
outras formas artísticas
"



Katia Franco Hofacker casou e segue criando seus filhos, conciliando o trabalho com o mestrado, sabe muito bem o poder da educação na qualificação humana e profissional. Além do teatro  apresenta um programa infantil numa emissora de rádio e como atriz já esta de olho no audiovisual.       

              

Sou formada em psicologia, mas resolvi colocar meu aprendizado como psicóloga na área artística. Sou atriz e estou concluindo um mestrado em Teatro Pedagogia. Além disso, sou mãe de Janaina e Rafael. E devo dizer, que para mim, a maternidade tem sido a maior formação que poderia ter iniciado na vida...



De família tradicional no campo político comercial..


Na política, por exemplo, nunca existiu um pensamento na direção deu vir a competir para algum cargo político. No entanto, sempre acompanhei a trajetória de meu pai e meus irmãos (Seu Franquinho, Chico e Fausto Franco). 


No Comércio, já foi um pouco diferente, meus pais (seu Franquinho e dona Lourdes) foram fundadores da primeira farmácia e primeiro supermercado do município. Além de terem um armazém e um armarinho (no centro). O comércio era nosso cotidiano. Era quase imperceptível onde terminava os estabelecimentos comerciais e iniciava a nossa casa.


Eu e meus irmãos, começamos a trabalhar desde adolescentes, ajudando nossos pais. Eu, por exemplo, durante muito tempo fiquei responsável pelo caixa da farmácia a noite. E, como nunca fui muito boa na matemática, passava muito troco errado. Morro de rir quando lembro disso. Bom, o tempo passou e acabei optando seguir outros caminhos, hoje sou uma profissional das áreas humanas e das artes.  


Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Muitas pessoas já me perguntaram porque eu fui para a área artística se não tenho ninguém diretamente na minha família engajada nela"



Cultura, arte e teatro...  


A cultura para mim tem um aspecto bastante amplo, que vai muito além das expressões artísticas. Cultura expressa identidade, modo de vida, valores e os hábitos das pessoas. E arte, portanto, vem como afirmação disso tudo. Assim, posso dizer que a cultura não chegou, ela foi, e é, o tempo todo presente, mas o que “chegou” mesmo foi a arte. 


E aí, falar de teatro e da dimensão que ele tem na minha vida da pano para manga, porque eu vejo o teatro em absolutamente tudo que a gente faz. Em cada gesto, cada movimento, cada fala. É uma arte muito completa, porque une várias outras formas artísticas.


Esta pergunta me lembrou um momento quando estava ainda na escola primária. Eu recitei a poesia “José” de Carlos Drummond de Andrade. Eu tinha muita timidez de falar para classe inteira. No entanto, ter recitado aquela poesia me deu tanta apropriação da fala, que nem me lembrei do stress de estar ali. Eu acho que este momento foi um sinal deste ponto de chegada da “arte” na minha vida. 


Muitas pessoas já me perguntaram, porque eu fui para a área artística se não tenho ninguém diretamente na minha família engajada nela. Diante deste questionamento, eu só tenho uma certeza, a arte arrebatou minha alma...  

 


Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Eu posso dizer que o teatro em mim é o pulsar das vivências que tive em Lauro'' 



Paixão pelo teatro...


Eu devo dizer que isto veio através das manifestações culturais e artísticas que tive a possibilidade de viver quando criança em Lauro. Ficava encantada com o grupo de seu Amaro aos domingos na praça Martiniano Maia, em frente a nossa casa.


Não posso esquecer da queima do Judas e das quadrilhas juninas. Dos desfiles de 7 de Setembro; Terno de Reis; Bumba-meu-boi; Lavagem do Pé de Oiti e das gincanas. Enfim, todas essas experiências foram importantes e até hoje norteiam minha jornada como atriz, produtora e arte-educadora teatral.      


Eu dancei na inauguração do Cine Teatro de Lauro de Freitas (18 de agosto de 1983). Estas coisas marcaram demais minha vida e eu me sinto uma privilegiada de ter podido vivenciar uma infância desta forma. Eu posso dizer que o teatro em mim é o pulsar das vivências que tive em Lauro de Freitas e que fizeram e fazem toda diferença no meu processo criativo e na minha forma de ver o mundo.  



