Rogério da SAMU: "a arte livra os jovens do mal"
Meu bate-papo é com um amigo das antigas, ou melhor, da velha guarda da música laurofreitense. Estou do falando do tecladista, técnico em enfermagem, bombeiro civil e socorrista Rogério Vieira, 51 anos, conhecido por todos aqui na cidade como ‘Rogério da SAMU’. “Cheguei em Lauro em 1977, com a minha mãe dona Alda. Ela iniciou a vida religiosa no terreiro de Balbino Daniel de Paula (Obarayn), moramos no terreiro por alguns anos, em Vila Praiana”, recorda Rogério. Próximo de completar 18 anos, decidiu ir morar na comunidade de Portão, por conta da facilidade do transporte até o Polo Petroquímico, onde trabalhava. “Em portão, fiz muitos amigos, sobretudo com a moçada ligada a música na década de 1990”, recorda com os olhos cheio de brilho. "Naquela época o município era um vulcão cultural com gincanas, festivais de música e o famoso Troféu Puã", fala com saudosismo de um período de efervescência cultural.
Movimento cultural
Na década de 1990 havia um
movimento cultural muito forte no município e nos quatro cantos da cidade a arte era robusta, a exemplo do compositor Nego Tenga, autor das
músicas “Brilho de Beleza” e “O negro segura a cabeça com a mão e chora", que
virou hit mundial. Com a explosão do
pagode baiano através do grupo Gera Samba, fonte de inspiração no país inteiro e aqui em nossa cidade, muitas bandas surgiram. Gostaria de destacar o grupo de pagode
Força de Elite e a histórica banda de axé Transacor, eles fizeram um grande sucesso e arrastaram multidões. Estudei música no Colégio Manoel Novaes, em Salvador, fiz oficina de
música na UFBA, toquei no Tapajós e em várias bandas.
Valores da Terra
Os Valores da Terra foi um projeto impactante na cultura de Lauro, juntando música, poesia, dança e outras linguagens da arte. Naquela
época a Secretaria de Cultura era atuante e gravava CDs coletâneas (Valores da Terra) com artistas do município, lançava livros de poesia e dava aporte para vários grupos culturais. Neste período tínhamos um calendário de eventos interessante e no
verão existia o “Projeto essa é a nossa praia”, que acontecia na orla com atividades
esportivas e culturais, além de shows de bandas locais, onde os artistas tinham
a oportunidade de mostrar o seu trabalho. Isso foi iniciado com o ex-secretário
de cultura Giuseppe Pipolo, o nosso amigo, Pepe. Seguido por Tabajara, que
continuou a jornada e o impulsionamento da cultura em nossa terra.
Saúde
Fui convidado para participar
de um processo seletivo para agente de endemias, no final da década de 1990, e foi
aí que começou minha trajetória na área da saúde. Trabalhei no Centro de Controle
de Zoonoses, onde aprendi muito sobre doenças relacionadas a cães, gatos e a outros animais. Alcançamos metas importantes como a vacinação casa a casa, controle da leishmaniose e da raiva. Passei oito anos neste trabalho.
Rogério da SAMU
Fiquei sabendo de um
programa que iria ser implantado na cidade, o SAMU 192, fiz o processo seletivo,
passei e foi uma mudança radical em minha vida, deixar de cuidar de animais para
cuidar de pessoas. Fiz vários cursos e capacitações, conheci outras cidades e outros
estados. Trabalhei com Paulo de Tarso, consultor do Ministério da Saúde e um
dos responsáveis pela criação do projeto. O SAMU abriu portas: trabalhei
no resgate da BR, Secretaria do Estado e no setor de urgência e emergência. Fui
convidado para coordenar o serviço aqui na minha cidade, Lauro de Freitas. E com uma parceria
com o Ministério da Saúde, renovamos toda a frota. Fizemos parceria com 911 Bombeiros (bombeiro civil) e começamos a promover vários cursos no SAMU, surgindo a ideia
de implantarmos o projeto Samuzinho, que foi um grande sucesso.
"O projeto alcançou mais de 12 mil crianças"
Samuzinho nas escolas
Esse projeto alcançou números incríveis, foram
mais de 12 mil crianças, alunos de escolas públicas e privadas do município. Ensinávamos
como, quando e porque acionar o serviço de emergência, já que o município tinha
um índice elevado de trotes passados por crianças. Esse projeto além de
promover e conscientizar, diminuiu consideravelmente os trotes.
Mudamos algumas realidades e prevenimos acidentes,
como por exemplo: a ingestão de desinfetantes que estavam em garrafas
pet, elas achavam que era algo para consumo. Brinquedos pequenos, moedas
na boca e dentre outras situações. O projeto também despertou nas crianças o
interesse de se tornarem profissionais da saúde: médicos, enfermeiros, condutores e socorristas.
Esse projeto foi pauta na mídia local, nos programas de TV e na Revista Emergência, de circulação nacional. Infelizmente o
projeto foi interrompido na mudança de gestão municipal, mas torcemos que volte
logo, assim que a pandemia der uma trégua.
Pandemia
Hoje trabalho no SAMU de Salvador,
na linha de frente dessa pandemia, nunca pensei em passar por um momento tão
difícil, a onde vivo os dois lados: um é de atendimento às pessoas com esse
vírus e o outro de observar pessoas persistindo em não usar
máscaras e sem tomar os devidos cuidados, realmente um absurdo. No início da pandemia a descriminação com
os profissionais da saúde era gigante, sofri na pele com os vizinhos, amigos e
parentes que não queriam nenhum tipo de contato comigo, pelo fato de estarmos
na linha de frente, mas graças a Deus a vacina chegou e irá chegar para todos.
"Estamos confiantes de que a vacina chegue para todos"
Considerações
finais
Que o nosso país aprenda, pois, não estávamos
preparados para este enfrentamento. Estamos confiantes de que os
profissionais da saúde, professores e artistas sejam valorizados em nosso Brasil.
A arte livra os jovens do caminho do mal. A arte movimenta o raciocínio, assim
como o esporte. E que possamos desenvolver cidadania, cultura e reativar o projeto Samuzinho.
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Linda história parabéns,sucesso.
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