ALDEIA TUPINAMBÁ NO LITORAL NORTE DA BAHIA
Nossa prosa de hoje com uma amiga das antigas que cresceu aqui em Lauro de Freitas, Márcia Almeida, nossa querida Aykrã Tupinambá, 52 anos, filha do Pajé Aripuanã Tupinambá, segunda secretária da Associação da Aldeia Indígena Tekoá Portal Tupinambá, localizada no município de Entre Rios, Massarandupió, litoral norte baiano. Ela também é a coordenadora geral do Movimento Indígena do Sudoeste da Bahia (MISB) e presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Buraquinho – AMABU. Portanto é uma guerreira em prol da igualdade social, dos movimentos de classe e na preservação dos povos indígenas.
A desigualdade com os povos indígenas no Brasil é uma luta
que permanece até os dias atuais, a reparação e o respeito é uma realidade que
nunca deve sair das nossas pautas. Milhares de
indígenas foram mortos por conflitos armados pelos invasores europeus, doenças foram
trazidas pelos estrangeiros e a luta contra a escravização foi dolorosa. Em
meados de 1600, o número de indígenas já havia caído de 5 milhões para 700 mil.
No
início do período colonial a sociedade Tupinambá vivia da caça, pesca, além de
praticar a agricultura da mandioca e a horticultura, possuindo equipamentos (primitivos)
que permitia a realização dessas atividades. A divisão de trabalho era por
sexo, cabendo aos homens as primeiras atividades e às mulheres o trabalho
agrícola, exceto a abertura das clareiras para plantar, tarefa essencialmente
masculina. O plantio e a colheita, o preparo das comidas e o artesanato - confecção
de vasos de argila, redes, etc, eram trabalhos femininos. Instrumentos de
guerra – arcos, flechas e lanças, eram feitos pelos homens. Os artefatos de
guerra ou de trabalho eram de madeira e pedra.
Os Tupinambá foram os primeiros habitantes da nossa região, inclusive aqui em Ipitanga, atual Lauro de Freitas. Precisamos nos unir a luta para garantir a sobrevivência dos nossos ancestrais, apesar da Constituição Federal Brasileira (art. 231 e 232) reconhecer o respeito às formas de organização própria dos povos indígenas, além de suas crenças costumes, usos e tradições bem como os direitos originários sobre suas terras, ainda nos deparamos com a falta de sensibilidade e a arrogância das grandes empresas, empresários, grileiros, ineficácia de fiscalizações e o acolhimento das políticas públicas em defesa dos povos indígenas.
Em pleno 2021 a destruição, desmatamento, desequilíbrio ambiental, extinções de animais, as invasões de terras, conflitos, poluição de rios, lagos e nascentes continuam a assombrar os nossos indígenas. Mas a luta por dias melhores continua...
Sobre a Aldeia
O Portal Tupinambá nasceu em uma noite de
ritual dentro da mata, local onde o povo tupinambá habitava anteriormente.
Durante a cerimônia o Xamã – Montanha de Rosas, que conduzia o ritual, percebeu
a presença do povo tupinambá e o pedido da espiritualidade para que uma
retomada fosse feita na região. Dois descendentes dos povos originários que se
encontravam presentes, o Cacique Tupinambá Gobi Boré Gavião e Nankupé Tupinambá
Fulkaxó, presidente da Associação Aldeia Portal Tupinambá, se
habilitaram imediatamente para encampar e atender esse desejo da ancestralidade
em criar um projeto de retomada que pudesse buscar as memórias ancestrais do
povo tupinambá, reunir seus remanescentes, trazer a história e implantar a
aldeia.
Sustentabilidade
O Cacique Paruanã reside no Portal Tupinambá
com o grupo Pawi, onde realizam a confecção e venda de artesanatos. Recebem
visitantes e produzem atividades dentro do contexto da cultura indígena, identificam
descendentes e etnias. A aldeia se tornou num espaço multiétnico ainda que
voltado para a retomada do povo tupinambá com uma representatividade
considerável e participativa da vida cultural do município de Entre Rios,
Massarandupió.
