Peri Rudá, “querem marionetes a serviço do sistema”

 

        "Fui chacoalhado por um envolvimento efetivo, eufórico e muito louco com a cultura"

 

A nossa entrevista é com o poeta e ator Peri Rudá, que completou 53 aninhos agora em maio, formado em contábeis e economia, com especialização em gestão pública. O nosso querido poeta mora em Lauro desde 2008, na paradisíaca Praia de Ipitanga. Procurando aprofundar-se nas artes, esta estudando Licenciatura em Teatro na UFBA. A paixão pela cultura sempre fez parte de sua vida, cresceu recitando o poema “À Capela do Almeida”, do poeta Castro Alves, hino da cidade baiana Conceição de Almeida, onde viveu. "Minha vida foi multicultural entre hinos evangélicos, micaretas, caruru de sete meninos, forró pé-de-serra e dentre outras coisitas mais, risos”, recorda com alegria do caldeirão cultural. Peri está à frente de um projeto massa, o portal “Laurocriativa”, que será lançado no próximo dia 18 de maio,  com o objetivo abarcar a cultura, memória e tradições da nossa gente.  

  

 

            "Me envolvi com a oficina de teatro do Polo de Atores de Lauro de Freitas"
 

Chamado cultural...

 

Foi recentemente que fui chacoalhado por um envolvimento efetivo, eufórico e muito louco com a cultura. Me envolvi com a oficina de teatro do Polo de Atores com Tobé Veloso, com quem não canso de aprender. Foi uma experiência muito intensa para nós dois. Uma mistura de sentimentos que não sei explicar. Daí a pouco estava eu fazendo performance de palhaço no Arena Circo Show de 2019. Fizemos quatro encenações em oficina, sendo que a última foi o golpe de misericórdia, interpretei Castro Alves, dividindo o palco com o grande poeta local, Vicente Lima, que no auge de seus 80 anos, segue esbanjando bom humor e irreverência. Estreitamos laços de amizade e no seu octogésimo aniversário,  estreei com a minha primeira poesia oficial, participando do seu Sarau da Chácara da Poesia, no fim de linha, aqui no centro.

 

 

Poesia...

Gosto muito do meu poema de estreia “À Vicente Lima” que escrevi em 05 de fevereiro, aniversário do poeta:

Em noite agitada de grandes surpresas

Jovem amizade me trouxe o destino

O que acontecia não tinha eu certeza

Garoto Vicente, poeta menino.

 

Com as palavras, precisão e destreza

Com as pessoas, educação e carinho

Sempre em gestos de estrema beleza

Nos faz livres, passarinho...

 

Assim Vicente, agradeço

Aqui! Na Chácara da Poesia!

Amigo, Feliz Aniversário! um abraço!

Saúde, paz e alegria

 

 

Meus filhos...

Uma grande motivação para mim é a relação com os meus filhos: Luan, um talentoso desenhista; Joel, dançarino incrível; Betinho, multi-instrumentista e o mais velho, Caique, me ensina tudo sobre redes sociais e está sempre me reportando a necessidade de profissionalizar as minhas experiências.

 

          Peri Rudá, Vicente Lima e Iracema Poti, no espetáculo em homenagem a Castro Alves   

 

Cultura na prática...

Ainda em tempos normais pude acompanhar Marcos Peralta, do Movimento Poetas Além das 7 Praças e Douglas de Almeida, do Bloco Lítero Carnavalesco Boca de Brasa, no cortejo do carnaval de 2020, no Pelourinho e na Mudança do Garcia. Muita energia poética-criativa.

 

             Cortejo Bloco Lítero Carnavalesco Boca de Brasa no Garcia
 

A pandemia...

 

Daí veio a pandemia e a necessária reclusão. Noites de sufoco, dias de agonia me levaram a escrever com frequência e passei a postar no Instagram @soldepoesia. Depois fizemos algumas lives com a colaboração de Iracema Poti e Zé Pituba. Numa dessas, veio a aproximação com Josy Luz, do Movimento Municipal de Luta pelas Pessoas com Deficiência e Idosos, que respondeu de imediato a minha sugestão de criarmos uma oficina de poesia inclusiva. O que vem ocorrendo às segundas e terças com PCDs (pessoas que possuem limitações permanentes com deficiência visual, auditiva, física ou intelectual) e idosos no campo virtual. E como eles mesmo dizem: “uma excelente terapia”! Trabalhamos todas possibilidades que vão surgindo: escrita, declamação, interpretação plástica, subjetiva de poemas, imagens, formas, expressões e artesanato. Sempre com liberdade para espantar a pressão, a depressão e a ansiedade.  

 

          Sarau na Chácara da Poesia na casa do poeta Vicente Lima 
 

Lauro Criativa...