Quanto tempo fora do Brasil?


Eu estou há 17 anos em Zurique na Suíca, mas antes vivi um curto tempo em Paris. Fui para Paris através de um intercâmbio universitário e tinha na mala, entre outros desejos, conhecer novas culturas, mas também, a ideia de unir a psicologia com a arte.   


A Suíça não estava nos meus planos, mas o amor falou mais forte!  Mas mesmo estando fora há tanto tempo, sinto muitas saudades do Brasil e de nossa cidade.

 


"Fiz parte da diretoria
do Teatro Maxim Zurique"





Produções e projetos...


Eu fiz parte durante nove anos da diretoria do Teatro Maxim, aqui em Zurique. Este teatro é uma instituição filantrópica, pioneira na cidade por fazer trabalhos voltados ao público imigrante. Desde o começo da sua criação há 16 anos, o Teatro Maxim desenvolve uma metodologia própria, pela qual as produções artísticas são baseadas nos processos de improvisação. 


Este método permite aos participantes de diversas culturas, inclusive suíços, compartilhar o palco com outros objetivos, muito além do entretenimento. Uma espécie de teatro biografia, onde o tema se mistura com as vivências e experiências de vida de cada pessoa.     


Além de atriz, sou Teatro Pedagoga (teatro-educadora) e dirijo grupos dentro desta técnica do Maxim Theater, aliado com meus conhecimentos sobre o teatro do oprimido. Sou também uma das produtoras de um programa de rádio infantil chamado “1,2,3 outra vez”. Este programa tem uma característica especial, porque as nossas crianças fazem parte ativamente do processo. E através delas conseguimos conduzir num formato bilíngue. Neste caso, em português e alemão.

 


Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Percebo que o artista é bem respeitado e o trabalho é relativamente bem remunerado por aqui" 




O processo criativo...


Eu vou tentar fazer uma diferenciação muito voltado a minha experiência pessoal. No trabalho como atriz, uma das coisas que mais chamou a minha atenção foi a forma como as atividades são estruturadas. Um bom planejamento é essencial e os diretores seguem a risca o plano escrito. 


Um outro ponto a ser destacado diz respeito as relações interpessoais. O ambiente artístico aqui é marcado por um limite bem definido entre espaço profissional e o privado. A cultura Suíça tem esta característica nas suas raízes, mas não pensei que isto também se estendia para área cultural. No Brasil, normalmente os amigos de trabalho frequentam as nossas casas, por exemplo.   

            

Algo que vale ressaltar é que, por mais que as artes não são tão bem pagas como as áreas técnicas, percebo que o artista é bem respeitado e o trabalho é relativamente bem remunerado por aqui. O problema é como começar e como abrir os espaços restritos que existem para pessoas que não tem o idioma do pais como língua materna.


Enquanto teatro pedagoga, percebo que no Brasil as pessoas que estão em grupos de teatro são bastante abertas aos exercícios teatrais. O contato corporal faz parte deste ambiente. Mas trabalhando aqui com pessoas de várias culturas e muitas sem experiência no jogo teatral, isto as vezes, é um grande desafio.         





  "Os suíços gostam em primeiro lugar da música, dança, fotografia, pintura, futebol e da nossa capoeira"...



Lauro precisa avançar...


Primeiro, administradores que entendam qual o papel da cultura em uma sociedade e, portanto, em nosso município. A cultura é sempre colocada no lugar do supérfluo, o que é um absurdo! A cidade cresceu economicamente, tendo, portanto, toda possibilidade de tornar a sua história e seus valores imateriais como um dos maiores focos do seu desenvolvimento.


Eu que participei e vivenciei muitos movimentos artísticos em Lauro, é estarrecedor, triste, ver como uma cidade vai se tornando somente num objeto de exploração financeira em detrimento da preservação da sua identidade.


