Sivú Resistência: arte como herança ancestral

Por Márcio Wesley 

Ancestralidade africana são as suas marcas,

ele assinava suas obras como Sivú Arts   

Entre os grandes artistas que marcaram a história cultural de Lauro de Freitas e da Bahia, Sivú Resistência ocupa um lugar especial. Suas obras profundamente enraizada na ancestralidade africana, são reveladas em telas vibrantes e em peças esculpidas a partir de materiais recicláveis. Em vida, dedicou-se à criação artística com uma devoção inigualável. Me falou certa vez, "Márcio, essas pinturas são referências da minha ancestralidade."

Com uma trajetória singular, Sivú realizou poucas exposições, mas sua arte possui um valor inestimável. Muitas de suas obras foram doadas por ele (em vida) a órgãos públicos, como o Cine Teatro de Lauro de Freitas e a Secretaria de Cultura do município. 

Esperamos que essas instituições protejam esse acervo, garantindo que as futuras gerações conheçam e valorizem o legado do nosso eterno mestre. 

Tive a honra de entrevistá-lo quando ele tinha 63 anos. Essa conversa, além de revelar sua genialidade artística, reafirma sua luta pela valorização da arte em Lauro de Freitas. 

 

Mestre Sivú uma referência em Lauro de Freitas   

Arte na reciclagem

Sivú também se destacou por transformar o que muitos descartavam em arte. Para ele, tudo ao redor podia ser reaproveitado e ressignificado. "Adoro transformar o que era lixo em coisas reaproveitáveis. Tudo pode ser transformado", afirmava o artista. 

Na Bahia, existe uma expressão popular para quem tem o dom de criar com as próprias mãos: "eu não como reggae", disse Sivú sorrindo. Ele era exatamente assim, transformava pedra em arte, madeira em poesia visual, materiais simples em expressões de resistência.

Faço um pouco de tudo: pinturas em tela, isopor, pano, termolina, divisórias de escritório, cerâmica, bustos masculino e feminino, lona, madeira, vidro, metal, ferro, pedras e muito mais... 

 

Seu talento ia além da técnica, pois carregava uma mensagem, "a arte pode surgir de qualquer lugar, basta ter sensibilidade para enxergar", expressou Sivú.  

 

 

Valorizar nossos artistas

 

Os artistas não apenas encantam com suas criações, mas também compartilham emoções, resgatam memórias e fazem da arte um meio de sobrevivência e resistência. Sivú Arts ou Sivú Resistência, como era conhecido entre os amigos, fez isso durante toda a sua vida. 

Suas telas carregadas de referências da mãe África, são um lembrete de quem somos e de onde viemos. Seu trabalho não apenas nos inspira, mas também alerta sobre a necessidade de reconhecermos e preservarmos nossa identidade cultural. 

Infelizmente, como acontece com muitos artistas populares, Sivú nunca recebeu o devido reconhecimento das instituições culturais e das gestões públicas ao longo de sua vida. Mas suas obras permanecem vivas e mantendo seu espírito criativo entre nós.

 

 Agradecimentos de Sivú

 

Durante a entrevista, Sivú fez questão de expressar sua gratidão, "eu quero agradecer primeiramente a Deus e a todos os Orixás pela minha trajetória e resgate. Aos amigos Beto Rasta, Débora Fontes, Francisco Santos, Negro Walter, Dorinho e Robertinho do Abalaxe de Ori. Ao Malê Debalê, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Olodum, Naga Zumby, Ojú Obá, Muzenza, Oyá Olodé, Tiete Vips e tantos outros."

 

                                

Sivú, sua arte vive entre nós

 

Sivú nos deixou, mas sua ausência é sentida profundamente até hoje entre nós. Sua arte, porém, continua nos impressionando. Enquanto viveu, foi pouco valorizado pelas organizações culturais e pelas gestões públicas ao longo de sua vida. Mas, como todo mestre, seu legado transcende o tempo. Que sua obra continue inspirando e que sua resistência siga presente em cada traço, cada cor e cada forma que ele nos deixou.

Até breve, amigo.

 

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 Márcio Wesley | DRT/BA 5469

 Jornalista - bacharelado | MBA em Comunicação | Licenciado em Artes 

 www.blogdomarciowesley.com.br