Bago de Jazz: homenagem ao saxofonista Nivaldo Cerqueira

Levy Maia (sax e flauta), Márcio Wesley (bateria), Alan Moraes (baixo)

 e Luciano Pinto (teclado) 

Estou ouvindo “All the things you are”, com imensa saudade do nosso mestre Nivaldo Cerqueira, que nos deixou repentinamente no dia 12 de dezembro de 2019. Um infarto fulminante calou o sax de um gênio!  A voz do Bago de Jazz, a nossa inspiração foi para o céu. Até hoje é difícil de acreditar, mas ele nunca saíra das nossas vidas. Todos os dias lembramos dele e das suas histórias humoradas. Tivemos a honra de conviver com um sábio de espírito musical elevado, que compartilhou conosco muito além de notas e improvisos celestiais.

Sua humildade, paciência, criatividade, técnica, desprendimento, alegria e paixão pela música era notável. Niva, como chamávamos carinhosamente, também se destacava como compositor. Inúmeras vezes compunha minutos antes de tocarmos, cifrava o tema em um guardanapo ou pedaço de papel e passava adiante, simples assim. Desse modo nasceu a música “Alegria”, que intitula o nosso primeiro álbum.    

Certa vez, durante um dos nossos shows, ele improvisou majestosamente (como de costume) em “Fly me to the moon” e passou a bola para o baixista Alan Moraes, que emendou um belíssimo solo, aproveitando a generosa deixa do mestre. Nivaldo chegou perto e disse-me: “Marcio, o Bago está prolongando a minha vida”! Eu estava de olhos fechados em uma espécie de “transe musical” deslizando as vassourinhas em um vai e vem terapêutico, mantendo o ritmo com a harmonia arrebatadora do nosso tecladista Luciano Pinto, que afagava acordes iluminados para Alan viajar. Abrir os olhos lentamente, sorri e respondi, “Niva, vamos ficar velhinhos fazendo isso meu amigo”. E sorrimos juntos! Mas para a nossa tristeza chegou o dia do nosso mestre, que era fã de Parker, que faleceu no dia 12 de março de 1955, subitamente, assim como Nivaldo.

Nivaldo Cerqueira, saudade de seus doces e celestiais improvisos  

Foi natural a vinda do jovem e talentoso saxofonista e flautista Levy Maia, que sempre substituía Niva quando não podia tocar conosco. Levy é um pesquisador apaixonado por jazz e conta com orgulho, “eu era pequeno e ficava admirando ele tocando em Irará. Nivaldo era um músico genial, um dos melhores saxofonistas que conheci, um ser humano incrível, um grande amigo e mestre”, descreve emocionado. Levy está conosco levando o projeto adiante com sua admirável aptidão musical. Encerro meu texto ouvindo “My little suede shoes”, na certeza de que iremos continuar a labuta com a positividade e benção do nosso eterno professor.  Uma coisa é certa, um dia iremos nos encontrar...      

             

Bago de Jazz – tem dois álbuns “Alegria” e “Sucessos da Lapa”, ambos disponíveis nas plataformas digitais. Agenda, fotos e vídeos nas redes sociais do grupo.

Por Márcio Wesley – jornalista e músico do Bago de Jazz
*Este texto foi publicado na Revista Vilas Magazine, março de 
2020, página 27.