A velha questão da prioridade entre o “ser” e o “ter”. Lauro de Freitas tem um monte de prédios, muitos comércios, mas perdeu totalmente sua essência, sua harmonia, seu centro e suas referências humanas. Eu sinto muito que a nossa cidade tenha sido administrada por pessoas que não conhecem a sua história, nem tão pouco se interessaram por aprender.


Precisa-se urgente de pessoas que tenham amor a este lugar. Que entendam a cultura, como o ponto de partida para todos os outros seguimentos da sociedade e que façam ressurgir não das cinzas, mas das estruturas de concretos, a Lauro de Freitas com todo o seu potencial histórico, artístico e cultural.

 


Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Lauro de Freitas perdeu totalmente sua essência, sua harmonia, seu centro e suas referências humanas"



Intercâmbio cultural...


Sempre sonhei em fazer projetos culturais na cidade onde me criei. Mas ainda não surgiu uma oportunidade. O que já aconteceu em termos de intercâmbio foi uma amiga de Salvador que veio apresentar sua peça em Portugal e conseguimos uma pauta em um teatro aqui. É sempre bom quando vem espetáculos brasileiros para cá. O que praticamente nunca acontece por conta de custos e de logística.


 

Seu sonho...


Em termos sociais e voltados para Lauro, meu sonho seria que uma pessoa como você Márcio assumisse devidamente a Secretaria de Cultura e proporcionasse o que necessita nesta área. Sinto muito, muito mesmo que a nossa cidade não seja representada nas suas bases. A sensação é que tiram o melhor e deixam o pior, muito triste! Infelizmente não temos nenhuma filosofia para nortear na prática a preservação de nossas raízes. 


Em relação a carreira de atriz tenho desejo de participar de mais projetos na área do audiovisual. A experiência de poder atuar em um curta por aqui, encheu os meus olhos.   


Como teatro pedagoga, quero poder fazer muito mais projetos na área social. Quero continuar usando o teatro como ferramenta de autoconhecimento, um caminho para mudanças sociais e um grande meio para falar o que as vezes é indizível se não for através da arte.

 


Kátia Franco Hacker - "O teatro está em tudo que fazemos"...
"Quero poder fazer muito mais projetos na área social e continuar usando o teatro como ferramenta de autoconhecimento"




Agradecimentos...


Eu agradeço a Deus de poder ter sido criada em um lugar com características de interior, mesmo tão perto de Salvador. Este perto/longe, tornava a vida singular. As casas, os becos, árvores, o cemitério, igreja e a praça. Os moradores se conheciam! A sensação do tempo não era designada pelo relógio. Era num outro ritmo. Sabíamos a hora de voltar para casa com o som das cigarras ao final da tarde.



 Vista da praça e igreja da Matriz 
 construída em 1608  


Eu sou eternamente grata por trazer na minha vida o registro desta cidade, amigos, familiares e meus pais, guerreiros e sábios! Márcio, obrigada por entender a sua missão! Obrigada por este trabalho incrível que você faz na direção de salvar e resgatar a nossa identidade e nosso legado cultural. Termino nossa entrevista com um trecho do poema de Drummond que suscita tantas inquietações...


José 

(Carlos Drummond de Andrade)

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

E agora, José?

 


#teatroduzinhonery 

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Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística | 
Licenciatura em Artes Visuais



Katia Franco Hofacker - "O teatro está em tudo que fazemos"... Reviewed by Márcio Wesley on novembro 15, 2022 Rating: 5

2 comentários:

  1. Excelente entrevista! Não conhecia Katia Franco Hofacker. Gostei muito de saber sobre a estória de vida dela, como foi direcionando a sua carreira e como ela fez/faz a intercessão da Psicologia com o Teatro. Admirável em todos os aspectos! Sucesso sempre para ambos, Katia e Márcio Wesley! Abraço afetuoso! 🕊️🌹✨

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  2. Que maravilha,mais um show do talentoso Márcio,nas formas de apresentar e presentear a cultura, nunca soube da existência de Kátia, resquícios de uma sociedade extremamente machista,que somente os homens políticos é quem é apresentados na sociedade. Grata surpresa, orgulho combinado com prazer em saber que temos um pedaço de Ipitanga tão longe.

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