 

Trata-se de um projeto muito bacana já existente na Paraíba, o www.paraibacriativa.com.br, concebido por um grande amigo, o professor Dr. André Piva, em um Programa de Extensão do curso de graduação em Turismo, do Centro de Comunicação e Artes da Universidade Federal da Paraíba, classificado pelos editais do PROEXT 2013, 2014, 2015 e 2016, do MEC, em um processo rigorosíssimo que classifica 20 projetos no país anualmente. Então, por aqui já dá para ver que é um trabalho sério. Alinhei a isso, o fato de um amigo ter mantido o projeto após cinco premiações seguidas, contando com mais de dois mil perfis culturais cadastrados de artistas, memórias, patrimônios tombados e outros. Essa também é a cara da Lauro Criativa, um portal que pretender e será colaborativo, tendo a participação efetiva de toda comunidade cultural que ele pretende evidenciar, catalogar, memoriar, divulgar e promover.

                         

                     Set de filmagem de Nina, aqui em Lauro de Freitas em 2019

 

 

O portal

 

Nesta perspectiva devem participar de nosso portal os artistas de forma geral, pessoas e entidades que promovam cultura, projetos culturais, artesãos, referências memoriais, registros de patrimônio histórico, tombamentos, historicidade, acontecimentos pitorescos, personalidades, manifestações populares e expressões eminentemente locais que carreguem as marcas de nossa comunidade, enfim, tudo que se relacione com a cultura de nossa terra.

                Oficina de poesia inclusiva no campo digital  

 

Lançamento

 

Estamos planejando nosso lançamento para ocorrer junto com as comemorações do Dia Internacional do Museu, em 18 de maio e não teria dia mais propício! Estamos mantendo um espaço informativo para o lançamento em https://laurocriativa.wixsite.com/lancamento/.

 

             "Falar da importância da cultura de Lauro de Freitas me deixa arrepiado"

A nossa cultura...

 

Falar da importância da cultura de um povo e desse lugar, me deixa arrepiado. Pois, vivemos constantemente ameaçados pela planificação que o liberalismo quer impor a cultura, isso no mundo todo. Querem marionetes, querem uma massa de trabalhadores a serviço do sistema. E tudo funciona para concretizar este objetivo. O que nos iguala? O que nos une? O que nos aproxima? As respostas a estas questões é que trazem a importância da cultura para nossa cidade. Preservar nossa cultura é preservar essa identidade. Não só preservar, é necessário urgentemente resgatar o que está se perdendo e se esquecendo. O registro das memórias é imprescindível. Reconstruir os rituais, mergulhar nesse processo de redescoberta, de descolonização para percebermos que não temos que estar a serviço do sistema. Temos é que entender quem somos, assumir quem somos, ritualizar, inspirar, perceber o que realmente precisamos, praticar o que somos e projetarmos o que queremos.

                  "Precisamos assumir nossa ancestralidade" 

  

Ancestralidade indígena...  

 

Retiraram nossos idiomas nativos e lá no “google translate” eu não consigo localizar qualquer idioma nativo de nossos ancestrais pele vermelha do qual sou descendente. Nossos ancestrais nativos indígenas sofreram todo este processo genocida e ainda sofrem. Precisamos assumir nossa ancestralidade indígena para entendermos quem somos e o que queremos, no mesmo caminho que os afrodescendentes experienciam em seus processos de resgate e preservação.

Uma cultura muito rica cada vez mais esquecida, seja a música, dança, arte  plumária, cestaria, cerâmica, tecelagem e a pintura corporal, sem falar em rituais e religiosidade. Acabamos de perder o mestre Balaeiro, que trabalhava na confecção de balaios e a cestaria é uma tradição indígena.

              "Os nossos povos indígenas foram assassinados e escorraçados" 

Os nativos indígenas foram muito mais vitimados. Assassinados, escorraçados e escravizados, isso precisa ser lembrado, falado e resgatado. Existe um silêncio estúpido nesta questão. A incorporação do índio à cultura ocidental se deu com o “apagamento” de sua cultura. E nós, descendentes, não buscamos este resgate. Particularmente estou neste processo!

Nossa gente é negra. Nossa gente é índia. Nossos rituais indígenas precisam de resgate também. Nossa cultura ancestral indígena precisa ser evidenciada, precisamos nos reconectar mais com a natureza e essa necessidade é ancestral, e antes de qualquer coisa, humana!

 

 

Considerações finais...

 

Meu dia-a-dia com Pituba Jr, sempre foi muito instigador porque meu irmão é um apaixonado pelo mundo da cultura, especialmente a música e nos projetos culturais, a gente sempre troca muitas ideias, a quem preciso reverenciar. A partir dessas experiências e aproximação com os nobres fazedores de cultura de Lauro de Freitas, foi natural, como o ilustre Professor Gildásio (guardião de nossa história); Itana Lima (contadora de estórias); Mestre Fuscão (Itinga); Mestra Aideê (Portão); Mestre Artêmio (Teatro Bambolê); Grã Mestre Sérgio (Capoeira); Mestre Alagunzo da Goméia (Alaká); Professor Airton Santos aqui de Ipitanga; Mestre Sombra (Capoeira) e agora mais um recentemente, o próprio Márcio Wesley (Jornalista) e tantos outros a quem não citei, registro meus agradecimentos, porque todos receberam muito bem nossa iniciativa, todos estão disponíveis para ajudar e isso não tem preço.

Márcio Wesley | DRT/BA 5469

Jornalista | MBA em Comunicação 

e Semiótica na linguagem artística |

Licenciando em História  

www.blogdomarciowesley.com.br