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Tupã revolucionou o teatro em Lauro de Freitas

 



História do grupo de teatro Tupã
Cia de Teatro Tupã no início dos anos 2000




A entrevista é com uma pessoa especial que deixou um legado teatral extraordinário em nossa cidade e que até hoje os frutos estão sendo colhidos. Muitos não imaginam a força que o Projeto Tupã teve e tem nos movimentos culturais de Lauro de Freitas, iniciado em 1999. A partir daí o nosso teatro foi despertado, inclusive, profissionalmente. Norteado para as questões de pesquisa e a elaboração conceitual, quebrando paradigmas e introduzindo estes estudos nas escolas da rede municipal, na concepção da arte-educação. Levei alguns meses gravando pelo WhatsApp, ouvindo, escrevendo e tirando dúvidas com o nosso entrevistado, que atualmente está morando em Portugal, dedicado a produção cinematográfica.          

 




Hirton Fernandes Jr idealizador e diretor do Tupã Teatro   




Estou falando de Hirton Fernandes Junior, 65 anos, “tenho o mesmo nome de meu pai, uma pessoa que me inspirou a entrar no mundo artístico, de modo particular, no cinema”, revela Jr. “Sempre tive múltiplos interesses, no curso técnico (segundo grau) eu fiz contabilidade, por conta de meu pai ser bancário. Na faculdade cursei Ciências Biológicas, gosto muita das ciências. Enquanto eu cursava biologia, fazia em paralelo disciplinas eletivas. Na ocasião essas disciplinas poderiam ser cursadas em qualquer âmbito da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Iniciei o namoro sério no teatro em 1979”, conta o nosso jovial militante cultural.

 




Do laboratório para o teatro    





Hirton chegou a trabalhar no Laboratório de Genética do Hospital das Clínicas, “um dia cheguei muito cedo, a luz do sol ainda não tinha saído. Estava fazendo uma pesquisa especial sobre cromossomos. Passei o dia inteiro no microscópio, quando sair já era noite, daí me deu um click, percebi que não era exatamente o que queria para minha vida. É um trabalho lindo, mas naquele momento ficou claro que eu desejava outra coisa. Depois disso, fui para o teatro onde dediquei anos de minha vida neste ofício apaixonante”, explica Fernandes.  




Fundação Cultural da Bahia

 

Entrei para Fundação Cultural e comecei a trabalhar no Projeto Chapéu de Palha, viajando pelo interior da Bahia realizando oficinas de teatro. Isso foi de suma importância porque passei a fazer contato com a cultura popular em inúmeros municípios. Viajávamos para cidades remotas com objetivo de incentivar o teatro e sempre no final das oficinas produzíamos um espetáculo com os artistas locais.

 


Em Valença montamos um espetáculo incrível na escadaria da Igreja, até hoje ficou marcado em minha memória. A comunidade fez um abaixo assinado com mais de 5 mil assinaturas para que o espetáculo fosse reapresentado

 





Cine Teatro de Lauro de Freitas uma referência para os atores da cidade 



 


Conhecendo Lauro...      

 

Fui coordenar o Projeto Viver com Arte, voltado para os municípios da Bahia, o projeto me conduziu para Lauro de Freitas, onde comecei a fazer uma oficina de teatro. Foi uma experiência maravilhosa essa aproximação com a classe artística da cidade [1995]. Através de uma oficina formei um grupo no Cine Teatro. Neste período houve uma mostra de teatro em Salvador, onde eu vi a apresentação de um grupo que veio da Dinamarca, “Odin Teatro”. Fui assistir ao espetáculo “Cosmos”, apresentado no Gregório de Mattos, fiquei encantado. Este registro não saiu da minha cabeça, eu sabia que um dia eu irei visitar este grupo na Dinamarca.  


 

Em 1984 fui o primeiro diretor do Teatro Solar Boa Vista, onde ganhei experiência administrativa como diretor de espaço teatral      

 

 



Eugenio Barba e o Odin Teatro 




Eugenio Barba...

 


Em 1988 tive a oportunidade de ir para Europa realizar um antigo sonho. Confesso que eu nasci com a mochila nas costas, sempre gostei de viajar, meu negócio é correr mundo, risos... Fui para o velho mundo passar seis meses. O   primeiro mês fiquei na Inglaterra, mas queria mesmo era fazer intercâmbio com o grupo de teatro dinamarquês, esse era o plano. O amigo e diretor Paulo Dourado, tinha aproximação com o Odin Teatro. Paulo me deu uma carta de referência indicando para que eu fosse aceito pelo grupo. Passei três meses conectado com está experiência. Na Dinamarca conheci a Escola Internacional de Antropologia Teatral, uma invenção de Eugenio Barba, um grande investigador teatral e assim mergulhei de corpo e alma.




 

Tupã Teatro em programação de intercâmbio com Ragnarock,
da Dinamarca nas cidades da Bahia




Eugenio vem da herança do teatro do século XVI e início do XX. Antes de formar o Odin Teatro, ele passou três anos na Polônia trabalhando com Grotowski, que influenciou particularmente a geração dos anos 60 com o teatro de investigação e profunda dedicação do trabalho do ator, comprometido com as relações entre teatro e público. Inclusive, invertendo a aproximação entre público e atores durante as encenações, quase se confundindo, pois se misturavam. Obviamente cada um em seus devidos lugares, apesar de juntos.

 



Pesquisa internacional...

 

O Odin Teatro foi fundado na Noruega em 1964 com atores recusados da Escola de Teatro, foi essa tradição que eu fui buscar e encontrei. A Escola Internacional de Antropologia Teatral realiza encontros anuais e bianuais com pesquisas e estudos, buscando os princípios recorrentes entre as diversas tradições do teatro e da dança do Ocidente e Oriente, retomando a ideia de origem dessas artes.

 



Trupe Tupã Teatro nas escolas de Lauro de Freitas   



Participei de três encontros, o primeiro em Portugal em 1998, depois em 2000, na Espanha, Sevilha e em 2002 na Alemanha. Cada encontro tem um tema proposto para investigarmos e o fantástico disso tudo é poder unir a teoria com a prática. Cada encontro dura cerca de um mês e na culminância elaboramos espetáculos em cima dos temas debatidos com atores de vários países e tradições teatrais.

 

Essas vivências mudaram a minha vida, despertou inúmeros projetos e a vontade de compartilhar este aprendizado no Brasil. Então, decidi formar um grupo para desenvolver este trabalho.

 

 



Cia de teatro em Lauro...

 

Como eu já tinha uma ligação com Lauro, apresentei o projeto para dona Lícia Magalhães que na época trabalhava na Prefeitura. Eu sempre faço questão de agradecer as pessoas que abrem portas. Tenho o maior respeito com isso, pois só conseguimos entrar, se alguém abrir a porta. Não adianta arrombar ou meter o pé! Tem que ter uma pessoa que sintonize com o seu projeto, recomende e facilite o caminho.  

 



Tupã no saudoso Jornal Expressão, na época eu era o articulador cultural do jornal 




Nascimento do Tupã...                 

 

Fizemos uma audição para a criação de uma companhia. Hoje me questiono sobre isto, pois, eu queria era ter condições de trabalhar com todos os inscritos, mas, tinha uma questão, os selecionados receberiam um salário mensal para se dedicar ao grupo. Desse modo não tínhamos condições financeiras para abraçar todos. Foi um longo processo de seleção numa sala no Jockey Club, onde atualmente está instalada a Faculdade Unime. Nesta sala fizemos oficinas e todo o processo de triagem para a companhia de teatro. Vou revelar uma coisa que nunca falei antes para ninguém, sobre uma pessoa que não foi selecionada e que eu admiro, Duzinho Nery.


 

Que maluquice não ter selecionado Duzinho, ele poderia ter entrado no grupo, uma pessoa talentosa e tão ativa culturalmente. Apesar do seu enorme talento não ficou no núcleo inicial do Tupã. Mas por outro lado, ainda bem que não, sabe porquê? Porque ele produziu projetos interessantes no município e até hoje é uma figura fundamental no desenvolvimento da cultura teatral em Lauro de Freitas

 


Depois desse processo, formamos o grupo e Tabajara que era o secretário de cultura, passou a dialogar diretamente conosco e disponibilizou duas salas no Ginásio de Esportes. Uma sala utilizávamos para estudos teóricos e nossa biblioteca e a outra para ensaios. A sala de ensaios Tabajara requalificou com pisos de madeira anti-impacto para preservar a saúde dos atores. Os ensaios eram pesados com dança, pulos e saltos.

 



Tupã Teatro em Lauro de Freitas
O Tupã implementou um novo conceito teatral na comunidade   




Poemas de Tude... 

 

Nesta perspectiva de valorizarmos a cultura de Lauro de Freitas, montamos o primeiro espetáculo do Tupã - “Tude é Poesia”. O poeta Tude Celestino deixou um legado para o município e sua filha Tina Tude esta mantendo as raízes até hoje. Pegamos alguns poemas do poeta e montamos a nossa primeira experiência cênica. Depois deste belíssimo mergulho nas poesias de Tude, iniciamos o espetáculo Yaba.   

     

 

Apresentamos várias vezes o espetáculo Tude é Poesia no Projeto Essa é Nossa Praia, que circulava na orla de Lauro com shows, grupos de dança, capoeira e teatro. Um projeto que reunia artistas locais     

 

 


 

Tupã multicultural...