Organização
A aldeia é administrada pela Associação
Indígena Tekoá Portal Tupinambá desde julho de 2020 e tem como finalidade,
retomar a aldeia original do povo Tupinambá, mas, para tanto, estamos reunindo
os descendentes e remanescentes do povo tupinambá e das aldeias antes
existentes na região do litoral norte da Bahia, juntamente com outras etnias de
povos originários como o povo Kariri-Xocó; Fulni-ô e Fulkaxó que tem
participado desse movimento desde o início do projeto, o que faz
com que a nossa aldeia se torne multiétnica, reunindo e acolhendo povos
indígenas de diversas etnias em um projeto de resistência ao colonialismo e de
independência, buscando criar uma comunidade autônoma que possa subsistir e
gerar renda através do seu próprio trabalho.
Agrofloresta
O Pajé Aripuanã juntou a este projeto o seu
grupo tupinambá de Vitória da Conquista – BA, que teve suas terras tomadas
dentro de um processo de reintegração de posse movido pela prefeitura de
Vitória da Conquista. O projeto conta com diversas vertentes de negócios dentro
do processo de recuperação do solo e implantação de agrofloresta com plantio
consorciado de produtos orgânicos dentro de um programa de agricultura familiar
que, desse modo, tenhamos a oportunidade de gerar alimentos orgânicos de boa
qualidade para a subsistência e o excedente utilizado para comercialização com o objetivo de geramos renda
para os membros da aldeia.
Banco de Crédito
- Instituição interna
para gerir os recursos, fomentar a produção e financiar a baixo custo
as necessidades principais e investimento dos associados.
Orgânicos
- Horticultura (alface,
couve, repolho, cebolinha, salsa, coentro
- Grãos (feijão e milho)
- Raízes (mandioca,
inhame, batata, batata doce, cenoura, beterraba)
- Legumes e
Verduras (tomate, chuchu, abóbora, berinjela)
- Frutíferas (limão,
laranja, cajú, abacate, coco e dentre outras)

Diretoria da Aldeia
Produção de Ovinos
- Galinhas (carne,
ovos, adubo e penas)
- Patos (carne,
ovos, adubo e penas)
- Pavão (adubo e penas)
Piscicultura
- Peixes (carne e adubo)
- Camarão (carne e
adubo)
Apicultura
- Meliponário (mel,
própolis e cera)
Minhocário
- Minhocas (Húmus)
Produção Cultural
- Artesanatos (Oficina de produção de artesanatos,
ferramentas e adereços)
- Teatro (Apresentações e produção de
eventos).
- Todo o sistema de produção e comercialização
será dentro da filosofia “tripartite” conforme definido estatutariamente e como
consta no Regimento interno da Associação Indígena Tekoá Portal Tupinambá.
Ajude manter o projeto...
Atualmente com a pandemia estamos limitados e,
por isso, nossas atividades mensais como a Feira da Mata, realizada todo último
domingo do mês, está suspensa, mas podendo retornar em agosto, com toda
precaução e obedecendo às normas sanitárias. Além disso, temos uma lojinha de
artesanato com produtos típicos da cultura indígena confeccionados pelos os moradores
da aldeia. Aproveitamos o momento para quem puder vir nos visitar que venha
conhecer a nossa aldeia. Estamos aptos e vacinados, temos o maior prazer em
recebê-los. Comprem nossos produtos, doem se assim puder ou sentir no coração.
Vivemos uma época muito delicada no âmbito econômico, está muito
difícil. Portanto, toda ajuda é muito bem-vinda!
Considerações
Quero agradecer a você Márcio Wesley e ao seu blog pela oportunidade de
expandir nossa história e nos fazer conhecidos através desse espaço que vem nos
beneficiando com seu maravilhoso trabalho. Suas informações culturais são enriquecedoras!
Agradecer a todos que desde o início contribuíram e contribuem para que esse
sonho se torne possível...
Informações
Portal Tupinambá
@aldeiatekoaportaltupinamba
Jornalista com MBA em Comunicação
e Semiótica na linguagem artística

Magnífica matéria. Terra a quem é da terra!!!
ResponderExcluirNão dá pra calar. Linda matéria! Voz a cultura, diversidade e ancestralidade com é típico de Márcio Wesley. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado amigos...
ResponderExcluirParabéns irmão pela.excelente matéria.salve os indígenas saravá aos Caboclos Tupinambás
ResponderExcluirObrigado Fuscão, você é especial. Uma referência cultural de nossa cidade.
ResponderExcluirExcelente texto, conheço o projeto Aldeia Tekoa e o Portal Tupinambás, fico contente com essa divulgação.
ResponderExcluirParabéns excelente materia Márcio, obrigada pela riqueza de informações, e agradecer tambem a Márcia Almeida - Aykrã Tupinambá, obrigada mesmo.
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