"Mistério da Mobilete Fantasma de Lauro de Freitas"
Em Lauro de Freitas, uma cidade onde o folclore respira nas ruas e as
lendas ganham vida nas rodas de conversas, uma história peculiar ecoa, misturando realidade e fantasia. Entre lobisomens e mulas sem cabeça,
uma figura se sobressai: Seu Cerqueira, o guardião de segredos ancestrais, dono
de um livro que desafia as leis da natureza – o livro de São Cipriano.
Este livro, envolto em mistérios e temores, era dito conter feitiços e
encantamentos que poderiam alterar a ordem das coisas, mexendo com forças além
do compreensível. Seu Cerqueira, com olhar astuto e palavras enigmáticas, era
frequentemente visto folheando suas páginas antigas, murmurando palavras que
faziam os mais supersticiosos se benzerem.
Na década de 70, a Estrada do Coco, veia pulsante da cidade, foi palco
de um evento extraordinário. Com a chegada de um posto da Polícia Rodoviária, alguns
moradores viram seu sossego transformado em tormento, por causas das excessivas
fiscalizações. O pequeno comércio local, especialmente a borracharia de Chico,
sentiu o golpe. A maioria dos veículos que circulavam pelo município eram
antigos, alvo fácil para inspeções. Com o advento desse novo posto policial, os
motoristas deixaram de ir até a borracharia de Chico, vizinha da guarnição, o receio era grande. Afinal, pneus carecas e documentos vencidos eram uma realidade para muitos.
Desesperado, Chico recorreu a Seu Cerqueira, uma figura lendária cuja
fama de interceder no inexplicável percorria a comunidade. Com um
sorriso que escondia mais do que revelava, Seu Cerqueira prometeu uma solução.
E assim, na manhã seguinte, um espetáculo inacreditável se desenrolou.
Pegou sua velha mobilete, mas imbuída de uma energia misteriosa, percorreu a estrada, passando pela frente dos policiais sem piloto, sem explicação. O fenômeno repetiu-se por três dias, tornando-se o assunto da cidade, e transformando céticos em crentes.
A patrulha rodoviária, outrora símbolo de ordem e autoridade, viu-se abalada por um medo terrível. Homens treinados tremiam ao menor ruído, olhando por sobre os ombros, temendo o surgimento daquela mobilete solitária. A visão da mobilete vazia, deslizando pela estrada como se guiada por mãos invisíveis, tornou-se uma sombra constante em seus pensamentos, sussurrando-lhes sobre um mundo que desafiava a razão.
Os policiais, inicialmente desdenhosos, logo foram tomados por um temor arrepiador.
Sussurros de aparições e ruídos sobrenaturais permearam suas noites. O
comandante, em uma tentativa de restabelecer a ordem, confrontou a realidade da
Mobilete Fantasma – e viu com seus próprios olhos a sua razão vacilar. Acuado pela pressão popular e pelo
próprio medo, ordenou a remoção do posto imediatamente. Com isso, a normalidade
retornou à Estrada do Coco, e a borracharia de Chico floresceu.
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Ilustração | Jones Carvalho |
A verdade por trás da Mobilete Fantasma nunca foi desvendada. Alguns
afirmavam que Seu Cerqueira, com seus poderes ocultos, protegia a comunidade.
Outros acreditavam ser apenas uma peça magistralmente executada contra as
autoridades. Mas, independentemente das crenças, a lenda da Mobilete Fantasma
se entrelaçou com a história de Lauro de Freitas, permanecendo um mistério
insondável, uma ponte entre o real e o fantástico, tecendo a tapeçaria do
folclore local.
Seu Cerqueira andava com o livro de São Cipriano debaixo do braço. O povo dizia que era o livro que dava poderes para ele...
O livro...
Quando criança eu
ouvir falar sobre este famoso livro de "São Cipriano” e até hoje a obra faz parte do folclore brasileiro. Meu avô Jaime Nery me
disse certa vez, que era um livro poderoso e cheio de força, mas que as
pessoas não podiam ler.
O livro de São Cipriano é mais uma das contribuições do Cristianismo místico e da herança moura que os portugueses trouxeram para o Brasil durante a colonização.
A obra "original”...
A edição mais antiga em português de que se tem notícia está na Biblioteca Nacional de Lisboa, publicado por volta de 1800. O livro seguiu sendo editado de forma manuscrita até o XVII, mesmo depois da invenção da prensa.
Grimórios, como eram conhecidos, são livros de "magia" muito específicos nos quais o leitor é ensinado a conjurar espíritos e outros seres, além de trazerem receitas de feitiços para o amor, enriquecer e até fazer pactos.
Em geral, São Cipriano segue a mesma linha de outros grimórios, como a Clavícula de Salomão, o Grand Grimoire e o Grimorium Verum. Compilados de magias para tudo o que preocupava a mente dos homens que viveram na mudança do feudalismo para o capitalismo: como ficar rico encontrando tesouros, como fazer qualquer mulher se apaixonar e como se curar de algumas doenças.
Na verdade não se sabe muito bem quem foram os primeiros autores. Existem nomes a partir do século XIX de pessoas que organizaram essas obras, traduziram para outros idiomas e fizeram estudos a partir delas.
Autor:
Mistério da mobilete fantasma de Lauro de Freitas
Márcio Wesley
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística | Licenciatura em Artes

Clóvis.
ResponderExcluirReparem como parece Tude Celestino. Gente de primeira qualidade.
É Ipitanga... Santo Amaro do Ipitanga
Fantástica história Márcio parabéns pelo seu trabalho...
ResponderExcluirLauro conta sua história... cultura e etc...
ResponderExcluirTeatro do oprimido, Renato Lima blog show
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