Breve histórico de Lauro de Freitas – de 1552 a 2021
O Município de Lauro de Freitas, antigo Santo Amaro do Ipitanga, tem suas origens nos primeiros tempos do Brasil colonial, no longínquo ano de 1552, quando Garcia D’Ávila, criado e almoxarife de Tomé de Souza, pediu e obteve dele, que era o Governador - Geral do Brasil, no dia 21 de maio, duas léguas de terras ao longo do mar, nos campos de Itapuã e Vale do Rio Joanes.
Foi o 1º marco lusitano na região,
pois até então só os índios tupis aqui habitavam. Garcia D’Ávila recebeu
algumas das primeiras cabeças de gado trazidas para o Brasil e aqui pelos
campos de Tatuapara, onde ergueu a sua fortaleza, e, pelos arredores (Aldeia do
Espírito Santo, Ipitanga e Itapuã), fez o ponto de partida no Nordeste, para o
ciclo do gado, de tão grande importância para o nosso país.
Os jesuítas também marcaram presença importante. Já em 1578 temos
o registro de suas passagens por nossa terra, quando de uma visita à aldeia do
Espírito Santo (atual Vila de Abrantes), ocasião em que é atribuído um milagre
ao Padre Anchieta, ao salvar um índio de se afogar nas águas caudalosas do Rio
Joanes, e, em 1608, fundam a freguesia de Santo Amaro do Ipitanga.
Santo Amaro ou Mauro foi Monge Beneditino Italiano, que morreu no ano de 578. Padroeiro dos fabricantes de velas e carregadores é também o padroeiro do nosso município onde é festejado devotamente em janeiro, sendo o dia 15 a ele dedicado, no calendário litúrgico. Arquitetonicamente barroco-maneirista, a Igreja Matriz ocupou por longo período a sede da freguesia e originou ao seu redor o povoado, hoje, sede do município.
A Igreja Matriz adquiriu suas feições atuais no século XVIII
No ciclo da cana-de-açúcar, a região teve o seu esplendor, destacando-se os engenhos: Japara, Cají, Quingoma e São Bento. Esse esplendor, entretanto, foi lamentavelmente alcançado às custas do trabalho escravo dos negros vindos da África nas condições mais desumanas possíveis, substituindo os índios que iam sendo também impiedosamente exterminados pelos portugueses.
Grande resistência houve por parte dos índios e negros escravizados, culminando com o “Combate do Rio Joanes”, protagonizado por negros muçulmanos, travado nas margens do rio, em Portão, no dia 28 de fevereiro de 1814 e que resultou em muitas mortes.
Em meados do século passado, com os reflexos do fim do ciclo da cana-de-açúcar, da gradativa extinção da escravatura e de um surto de cólera que dizimou quase toda a população, dentre outros fatores, a região entrou em declínio, situação esta, que não se altera muito, mesmo com a instalação do campo de aviação após a 1ª Guerra Mundial e a construção da Base Aérea e do aeroporto durante a 2ª grande guerra.
Em 1962, depois de resoluções, decreto e lei, por indicação do
então Vereador da capital Dr. Paulo Moreira de Souza, atendendo aos anseios de
velhos moradores, o distrito de Ipitanga é então emancipado, com o nome de
Lauro de Freitas, nome dado em homenagem ao Dr. Lauro Farani Pedreira de
Freitas, falecido tragicamente em acidente aéreo, quando de sua candidatura
praticamente vitoriosa a Governador da Bahia.
É nesse mesmo ano, que na paradisíaca praia de Buraquinho, Glauber Rocha dá a largada para a sua carreira internacional, ao concluir as filmagens de Barravento, que conquistaria o prêmio Opera Prima no Festival Internacional de cinema de Karlovy Vary, na Theco-Eslováquia. A praia de Buraquinho serviu de cenário para quase todo o desenrolar do filme. Nasce assim o nosso município sob o signo da cultura.
A partir da década de sessenta ironicamente, são os hippies que fugindo da civilização em direção ao paraíso de Arembepe, acabam atraindo uma multidão de curiosos, aventureiros, empreendedores e especuladores. Com estes um ciclo de desenvolvimento se acelera nessa mesma década, com a construção da Estrada do Coco e se consolida nos anos noventa com a linha verde, multiplicando-se o número de villages, condomínios, loteamentos, bancos, shoppings, faculdades, clinicas, restaurantes, bares, barracas de praia de grande porte, pousadas e outros estabelecimentos voltados muitos deles para o turismo, que se constitui numa grande vocação e potencialidade econômica da região.
A Lauro de Freitas, que é uma espécie de Capital Regional do Litoral Norte (Costa dos Coqueiros), está reservado o importante papel de servir de modelo de desenvolvimento industrial, para as demais localidades dessa extensa orla marítima que se estende até os limites do Estado de Sergipe.
Bumba-meu-boi | Centro de Lauro de Freitas
Atividades turísticas não faltam, pois, o município, apesar da sua reduzidíssima extensão, possui além das belas praias, rios com possibilidades de serem ainda recuperados, lagoas, quedas d’água e resquícios da Mata Atlântica, dentre outras belezas naturais. Vale ressaltar, que nesse resquício de mata, temos a responsabilidade de um olhar e uma atenção muito especial para a área quilombola do Quingoma, onde está localizada também, uma pequena, mas significativa reserva indígena que urge da necessidade de ser preservada.
Samba de Roda Quilombo Quingoma | Lauro de Freitas
Uma rica história, grande influência da cultura indígena, que ficou gravada na nomenclatura de vários de seus lugares; uma grande herança da cultura africana que se expressa em seus muitos terreiros de candomblé; grupos de capoeira; na voz ritmo de seus sambistas e da cultura europeia, manifestada nas rezas de Santo Antônio, nas procissões, nos ternos de reis, no carnaval e em outras manifestações populares, além da rica arquitetura e azulejaria do seu templo de mais de quatro séculos, localizado na sua praça principal.
Resultado desta fusão de culturas, temos ainda uma rica e variada produção artesanal, culinária, artística e literária que sinalizam para um polo de economia criativa que já começa e se consolidar. Exemplos disso são iniciativas da sociedade civil, como o surgimento e atuação do Polo de Atores e Dramaturgia, da Associação Comercial e Empresarial, da Associação dos Artesãos, da OSCIP Rio Limpo, da SALVA - Sociedade dos Amigos do Loteamento Vilas do Atlântico, da Arcas-Centro de Memória, da Arena Circo e de um embrionário polo audiovisual, só para citar algumas. Governo, empresariado e sociedade civil como um todo, através de suas diversas instituições unidas são a fórmula do sucesso. Município forte, são instituições fortes.
Some-se a tudo isso, a privilegiada proximidade do aeroporto
internacional de Salvador e da capital como um todo, otimizada recentemente com
a chegada do metrô e a inauguração da Via Metropolitana.
Como se não bastassem tantas oportunidades, alguns dados recentes
estão provocando uma nova explosão de desenvolvimento regional: o inicio em
breve do funcionamento do Hospital Metropolitano e do Mega Shopping com
gigantescos complexos empresariais e habitacionais nos seus entornos. Envidar todos os esforços é o nosso papel,
para que esse progresso não seja mais um progresso excludente.
Historiador Gildásio Freitas, publicado no livro "DE IPITANGA A LAURO DE FREITAS: NARRATIVAS HISTÓRICAS DO POVO IPITANGUENSE". O livro disponível na plataforma digital Amazon - https://www.amazon.com.br/Ipitanga-Lauro-Freitas-narrativas-ipitanguense-ebook/dp/B08BTX6RC5
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Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística
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