LEVANTE DO RIO JOANES - uma sangrenta batalha pela liberdade!
As
páginas mais sangrentas da história de Lauro de Freitas – antiga Freguesia de
Santo Amaro do Ipitanga - que se tem notícias, são, sem sombra de dúvidas, as
que relatam os acontecimentos que tiveram como cenário o bucólico Rio Joanes,
na localidade de Portão, no distante e tumultuado dia 28 de fevereiro de 1814.
Por
essa época, a cidade do Salvador ainda respirava a recém sufocada Revolta dos
Alfaiates, que acabou por levar à forca e ao esquartejamento os quatro
principais acusados de a liderarem, todos negros. O emprego da força e da
crueldade não intimidou os escravos (as) que deflagravam uma série de rebeliões
reivindicando o fim da escravidão e/ou por motivos religiosos.
É totalmente necessário as cotas raciais. É uma reparação social, que iniciou tardiamente em nosso Brasil. Mais do que nunca deve seguir firme
O Levante do Rio Joanes (1814) faz parte dos movimentos que antecederam a Revolta dos Malês em 1835. A expressão Malê vem do imalê que na língua iorubá significa muçulmano.
No
seu livro intitulado A Revolução dos Malês, o historiador Décio Freitas
escreveu, com riqueza de detalhes, as rebeliões escravas que tiveram lugar na
cidade do Salvador e adjacências, na primeira metade do século XIX, no qual
conta importantes histórias do nosso povo, relatando inclusive o sangrento
combate do Rio Joanes. Vejamos o relato do historiador:
Na armação de Francisco Lourenço, os insurretos eram esperados pelos escravos onde se repetiram as mortes e os incêndios. Logo seguiram para a povoação de Itapuã, onde ficava a armação de João Vaz de Carvalho. Na marcha, gritavam: Morram os brancos e os mulatos e viva a liberdade!
Em
Itapuã, também mataram e incendiaram, dirigindo-se a seguir ao Rio Joanes
tentando alcançar o Recôncavo. Durante esse tempo, a notícia do levante chegara
em Salvador. Imediatamente o governador enviou ao encontro dos rebeldes um
destacamento de trinta homens da cavalaria e alguns soldados de infantaria,
comandados pelo seu ajudante de ordens, coronel José Tomas Bocaciari. Com igual
rapidez a notícia chegou aos distritos circunvizinhos. O sargento-mor de
milícias da Torre (castelo da Praia do Forte), Manoel da Rocha Lima mobilizou
sua força e todos os moradores, que marcharam ao encontro dos insurretos a fim
de impedir que seguissem para o Recôncavo.
O encontro se deu em Santo Amaro do Ipitanga, ao longo do caminho que margeava o Rio Joanes Manoel da Rocha Lima intimou os revoltosos a se renderem, mas um dos chefes dos “rebeldes”, que montava a cavalo, adiantou-se e respondeu: “Morrer sim, entregar não”. Em seguida disparou contra a tropa um tiro de arma de fogo. Os escravizados não esperaram as reações, tomando logo a iniciativa. Não tinham mais que três ou quatro armas de fogo, desvantagem que naturalmente lhes foi fatal. Ainda assim, o combate se prolongou por algumas horas. Os negros não recuavam, só cedendo quando as balas os abatiam. Por volta das 14 horas, estavam completamente derrotados e a revolta sufocada.
Caldas Brito, que parece haver examinado detidamente os autos, diz que os insurretos tiveram cinquenta mortos, além do maior número de feridos e prisioneiros. Os demais se dispersaram. Muitos se jogaram ao rio, morrendo grande número afogados; outros se enforcaram nas árvores.
Morreram
quatorzes pessoas brancas. Um número ainda maior se feriu. Os revoltosos
incendiaram um total de oitenta casas, fora as instalações das armações. Os
prisioneiros foram acorrentados e conduzidos para Salvador. No dia seguinte,
pela manhã, o ouvidor seguiu para o local do crime a fim de proceder à devassa.
Embora reconhecendo que ao major Lima se devia a salvação pública, o governador
criticou-o por haver agido “precipitadamente” e usado armas de fogo contra “uns
miseráveis”.
Ao longo de mais de três séculos navios portugueses e brasileiros embarcaram pessoas escravizadas em quase 90 portos africanos, fazendo mais de 11,4 mil viagens. Dessas, 9,2 mil tiveram como destino o Brasil
A
sentença foi proferida no dia 17 de novembro do mesmo ano. Seis negros
condenados à morte foram conduzidos pelas ruas públicas de Salvador até a praça
da Piedade onde, depois de enforcados, tiveram suas cabeças cortadas, as quais
foram levadas aos lugares dos delitos e lá expostas até que o tempo as
consumisse. O combate produziu grande comoção em Salvador e repercutiu
intensamente na “corte”.
O
massacre às margens do Rio de Joanes não será esquecido. Tem seu lugar marcado
no calendário histórico e escolar do município. Recontar e ressignificar a
nossa história é preservar a nossa cultura.
Historiador Gildásio Freitas, publicado no livro "DE IPITANGA A LAURO DE FREITAS: NARRATIVAS HISTÓRICAS DO POVO IPITANGUENSE". O livro disponível na plataforma digital Amazon - https://www.amazon.com.br/Ipitanga-Lauro-Freitas-narrativas-ipitanguense-ebook/dp/B08BTX6RC5
Quem quiser adquirir o livro impresso
(71) 98701-7643 ou 99202-4378
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística
Nenhum comentário: