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Poeta Vicente Lima, uma lição de vida...



Vicente Lima, poeta e escritor - Instituto de Matemática UFBA
Café da manhã com o poeta Vicente Lima
com muitas histórias e poesias

    
     



Vicente Lima, 81 anos, poeta, escritor, compositor, pós-graduado em Gestão e Educação Ambiental e Graduando em Pedagogia. O poeta iniciou a graduação com setenta e sete anos. “Sou pai de quatro filhos homens; tenho uma filha biológica e uma adotiva. Avô de doze netos e seis bisnetos”, conta com orgulho.  


O nosso convidado é um amigo que conheci em encontros na Academia de Letras de Lauro de Freitas. Um inspirado declamador de graciosas poesias. Ao lado de sua companheira Itana de Lima o ativista cultural abriu as portas de casa (antes da pandemia), no final de linha (centro) de Lauro de Freitas para os artistas da cidade. Por lá os saraus davam o tom e lindos devaneios poéticos. Lamenta que com a pandemia tiveram que parar temporariamente os saraus.  


Vicente e Itana me receberam na chácara com doçura. Me deparei com uma imagem singela do poeta Castro Alves pintada no muro.  Tudo sugestivo, afinal, a vida é uma eterna poesia e pensei na mesma hora - “Oh! Bendito o que semeia, livros à mão cheia e manda o povo pensar! O livro caindo n'alma é germe que faz a palma é chuva que faz o mar”... Castro Alves – Espumas Flutuantes, 1870.

 

Tomamos um café da manhã do jeitinho que amo. Café preto quentinho e cuscuz com ovo, adoro! Passeamos pelo quintal apreciando um roteiro natural com plantas medicinais, árvores frutíferas e cantos de pássaros. Conversamos sobre a vida e a importância da cultura para formação de uma sociedade melhor. Entre uma conversa e outra, o poeta declamava e revelava aventuras do passado, “pequenos segredos” com hilaridade. Admito que gosto de prosear com jovens da melhor idade e viajar ao passado com eles.               

 





Quem Somos Nós?


Verdadeiros palhaços,
Que no drama da vida
Escondemos os traços?

Do misto segredo
Que nada resulta
Tem cada palhaço 
Sua face oculta.

Em cada cenário,
Você representa
Um novo papel
De cada lição:

Se pinta, mascara
E troca sapatos
Esconde a verdade
Mantendo status...

Vicente Lima 




Cheguei em Lauro...

 

Fui convidado para trabalhar e administrar a reforma de um  estabelecimento comercial, e, como durou um período de quatro meses, achei por bem alugar uma quitinete, uma vez que eu já estava divorciado e gostei do lugar. Convidei o grande amor da minha vida para morar comigo e recomeçar num local paradisíaco, onde pude contemplar a lua, ouvir o marulhar das ondas desse imenso mar, de onde surgiram muitas inspirações poéticas. Aqui em Lauro de Freitas pude saber o que é amar e ser amado. Moro aqui há oito anos!

 



Prefeitura de Castro Alves, 1969 



Infância...

 

Nasci na pequenina cidade de Castro Alves, onde tive uma infância bastante protegida pela minha mãe, porque ela tinha medo de me perder através de qualquer acidente. Dos doze filhos, onze mulheres   nasceram do ventre da minha genitora e eu fui o último a nascer, o único homem, por isso, ela não deixava eu jogar bola na rua, empinar pipa, jogar bolinha de gude na porta da casa. A nossa casa ficava próxima a linha férrea, uns oito metros da movimentação intensa de trens de cargas e de passageiros. Mesmo assim, escondido desfilava em cima dos trilhos de mãos dadas com uma irmã de cada vez, ou seja, as quatro que ficaram vivas. Aos seis anos, comecei a frequentar a escola.



Igreja de Nossa Senhora da Conceição,
Castro Alves, 1957  


Com oito anos eu já fazia as compras semanais da feira para a nossa família, pois, eu era da confiança dos meus pais. Mamãe ensinou para mim que cada filho teria a responsabilidade semanal dos afazeres domésticos, com isso aprendi a cozinhar, lavar roupas, passar com ferro em brasa e engomar os ternos do meu pai. Muitas vezes, ajudei as minhas irmãs a bordar panos de prato que eram vendidos, além dos enxovais. Lembrando que os tipos de bordados na época eram: ponto de cruz, ponto cheio, bainha aberta, espinha de peixe, ponto de areia, ponto de corrente, dentre outros.

