Mestre Artêmio: “precisamos de gestores sensíveis”
Por Márcio Wesley
A nossa conversa é com
um amigo de infância e de toda uma vida, Artêmio da Luz, fomos contemporâneos
da pastoral da juventude e dos movimentos de grupos de jovens da Paróquia Santo
Amaro de Ipitanga. Fizemos parte de uma geração interessante onde o pluralismo
multicultural era peça integrante do arcabouço religioso. Os grupos de jovens
eram pujantes em todo o município, além de construírem um caminho à vida cristã
e litúrgica, suscitavam a importância de pertencimento comunitário,
solidariedade e amor as nossas raízes. Se fizermos uma breve pesquisa notaremos
que muitos produtores e artistas da nossa faixa etária aqui de Lauro de
Freitas, passaram pelas dinâmicas dos grupos de jovens. Recordação massa,
quanta saudade... Enfim, vamos seguir o nosso trem com ele, o nosso passageiro iluminado,
um lutador das tradições e memória da nossa terra, com vocês mestre Artêmio da Luz,
idealizador do Grupo Cultural Bambolê, Patrimônio Cultural e Imaterial de Lauro
de Freitas.
De onde veio suas inspirações culturais?
Da minha família e principalmente do meu pai, Seu Lindão! Desde criança até hoje o povo diz: esse menino tem as mesmas artes do pai. Tive a herança de saberes familiares, no cotidiano em Lauro de Freitas e do dom que vem de Deus. Minha mãe sempre fez questão de que participássemos das atividades culturais e religiosas da Igreja Católica, na Paróquia Santo Amaro de Ipitanga e através dos grupos de jovens foi onde despertou ainda mais o interesse na busca de conhecer e preservar a nossa identidade e tradições.
A paixão pela cultura popular...
Realmente é uma paixão, faço isto por amor! Tudo aquilo que você desenvolve com amor terá um ótimo resultado. Desde criança gostava de conversar com os mais velhos, ficava muito tempo ouvido meus avós que diziam como era o município antigamente. Depois fui em busca de mais informações com outros idosos, inclusive alguns já se foram. Ainda hoje procuro escutar os nossos mestres e mestras. Inclusive temos uma modalidade no grupo chamada de ‘Resgate Popular’ que tem a finalidade de compartilhar com os jovens tudo aquilo que aprendi com os nossos mestres. Além dos trabalhos de pesquisa e produção cultural que fazemos, o Bambolê confecciona e costura a maior parte dos figurinos e adereços. Temos uma pequena oficina para construção de pernas de paus, temos máquina de costura e uma pequena biblioteca, que chamamos carinhosamente de museu. É importante sabermos as nossas origens para não virarmos um “Zé Ninguém”, ou seja, uma pessoa que não conhece nada da nossa história e tradições. Vou te contar, uma pessoa sem identidade não deve viver bem, mas uma pessoa com identidade vive feliz e realizado. Sou grato a Deus neste sentido, sou feliz e realizado com tudo que já fiz. E temos muito por fazer, trabalhar com cultura não é fácil, os desafios são enormes, mas estamos firmes e fortes nesta jornada.
O Bambolê fará 22 anos no dia 15 de fevereiro (2022) e ao longo destes anos trabalhamos em inúmeras produções a exemplo do Auto de Natal; Caminhadas Culturais aqui e em vários municípios da Bahia; eventos no ‘Arraiá da Capitá’ no Parque de Exposições de Salvador; Pelourinho; Arena Circo Comunidade, realizado na praça da Matriz; apresentações teatrais; festivais de dança e participação no Fuzuê durante o pré-carnaval de Salvador em fevereiro, antes da pandemia. Participamos também de vários festejos aqui no nosso município como: desfiles cívicos, culturais, blocos juninos Arrasta Jegue e Tradição Chapéu & Gravata. E durante o carnaval da cidade no bloco ‘Som na Mala’ e a Tradição dos Mascarados. Já fomos homenageados em um lindíssimo livro produzido pela Escola Tia Lúcia, “Memórias e representações de Artêmio da Luz”. Graça a Deus o legado é grande. Mais de cinco mil alunos passaram pelo grupo, temos atualmente mais de 50 professores formados em atividades diversas, trabalhando como arte-educadores em escolas públicas e privadas, animadores de festas e em outros segmentos artísticos.
Quais as atividades que o grupo desenvolve?
Desenvolvemos atividades de arte circense, dança, resgate da cultura popular e teatro. Antes da pandemia tínhamos 110 componentes, mas, não sei como vai ser a volta. Dia 16 de março de 2021 vamos fazer um ano com as nossas atividades paradas. Desenvolvemos alguns trabalhos remotos, mas a cada dia vai diminuindo o número de participantes. O futuro depende da vacina e principalmente de Deus. Antes da pandemia o grupo se reunia na Escola Municipal da Vila Praiana, todos os sábados das 14 às 17hs e para entrar no grupo bastava estar estudando e ir acompanhando de um responsável, era assim.
Considerações finais...
Gostaria de agradecer pelo convite e reiterar a nossa luta pela preservação das tradições e memória da nossa cidade. Como já falei anteriormente, é preciso amor e muita dedicação, porque trabalhar com cultura não é fácil, mas é prazeroso e apaixonante. Entretanto, precisamos de gestores mais sensíveis e conselheiros com sabedoria pela real identidade da cidade. E que façam mais investimentos na área cultural e saibam diferenciar cultura, lazer e eventos.
Márcio Wesley | DRT/BA 5469
Parabéns amigo Márcio por estar sempre resgatando a nossa história e valorizando os fomentadores da nossa arte no município . Ao nosso mestre Artemio Luz ,fica aqui nosso agradecimento pelo belo trabalho, pela força e perseverança em manter nossas tradicoes Culturais respirando nesta bolha de incompetência dos gestores da nossa linda Lauro de Freitas .Forte abraço .
ResponderExcluirParabéns pela materia. Sempre certeiro nas escolhas dos homenadiados e nas palavras que saem como um belo papo entre amigos, isso nos faz semtir parte desses momentos.
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