 

O professor de música Souza foi fundamental na introdução da consciência da voz dos atores. Na época a Secretaria de Cultura de Lauro de Freitas contratou o professor para nos orientar com as questões musicais e alinhar as vozes do grupo. Tivemos também o mestre de capoeira Djalma, que nos deu aula de corpo. Com isto, o grupo foi amadurecendo e se adequando com outras linguagens, um processo importantíssimo. [Mestre Souza faleceu em 2013].

 


Tupã encorajou a arte de rua no munícipio 



 

Espetáculo Yaba...

 

Decidimos contar através deste espetáculo a história do povo brasileiro, a partir das lendas indígenas com base na música brasileira. Foi um grande musical com poemas de Castro Alves. De repente chega um convite de um grupo dinamarquês de teatro que viria para o Brasil e passaria por aqui pela Bahia e nós recebemos este pessoal. Fui ao Sesi apresentei um projeto de teatro itinerante, eles tinham um caminhão palco, queríamos circular pelas comunidades próximas junto com o grupo da Dinamarca neste palco de rodas.

 

Conseguimos o caminhão com o Sesi que articulou com as prefeituras da Região Metropolitana de Salvador, transformando a ideia no Projeto Zig Zag Cultural com o Tupã Teatro e o grupo Ragnarock da Dinamarca. Foi uma mistura bacana e uma troca de experiência sensacional. Nos lugares que chegávamos promovíamos uma caminhada cultural com a participação de grupos locais e depois nos apresentávamos no caminhão palco.

 



Foi o primeiro grupo a ganhar um importante prêmio nas terras do Ipitanga

 




Prêmio Copene 2001...

 

Aproveitei e inscrevi o Tupã no Prêmio Copene (atual Braskem), na época não era comum um grupo de teatro com o nosso perfil se inscrever nesta premiação. Fizemos algumas apresentações no Teatro do Sesi – Salvador e nos endividamos para pagar as pautas. Mas isso nos colocou no circuito e a comissão do prêmio foi assistir o nosso espetáculo. Para a nossa surpresa o Tupã foi premiado como Companhia de Teatro Revelação.

 

 


Hirton Fernandes semeador do teatro de pesquisa 




Tupã na Dinamarca...

           

Em 2001 decidimos ir para Dinamarca, mas as passagens aéreas eram caríssimas, não posso esquecer de mencionar Eliana Pedroso, que através do Ministério da Cultura conseguiu as nossas passagens, desse modo, o Tupã pôde viajar. Nos apresentamos no próprio Odin Teatro e os dinamarqueses têm um hábito peculiar, quando eles gostam do espetáculo ficam em estado de êxtase de tal forma que não conseguem aplaudir. Daí fica aquele clima no ar, que é uma coisa emocionante. Fiquei muito feliz quando isso aconteceu com a gente! A plateia ficou imobilizada por um tempo, até que uma pessoa puxou uma palminha discreta, depois disso, o teatro explodiu em aplausos.

 


       


            "Yaba", espetáculo deu ao Tupã o Prêmio Especial Copene / Braskem 2001





Tupã nas escolas...

 

Criamos o projeto “Tupã Arte e Educação nas Escolas” com o diálogo direto com as escolas de Lauro de Freitas. Os atores do Tupã formavam seus próprios grupos de teatro onde eles participavam e compartilhavam experiências com os estudantes. Sugiram deste projeto belos experimentos e no final das oficinas fazíamos uma apresentação desses grupos no Cine Teatro. Sem sobra de dúvidas, uma verdadeira transmissão de conhecimento com a comunidade escolar.

 




Experiências teatrais realizadas pelo Tupã Teatro, início dos anos 2000 direção de Hirton Fernandes


 



Considerações... 

 

Eu no fundo sabia que iria correr mundo, sempre gostei de viajar e conhecer novas culturas. Comecei a perceber que os “Tupãs” precisavam voar com suas próprias assas. Sabe aquele momento que a gente precisa estimular os filhos a adquirirem suas próprias experiências? Assim foi com o Tupã. Mas não poderia deixá-los na mão. Então, comecei a orientá-los a entrarem para a Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), alguns entraram. O Tupã não acabou! O Tupã é uma experiência viva em mim e em todos que fizeram parte deste projeto.         










Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Jornalista | MBA em Comunicação 
e Semiótica na linguagem artística 
Tupã revolucionou o teatro em Lauro de Freitas Reviewed by Márcio Wesley on agosto 19, 2021 Rating: 5

Um comentário:

  1. Top essa matéria!! Dados, fotos atuais e antigas, vídeos.... que riqueza!! Parabéns!! Excelente resgate dessa riqueza de Santo Amaro de Ipitanga!!

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