 


Mercado Municipal de Castro Alves, 1970


Aos nove fui solicitado pela minha professora com, praticamente, um mês de prazo a memorizar a poesia “Navio Negreiro” de autoria do poeta Castro Alves, a qual declamei em praça pública, num desfile de Sete de Setembro de 1949 e fui aplaudido, como se diz: ovacionado, sendo convidado todos os anos a declamar poesias de Castro Alves.


Na minha adolescência, aos doze anos, comecei a escrever algumas frases que, aos poucos, foram transformadas em versos. E, finalmente, em poesias. Eu gostava muito de ler na praça General Dionísio Cerqueira, que hoje é o Centro do município de Castro Alves. Brincava de jogar snoker (sinuca) no bar de Silvino, onde era sempre aplaudido por incestar muitas bolas.

 

 

Eu era considerado pelas moças e senhoras como um homem inteligente, bem-procedido e querido por todos, além de um exemplo de simplicidade

 

 

 

Juventude...

 

Também atuei em peças teatrais encenadas no cinema da cidade, promovidas pela minha irmã mais velha, a qual era teatróloga, roteirista, figurinista, diretora e poetisa. Participava das micaretas dessa cidade, desfilando no trio elétrico como sultão rodeado de odaliscas, despertando muitas paixões desenfreadas.

 

Comecei a trabalhar aos doze anos como caixa geral do Moinho de Café São João, durante cinco anos e meio, saindo para prestar serviço militar no Exército.

 



Desfile de 7 de Setembro em Castro Alves,
década de 1960


 Despertar...

 

Os meus primeiros contatos com a cultura foram nos desfiles de Sete de Setembro (Independência do Brasil), no aniversário do Poeta Castro Alves (14 de março de 1847), homenagem ao “Poeta das Américas” ao relembrarem a data da morte dele (6 de julho de 1871), além das micaretas e procissões feitas por minha mamãe, anualmente, aonde a mesma distribuía para todos os participantes do cortejo copinhos de mugunzá de milho branco. Era eu quem fabricava o andor e decorava com ornamentos de flores naturais.  

    

Eu sempre gostei muito de ler, escrever, declamar e cantar nas serestas para alegrar aos ouvintes, e, também, nas madrugadas para alegrar aos mortos. 

 




 

Cedo no batente...

 

 

Com 11 anos trabalhei como vendedor de bananas dentro dos trens. Aos 18 iniciei como bancário no Banco da Bahia S/A. Depois chefe de campo e auxiliar de escritório da Construtora Góes Cohabita. Fui até empresário com venda de confecções ambulante.

 

Fabricante de aguardentes de cana com o rótulo criado por mim,  cujo o título é Chimpanzé, associado aos vinhos de maracujá e jurubeba quinado. E não parei por aí (risos), também ousei como fabricante de colchão de mola artesanal e vendedor exclusivo de mingaus de milho e de tapioca nos trapiches da Indústria fumageira em Castro Alves.  

 


 

Fundadores do Instituto de Matemática
e Física da Universidade Federal da Bahia  



UFBA...


Eu entrei na UFBA (Universidade Federal da Bahia) após trabalhar na construção do Instituto de Matemática através da construtora Globo. Em 1969 a diretora do Instituto gostou dos meus serviços e convidou-me para compor a equipe de técnicos da UFBA, no período de 1969 até 72. A minha primeira função foi a de bombeiro não efetivo. Ainda no ano de 1972 participei do concurso público federal e com os meus conhecimentos básicos de quinto ano primário tornei-me efetivo, sendo nomeado na função de almoxarife, desempenhando também a função de Chefe do Patrimônio e Bens Móveis do Instituto de Matemática. Tempos depois, atuei como secretário de Pós-Graduação em Matemática até me aposentar em 1992.

 

Fundei, com outros colegas, dos mais variados departamentos da UFBA, o Sindicato da UFBA, que hoje é a ASSUFBA. Construir sozinho, durante onze anos, um prédio de seis andares. Trabalhava das 7h às 14h na UFBA e depois emendava até às 19h como taxista para aumentar a renda. 

 

 

Itana de Lima e o nosso querido poeta
  

 

Nunca é tarde para estudar...

 

No ano de 1952, fiz o exame de admissão ao ginásio, sendo aprovado com nota 9,7, porém, não tive chance de cursar. Em 1975, com trinta e cinco anos de vida, eliminei algumas matérias e em 1977, concluí todas as disciplinas, recebendo o certificado do Primeiro Grau.


Tinha um sonho de cursar o Ensino Médio e graduação, mas, realizei apenas quando conheci a minha amada Itana, que, como educadora, me inscreveu em 2017 num supletivo reconhecido, o qual cursei durante dez meses, sendo aprovado com boas notas. Os meus colegas, na maioria jovens, diziam que invejavam ver que, com a minha idade, eu tinha tanto interesse pelos estudos. Em 2017 fiz o vestibular para o curso de Pedagogia e fui aprovado, infelizmente tive que trancar a faculdade, devido a pandemia, no quarto semestre.

 

 

Tanto os gestores, quanto os professores, colegas e a didática na graduação excluem os idosos, a não ser nas atividades em equipe, onde eu mostrava a minha capacidade emocional de lidar com os mais diversos comportamentos e contribuía tanto nas pesquisas quanto nas apresentações

 

Tinha dificuldade de ouvir, devido ao barulho intenso, não esperavam que eu terminasse de anotar e passavam os slides rapidamente. Quando surgiram as aulas on-line as minhas dificuldades não eram auxiliadas como eu esperava.

 


Paixão pela poesia...

 

A minha paixão pela poesia, nasceu desde quando comecei a amar as mais diversas moças da cidade de Castro Alves e fazia questão de elogiá-las com palavras ou versos que fluíam do âmago do meu ser, os quais se tornaram marcantes para cada uma delas. Sou apaixonado por poesias desde criança, quando comecei a ler poesias do eterno Castro Alves, do grande Olavo Bilac e dentre outros.


A maioria das minhas inspirações para compor as poesias surgiam com frases ditadas aos meus ouvidos por algum ser invisível, as quais me deixavam inquieto até quando eu as transcrevo em pedaço de papel. Em seguida, buscava no dicionário os significados das palavras escritas, a fim de verificar se eram coerentes. Percebia, que, além de coerência, tinham coesões.

 





Ler faz bem...

 

Sempre gostei de ler todos os gêneros literários, e, como não pude  dar continuidade aos meus estudos, por ter me tornado “arrimo de família”, estudei numa escola regular até o quinto ano primário, tentei, através da literatura enriquecer o meu cérebro com um vocabulário rebuscado que expresso através das minhas poesias, as quais externo os meus sentimentos vindos da alma.  



Os três livros do poeta Balbuciando Versos e Mesclando
 Sentimentos, Síndromes do Coração no Ápice do Desejo e 
O Sabor de Alguns Beijos e Outros Poemas



Três livros...

 

O primeiro livro intitulado Balbuciando Versos e Mesclando Sentimentos, foi publicado no ano de 1989, patrocinado pelo meu próprio salário como Chefe do Patrimônio e Bens Móveis do Instituto de Matemática da UFBA. O segundo Síndromes do Coração no Ápice do Desejo, foi patrocinado pelo meu terceiro filho, Kelmany Lima, no ano de 2012.  O terceiro, O Sabor de Alguns Beijos e Outros Poemas, foi patrocinado pelo meu segundo filho, Luiz Cláudio Lima, no ano de 2018.


A minha pretensão, futuramente, será publicar o meu quarto livro de poesias. Já tenho rascunhos manuscritos num caderno de aproximadamente oitenta poemas. Mas a minha prioridade é a minha autobiografia, cujo título é O Poder da Superação.

 

 

"O Beijo" - Vicente Lima




O que é cultura?

 

Na minha concepção antropológica, significa nossos hábitos,  comportamentos, formas de expressões, talentos através dos mais variados gêneros artísticos, inclusive a poesia, que formam um conjunto de valores e costumes dentro de uma comunidade.

 



Considerações finais...

 

Concluo essa entrevista, agradecendo ao ilustre jornalista e músico Márcio Wesley pela oportunidade de compartilhar informações sobre o meu histórico, o que para mim está sendo uma honra. 







Referências fotográficas
 
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/castro-alves/historico

https://www.scielo.br/j/hcsm/a/gJGSgFdB6QgmJSkMGfnhtbc/?lang=pt




Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística
Poeta Vicente Lima, uma lição de vida... Reviewed by Márcio Wesley on setembro 29, 2021 Rating: 5

3 comentários:

  1. Que riqueza!
    Rico texto, rico poeta das palavras de ouro reluzente ao sol da Bahia. Rico o amor entre o casal, rica atitude ao abrir seu portão , seu quintal e deixa que semeiem arte. Castro Alves lá no trono fica feliz com o seeu príncipe poeta. Parabéns!

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  2. Em noite agitada de grandes surpresas
    Jovem amisade me trouxe o destino
    O que acontecia não tinha eu certeza
    "Garoto Vicente, poeta menino"

    Com as palavras: precisão e destreza
    Com as pessoas: educação e carinho
    Sempre em gestos de extrema beleza
    Nos faz livres, passarinho....

    Um abraço a meu padrinho na poesia e minha madrinha encantadora de histórias.

    Parabéns Márcio Wesley

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